Cormac McCarthy
Alfaguara
352 Páginas
"Meridiano de sangue é um romance épico. Nele, McCarthy reinventa a mitologia do Oeste americano para criar uma obra ao mesmo tempo grandiosa e arrebatadora sobre uma terra sem lei, em que o absurdo e a alucinação se sobrepõem à realidade. Desde as primeiras páginas, o leitor acompanha um rapaz sem nome e sem família, abandonado à própria sorte num mundo brutal em que, para sobreviver, precisa ser tão ou mais violento que seus inimigos. Recrutado por uma companhia de mercenários a serviço de governantes locais, atravessa regiões desérticas entre o México e o Texas com a missão de matar o maior número possível de índios e trazer de volta seus escalpos. McCarthy parte de fatos reais - a caçada aos índios, o destacamento de assassinos liderado pelo sanguinário John Joel Glanton - para compor uma obra que transcende a mera ficção histórica. Conduzidos por Glanton e o juiz Holden - uma figura quase sobrenatural, e um dos grandes personagens da literatura americana no século XX -, esses homens, que julgam já terem visto todos os horrores possíveis, irão aos poucos se aprofundar no verdadeiro inferno."
Um comentário:
Este é o terceiro livro de Cormac que estou lendo. Em relação a "Onde os velhos não têm vez" e "A Estrada", noto grandes diferenças. Se a primeira história tinha todos os elementos presentes em "Meridiano", aquele se parecia mais com um enredo, digamos, comum (sabendo que nenhuma narrativa de Cormac pode ser considerado comum, no sentido mais... comum do termo), e "Estrada" é mais otimista, ainda que em um cenário apocalíptico.
Mas em todos, temos a linguagem crua e nua, sucinta, seca, mesmo na multidão de palavras; frases inteiras sem pausa, vírgulas, escritas sem descanso; descrições de eventos e pessoas que compõem a escória da humanidade; e os que a ela não pertencem, assistem passivas se configurarem os mais escabrosos e cruéis.
Não há psicologismos, nem se faz conhecer os personagens pelo que pensam, por suas elucubrações, mas pelos seus atos, ações, pois elas falam por si e por eles. Não se sabe de remorsos, arrependimentos, temores, dúvidas ou aflições, mas apenas aquilo que fazem, como agem, normalmente de maneira indiferente, bruta, impiedosa. Não existe espaço para a bondade ou companheirismo. Apenas a sobrevivência a qualquer custo e o poder acima de tudo. Mortes, assassinatos pelos motivos mais banais: um olhar atravessado ou uma zombaria, faz com que o sangue não seja o final, mas o meio de subsistência dos vencedores.
O enredo deste livro se passa em meados do século XIX. O cenário: o velho-oeste americano, mais especificamente, na fronteira com o México, para aonde os EUA se expandia.
Mesmo concluindo apenas 40% do livro, posso garantir que este é um dos mais, senão, o mais violento que li. As atrocidades cometidas pela “criatura” de Mary Shelley, nem de longe ameaçam o pódio de Meridiano, como um livro sanguinário entre os bárbaros. Portanto, não poderia ser escolhido um título melhor: Blood Meridian, um meridiano banhado em cor vermelha escarlate.
O protagonista "Kid", um jovem sem destino, se vê acoplado ao bando de mercenários que foi dizimado pelos índios. Kid sobrevive e se junta ao bando de outro mercenário "Glanton", que também caça escalpos. Eles vendem seus serviços para dizimar grupos e povoados, brancos, negros, mestiços ou índios. Importa-lhes o dinheiro.
A visão pessimista de Cormac, ateu , se apropria das tragédias e do mal para mostrar um mundo sem esperanças, onde o bem é apenas ficção (não a sua ficção), e a maldade a própria essência humana. Não existe frescor, descanso, paz, apenas guerra, dor, morte e muitas batalhas a serem travadas.
Um senão, que ainda não detectei a causa, é que a narrativa, a despeito dos muitos momentos de ação, pareceu arrastar-se um pouco e, em alguns momentos, pareceu mesmo entediante. Raros, diga-se de passagem, mas existem, o que não vivenciei em "Onde os velhos não têm vez" e “A Estrada”.
Mas McCarthy é McCarthy, então, prossigamos a leitura.
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