Mulher no Escuro (*)









Dashiell Hammett
L&PM Edições
104 Páginas



"Numa noite escura, uma jovem mulher surge do nada, assustada e ferida, buscando refúgio em uma casa isolada. O homem que ali mora a acolhe, mas ele não está preparado para lidar com a misteriosa desconhecida, nem com os homens que a perseguem."


Um comentário:

Jorge Fernandes Isah disse...

Este é mais um livro no estilo "noir", com elementos típicos: protagonista macho alpha, ex-presidiário, acusado injustamente, perseguido por bandidos e policiais; mulher linda, desejada, não-disponível e com tendências a participar do crime organizado, circundada por cafetões, larápios e bandidos pés-de-chinelo, resumindo, uma femme-fatale típica; polícia inepta e corrupta, displicente e venal; um enredo óbvio, quase banal, sem psicologismos e profundidade na construção dos personagens; um final feliz ou quase feliz; linguagem crua, beirando ao vulgar. Temos então, "A mulher no escuro".

Dashiell Hammett escreveu um livro bom, dentre os que já li: “O falcão maltês”. Tudo o que descrevi acima está presente lá, em menor proporção, mas está lá. A diferença é que os personagens são muito melhores construídos, delineados, e em maior número; a trama tem a complexidade necessária para que ocorram reviravoltas e surpresas de verdade, em que as amarras são devidamente atadas. "O Falcão Maltês" é um noir “intermediário”, enquanto "A mulher no Escuro" seria de “entrada”, se pudermos transpor o universo dos smartphones e tablets para a literatura, algo equivalente a comparar um Motorola novo com um Positivo ou Alcatel usado.

Especificamente, “A Mulher no Escuro”, não é um livro detestável, mas está longe de ser mediano. Ficaria entre o ruim e o regular, algo para se ler e esquecer; pude mesmo sentir um certo tédio em boa parte da leitura, e um desinteresse em outra boa parte. A história não convence, ao menos, não me convenceu, especialmente pela forçosa “áurea” de bonzinhos imputada aos bandidos “pobres” ou inexpressivos, como se fossem bandidos de mentirinha, ao passo que os verdadeiros estão nos altos escalões, entre os ricos e abastados, entre as autoridades e governantes. Aqueles praticam o crime por necessidade, estes pelo amor ao poder, a ganância e a maldade (como se qualquer crime não tivesse o mal e a cobiça como incitadores). No “Falcão Maltês” este viés sociológico não se evidencia ou é posto às claras, enquanto, por aqui, é escancarado, explícito.

Para culminar, um final “previsivelmente previsível”, anunciado ainda no primeiro capítulo.

Por essas e outras, prefiro os livros do Chandler, quando o gênero é noir americano.

De resto, poderia concluir que “A mulher no escuro” é uma sombra distanciando-se, e distanciando-se, cada vez no limiar do esquecimento.

Após a leitura, classificarei os livros assim:
Péssimo [0] Ruim [*] Regular [**] Bom [***] Muito Bom [****] Excelente [*****]