Herman Melville
Editora Rocco
96 Páginas
"Idealizada por Fernando Sabino, a coleção Novelas Imortais – que a Rocco relança com novo e ousado projeto gráfico, agora pelo selo Rocco Jovens Leitores – reúne narrativas breves de autores de grandes clássicos universais, como Miguel de Cervantes, Herman Melville, R. L. Stevenson, Gustave Flaubert, Henry James, entre outros. São pequenas obras-primas da literatura selecionadas e apresentadas pelo escritor mineiro que voltam às prateleiras com o objetivo de difundir obras menos conhecidas, mas não menos geniais de grandes escritores, agora ao alcance dos jovens brasileiros. Autor de Moby Dick, ou a baleia branca, seu livro mais conhecido, e de várias outras obras de ficção importantes, mas consideradas demasiado intensas por seus contemporâneos, Herman Melville (1819-1891) é também o criador da emblemática novela Bartleby, o escriturário, que conta a história de um escrivão que se recusa a fazer os trabalhos solicitados pelo patrão, menos por desobediência ou insubordinação que por hábito, com a simples justificativa “Prefiro não”. O posicionamento de Bartleby, que subverte a ordem das coisas e mergulha num estado crescente de abulia e alienação que tem a morte como único desfecho possível, e a curiosa reação de seu superior, que não o demite, desconcertam o leitor e o levam a uma profunda reflexão."
Um comentário:
Bartleby é uma novela curta, escrita por Melville, anonimamente, em 1853, e posteriormente incluída na coleção "Os contos da Piazza", de 1856.
A primeira impressão que me veio à mente foi a alusão ao estilo absurdo popularizado por Kafka, em especial no livro "O Processo". A história é insólita, absurda, niilista, existencialista, como precursora de todos esses estilos que ganhariam a dimensão artística (e de certa forma popularidade) no século seguinte.
Bartleby é um escrivão circunspecto, introspectivo, silencioso, um homem sem carisma, empatia, e, para o mundo em que vivia, um homem sem sentido. Trabalhando em um escritório de advocacia, onde é um copista, dedicando-se silenciosamente à sua função, em meio ao furor matinal de Nippers e ao mesmo furor diuturno de Turquey, dois dos três colegas de trabalho, e à simpatia inexplicável do seu patrão, o narrador, que não tem o nome citado em nenhum momento, se não me engano.
Bartleby sucumbe à sua inaptidão à vida, não somente ao ambiente de trabalho, mas no relacionamento com as pessoas e consigo mesmo. Parece interagir visualmente apenas com o vazio, numa busca irracional de sentido, à medida que vê, passo a passo, tudo ao seu redor perder significado.
Se inicialmente era dedicado aos seus afazeres profissionais, chegará o momento em que se recusará a fazê-los, sem explicação, sem motivos, sintetizada na expressão: "não gostaria de fazê-lo". E por isso, não o faz.
A indignação do patrão se transformaria em compaixão (e o apelo à fé cristã, e aos ensinamentos de Cristo são a justificativa para não reagir à indignação patronal na medida do desprezo funcional de Bartleby, em não cumprir suas prerrogativas... Há até mesmo alusões à doutrina da Predestinação e da Providência). Mas não contarei outros detalhes, para deixar o desejo do futuro leitor aguçado, até porque, mesmo para os nossos tempos, em que as leituras rápidas e rasteiras são cada vez mais apreciadas (na proporção em que se lê cada vez menos e menos e mal), a novela é curtíssima, e não será impeditiva a nenhum preguiçoso, se o ócio não dominá-lo por completo.
Outro ponto a se ressaltar é a narrativa cômica, irônica, e, as vezes, sarcástica, tornando-a ainda mais agradável e ágil.
Em suma, é um outro lado de Melville, ainda que alguns desses elementos estivessem presente em Moby Dick, livro lançado e publicado alguns anos antes (e até agora a única obra lida do autor), revelando as muitas possibilidades de narrativa e escrita de um grande escritor.
Leia e se delicie com o escriturário, ou escrevente, de Wall Street.
Recomendado.
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