Henderson, o Rei da Chuva (*)




Saul Below
Cia das Letras
456 Páginas


Eugene Henderson é um homem complexo e em plena crise de meia-idade, o que agrava um temperamento turbulento de tendências suicidas. Riquíssimo, descendente de figuras de proa da história dos Estados Unidos, ex-combatente da Segunda Guerra ferido e condecorado, depois de dois casamentos e um punhado de filhos, de conflitos com parentes e vizinhos, de dores de dente crônicas e de incontáveis bebedeiras, ele decide romper com seu passado e empreender uma virada existencial. Parte então para a África, em busca de um novo sentido para a vida. Animado pelo desejo de fazer o bem em meio a tribos afastadas do contato com a civilização moderna, Henderson primeiro se fixa entre os Arnewi e depois entre os Wariri, povos contrastantes que só possuem em comum uma crônica falta de água para a lavoura e o gado. 

Demonstrando um extraordinário domínio da narração em primeira pessoa, Bellow relata pela voz ao mesmo tempo exasperada e divertida do próprio Henderson os desajustes entre o racionalismo pragmático do personagem e uma África exótica, remota e insondável. Com alguma licença, as aventuras do voluntarioso protagonista podem ser lidas como uma variação irônica e bem-humorada, mas não menos humana, do confronto entre a civilização ocidental e a África selvagem encenado por Joseph Conrad em Coração das trevas .


Um comentário:

Jorge Fernandes Isah disse...

Duas razões me motivaram a colocar este livro à frente na minha lista de leituras, no lugar de Robinson Crusoé, do Defoe, e Luz em Agosto, de Faulkner: primeiro, o título chamativo. Não há como passar batido o “Henderson, o Rei da Chuva”! No mínimo, insólito. Segundo, porque nunca havia lido nada do Saul Bellow, o que acalentava já há algum tempo, então, fi-lo furar a fila.
Contudo, passados quase dois meses, e uns 40% de leitura concluída, não houve uma empatia entre nós. A leitura tem me sido árdua e estafante, diria, até forçosa. Talvez, porque esteja em um momento de “impaciência” literária, e esteja sendo mais exigente com o que leio. Fato é que não tem sido prazerosa a leitura, especialmente após a ida de Henderson para a África; os capítulos iniciais atraíram a atenção e se desenvolveram em um ritmo nada lento, mas as aventuras e desventuras do protagonista no continente “negro” não têm mantido o mesmo desenvolvimento.
Não que Bellow seja um mal escritor, e a sua narrativa entediante, longe disso! Ela está muito mais próxima de um enredo vertiginoso, onde Henderson é aquele típico anti-herói, meio desastrado, inconsequente, afoito, e que acaba jogando por terra a tentativa de se redimir dos vários fracassos permeados em sua vida. Um bom exemplo foi a sua “empreitada”, a tentativa de expulsar as rãs do único poço de água potável na aldeia “Arnewi”, sua primeira parada, na incursão adentrando as terras africanas, culminando em uma tragédia maior que a própria infestação dos anfíbios.
Sentindo-se envergonhado, culpado, e mais uma vez fracassado em seus “elevados” intentos, continua a sua cruzada, e se torna prisioneiro, juntamente com o seu guia, dos selvagens da tribo “Wariri”. Neste ponto, interrompi a leitura, que já não me dava qualquer desejo de continua-la.
Entendo que Bellow criou um romance quase satírico, repleto de ironias e momentos engraçados. Afinal, convenhamos, um homem de 1,90m, meio infantil, estabanado, e tentando encontrar um significado para a sua vida sem propósito, cruzando a África apenas para fugir do seu passado na América, é o mote para peripécias e reviravoltas que cativariam a maioria dos leitores. No meu caso, não aconteceu assim. Talvez porque esteja pouco afeito a enredos de “parodianos”, no momento.
Certo é que interrompi, e, ao menos por enquanto, não retomarei o livro. Mas o manterei na estante, no seu devido lugar na fila, para, quem sabe, quando chegar a hora, retomar a leitura, encontrando “graça” em suas páginas.

Após a leitura, classificarei os livros assim:
Péssimo [0] Ruim [*] Regular [**] Bom [***] Muito Bom [****] Excelente [*****]