Após assistir ao filme “Hans
Staden” (https://www.youtube.com/watch?v=xBztbsC8WU8),
fascinado por este personagem inacreditável, corri para pesquisar mais sobre
ele e descobri muita literatura sobre sua vida, até mesmo uma adaptação infanto-juvenil
de Monteiro Lobato ambientada no seu Sítio do Pica-pau Amarelo.
A “Viagem ao Brasil”, escrito
pelo próprio Hans e publicado em 1557 (dois anos após sua viagem ao Brasil)
narra as aventuras desse cristão desde sua saída do Velho Continente até seu
regresso. O filme cobre do capítulo 17 até o capítulo 51 do livro. E, após ler
o livro, fica-se com aquela velha certeza que o livro é bem melhor do que a
adaptação feita para o cinema, embora o filme tenha muitas qualidades, entre
elas, ser quase todo falado em Tupi e mostrar costumes, danças e músicas
indígenas. Mas, por exemplo, também peca por introduzir coisas que simplesmente
não foram narradas por Hans (pelo menos não neste livro, pode ser que ele tenha
escrito outras narrativas, não sei).
Por que fui assistir ao filme que
me levou ao livro? Ao que tudo indica, ano que vem, estarei trabalhando com
povos de culturas e línguas bem diferentes das quais trabalhei anteriormente no
Xingu. Trabalhei com línguas da família karib. Estas são línguas, cuja família
não apresentam características suficientes nem para pertencer ao Tronco Tupi e
nem ao Macro-jê (ver https://pib.socioambiental.org/pt/c/no-brasil-atual/linguas/troncos-e-familias), são bem diferentes da que vamos trabalhar.
A língua com a qual
trabalharemos a partir do ano que vem pertence ao tronco Tupi, que é o mesmo
tronco ao qual pertence a língua com que Hans Staden entrou em contato no
Brasil. Como começamos a estudar a língua Kaiowá/Guarani, isso me levou ao
filme, que me levou ao livro. Contudo, ouvindo o filme e lendo o livro, surpreendi-me com a existência de morfemas e palavras semelhantes e até de
mesma função morfológica que vi nas línguas karib. Tudo isso para mim é muito fascinante!
O livro de Hans vale sua leitura
por várias razões:
1) A
narrativa é muito prazerosa e dinâmica;
2) Hans
é um cristão sincero, alvo da misericórdia e providência divinas;
3) O
livro foi escrito para glorificar a Deus pelo livramento de Hans;
4) É
um dos documentos históricos mais antigos sobre o Brasil;
5) Não
sei como está em outras edições, mas a edição que eu li possui 3 características
sensacionais. A primeira é a apresentação interessantíssima feita pelo amigo do
pai de Hans, que também corrigiu o manuscrito original; a segunda é que a minha
edição está escrita num português de 1900 e, para um amante da filologia como eu, é
simplesmente um charme à parte ler “sahir”, “assucar”, “commigo”, etc; e, por
fim, e o melhor, é que as notas de rodapé culturais e linguísticas são de uma
preciosidade ímpar! Estamos habituados a saber que há em nossa língua muitas
palavras indígenas, mas o autor das notas de rodapé, além de restaurar a grafia
do Tupi de Hans Staden, vai traduzindo as palavras. Uma deliciosa aula!
Por tudo isso,
deixo aqui o link da edição que eu li: https://tendimag.files.wordpress.com/2012/12/hans-staden-viagem-ao-brasil-1930.pdf
Boa leitura!
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