A Guerra do Paraguai [***]







Luiz Octavio de Lima
Editora Planeta
448 Páginas




"Um épico latino-americano de interesse universal. Maior confronto armado da história da América do Sul, a Guerra do Paraguai é uma página desbotada na memória do povo brasileiro. Passados quase 150 anos das últimas batalhas deste conflito sangrento que envolveu Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai, o tema se apequenou nos livros didáticos e se restringiu às discussões acadêmicas. Neste livro, fruto de pesquisas históricas rigorosas, mas escrito com o ritmo de uma grande reportagem, o leitor poderá se transportar para o palco dos acontecimentos e acompanhar de perto a grande e trágica aventura que deixou marcas profundas no continente sul-americano."

Um comentário:

Jorge Fernandes Isah disse...

Todos já ouvimos falar da Guerra do Paraguai. Seja nos bancos escolares, em séries televisivas, em debates ou discussões sobre o assunto. Na verdade, existe muita lenda, má-informação, e detalhes que são divulgados sobre um viés ideológico, de que houve um massacre da Tríplice Aliança ao pacífico e amoroso povo paraguaio. Livros escolares do MEC, acadêmicos, dissertações ou monografias tecem loas ao Paraguai de Solano Lopes, bem como ao seu ditador, e esquecem-se da real motivação que o levou à guerra, e dos atos bárbaros impetrados aos inimigos, mas também ao seu próprio povo, inclusive aliados e familiares.
A guerra, sabemos, é uma terra assolada, de ninguém. Buscar uma moral elevada, compreensão, ou atitudes racionais, é delírio. Guerra é guerra; e, via de regra, vai demonstrar o poderio e a capacidade de um dominar, humilhar e aniquilar o adversário. Não há ética, nem compaixão, na maioria das vezes. Infelizmente, algumas guerras são necessárias.
Tudo começou com o Paraguai aprisionando a tripulação e carga do navio brasileiro “Marquês de Olinda”, seguida da invasão ao Mato Grosso. Estava deflagrada a guerra, e Solano Lopes queria construir o “Grande Paraguai”, aumentando substancialmente o seu território, anexando terras brasileiras, uruguaias e argentinas, tendo acesso ao mar, e controlando completamente a navegação no Rio Paraguai e estuário do Prata.
Ela iniciou-se em 1864, e durante seis anos, matou milhares de soldados de ambos os lados: paraguaios, e os pertencentes à Tríplice Aliança: brasileiros, argentinos e uruguaios.
Solano sucedeu o seu pai no poder, após a morte deste, e conduziu com mão-de-ferro e terror os seus anos de governo. Não escapou do fuzilamento nem mesmo o seu irmão mais novo, acusado de traição. Outros tantos aliados de Lopez também tiveram o mesmo destino, sucumbindo à paranoia do caudilho.
Se no final dos anos 1800, e até o primeiro terço do século XX, Lopez era tido como ditador, tirano e traidor da nação Guarani; no decorrer dos anos que se seguiram, foi alçado, pela narrativa esquerdista (especialmente nos anos da guerra-fria), à categoria de herói máximo paraguaio. De pústula e oportunista e assassino covarde, alcançou o status de herói nacional hoje, insuflado pelo discurso vitimista de que ele apenas se defendera à investida da Tríplice Aliança, em conluio e patrocinada pela Inglaterra (os registros históricos demonstram a falsidade dessa afirmação). Os delírios megalomaníacos de Lopez, em se tornar um “Napoleão Latino”, são minimizados, arrefecidos, diante da falsa narrativa de que ele reagiu ao ataque do Império (Brasil), a maior potência econômica, militar e industrial da América do Sul, quando a ação primeira a motivar o conflito foi o seu sonho expansionista. Tirar dele a responsabilidade por essa guerra é tapar o sol com a peneira.
Falando um pouco do livro, em si, e não da história, o autor revela detalhes dos momentos anteriores à guerra, um resumo da vida de Solano Lopez, suas viagens à Europa, a união com uma cortesã francesa, seus conflitos familiares, políticos, governamentais, delírios, e a maneira que conduziu o Paraguai à quase aniquilação.
Luiz Otávio de Lima descreve a sequência de batalhas, seus personagens mais ilustres, e o desenrolar dessa tragédia, através de uma narrativa fluída e simples. Os vários documentos citados confirmam os argumentos expostos no livro, buscando o foco nos fatos, nas fontes primárias, preocupado em descrever com o máximo de fidelidade todo o evento e seus desdobramentos. Cuidadoso em privilegiar a pesquisa ao invés de construir uma narrativa ideológica.
Com isso, o livro, pode ser o ponto de partida para se aventurar, e aprofundar-se, no estudo dessa guerra que foi a maior e mais destrutiva em nosso continente; revelando o lado verdadeiro e sombrio da história, tão distante do revisionismo acadêmico vigente nos últimos cinquenta, sessenta anos, desejoso de fazer da guerra mesquinha um grito de liberdade, e do tirano, déspota, um herói.

Após a leitura, classificarei os livros assim:
Péssimo [0] Ruim [*] Regular [**] Bom [***] Muito Bom [****] Excelente [*****]