Friedrich Dürrenmatt
L&PM Pocket
108 Páginas
"Em uma cidadezinha suíça, um policial exemplar é encontrado morto. Bärlach, um velho e doente comissário, amante de cigarros, de vodca e da boa mesa, investiga essa morte – ao mesmo tempo em que luta contra a sua própria, que parece cada vez mais próxima. Enquanto a polícia se vê às voltas com figurões locais, oficiais oportunistas tentam subir na carreira, e Bärlach faz as suas arriscadas jogadas. Na sombra, o assassino, um tipo maquiavélico, disserta sobre o bem e o mal, que ele considera possibilidades iguais...
Tendo como mote principal uma intriga policial, O juiz e seu carrasco, uma das obras mais conhecidas do escritor suíço Friedrich Dürrenmatt (1921-1990), trata, na verdade, num tom sarcástico, da tragédia da morte e da doença, da risível comédia humana. Uma pequena obra-prima à altura dos mestres Dashiell Hammett, Rex Stout, Raymond Chandler e Georges Simenon."
Um comentário:
Este livro me caiu no colo, quase por acaso. Estava procurando algumas novelas policiais, já Cormac McCarthy está me consumindo com o seu “Meridiano de Sangue”, pensei em ler algo, digamos, mais leve. E gostei do título: O Juiz e o seu carrasco. Procurei um exemplar físico, mas encontrei apenas na Estante Virtual, então optei por comprar o ebook na Amazon. E o livro me surpreendeu. Uma história curta, pouco mais de noventa páginas, trouxe mais surpresas do que muito calhamaço famoso por aí. Dürrenmatt é pouco conhecido no Brasil. Praticamente, a sua única obra traduzida para o português é esta.
O assassinato de um policial é o mote para a vingança do inspetor Bärlach, que aguarda há 30 anos concretizar-se. A narrativa é fluída, simples, e reverencia o gênero “noir”, com um policial solitário, enigmático, que vara as noites insone ou cruzando as ruas e estradas atrás das pistas a desvendarem o crime. Para complicar, Bärlach é um velho, sexagenário e doente. Mas nada o impede de traçar um plano para finalmente vingar-se e ainda solucionar o crime. A luta que ele trava com o seu oponente é mais ou menos a batalha entre Davi e o Golias, sem que evoque o nome de Deus. Bärlach não tem amigos, mas uma grande lista de inimigos e desafetos.
Pouco depois da metade do livro dá para deduzir quem é o verdadeiro criminoso, se houver a atenção devida na narrativa. Não é surpreendente, mas está em perfeita harmonia com as dicas e “deixas” colocadas pelo autor.
Questionamentos sobre a justiça, seu significado em um mundo injusto, onde facínoras vivem ostensivamente no glamour, seguros da impunidade e perpetuação dos seus malefícios, levam o protagonista a descrer que ela possa se realizar “oficialmente”, restando-lhe trazê-la à realidade de maneira informal, porém, minuciosamente planejado.
Em meio à sua luta por justiça, ou vingança, ele lutará pela vida, e guardará cada momento de lucidez no esforço (mais físico que intelectual) de levar a cabo o seu projeto.
O Juiz e o seu Carrasco foi uma grata surpresa, não necessariamente por sua história que, se não é banal não é também original. Vale as muitas reflexões sobre a vida, os objetivos e o desenrolar de uma obsessão por justiça, como se fosse realmente um juiz, e poder-se entregar definitivamente ao seu carrasco, e esperar ser retirado deste mundo, no golpe fatal da foice, do algoz de todo homem.
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