Curso de Linguística Geral - Ferdinand Saussure

“Na língua só existem diferenças” – esta frase expõe o que é o Estruturalismo de Saussure. Os signos só tem valor por oposição, então as relações são mais importantes do que os signos em si com seus significados e significantes. Este pensamento é aplicado não apenas aos signos linguísticos, mas aos fonemas e às letras. A estrutura é o que importa para o estabelecimento do valor dos signos. Daí, na sequência temporal do sintagma (a frase, o texto, o discurso, a cadeia sonora da fala), os signos aparecem em relações de oposição e associação e recebem valor por seu agrupamento no sintagma, no qual há um vínculo de interdependência entre os signos e também é onde eles se condicionam reciprocamente. Esse sistema de regras que estão em jogo na língua forma a Gramática e é o que interessa como objeto de estudo para a Linguística de Saussure.

            A concepção linguística de Saussure exposta no parágrafo acima influenciou todo o século passado, mas ela, de certa forma, já está representada por Hermógenes na obra platônica “Crátilo”. Hermógenes já defendia que tudo na linguagem é convenção. Não há nada que ligue as coisas aos signos e nem as palavras (impressão acústica) aos significados.  

A ideia de estrutura, de sistema, após Saussure, romperá os limites da linguística do professor de Genebra e será aplicada às mais diversas ciências humanas. O que subjaz ao Estruturalismo de Saussure é a concepção de que o significado advém das relações de diferença entre os signos. É na estrutura da linguagem que o signo ganha significado – na relação sintagmática –, assim, o que se institui é que o signo não se refere a algo, mas seu significado vem pela diferença com outro signo – assim se dá a semiose.

      O Estruturalismo irá excluir o objeto de referência. O mundo não é uma realidade dada, mas socialmente construída. A concepção mentalista de Saussure é imanente, o significado nasce da relação de oposição e diferença entre os signos e não porque eles se referem ao mundo. Em outras palavras, não há nada lá fora. Não há nenhuma metafísica. Nenhum significado a ser buscado e que se refira a algo. Portanto, Saussure implode com qualquer referência “lá fora” possível à verdade. Os signos não têm valores em si mesmos, mas apenas nas relações de oposição e associação que estabelecem uns com os outros.

Eu gostaria de ajudar você a dimensionar a influência que terá o Estruturalismo no século XX, lembrando que toda essa concepção foi aplicada à teologia, à hermenêutica, à sociologia, à antropologia e a tantas outras ciências humanas. O Estruturalismo aplicado às ciências humanas, como aconteceu após Saussure, tende apenas a desumanizar o indivíduo, reforçando que este não tem valor em si mesmo, mas, tão somente, seu significado é recebido das relações nas quais ele se vê inserido na massa social. O ser humano estruturalista no seio social não tem significado intrínseco: ele é apenas enquanto não-é.

Surpreendentemente, embora pareça que a aplicação da concepção de signo de Saussure às ciências humanas abrirá caminho para o relativismo, a verdade é que, para o próprio Saussure, o que ele buscava era um fundamento – embora não metafísico – para o significado. Em outras palavras, o estruturalismo de Saussure não confere ao relativismo nenhuma condescendência, apenas desloca a base do significado, colocando-a na mente do homem. O que, aliás, foi exatamente o que já fizera Descartes.

O que é o signo linguístico é uma aventura iniciada desde os gregos. A cada passo, a cada filosofia adotada, há consequências que extrapolam o universo da linguagem em si e atingem a filosofia, a hermenêutica, a teologia, etc. Daí a necessidade de se construir uma bibliotheca de referência crítica na qual possamos nos reconduzir na esfera da semiótica para compreender, satisfatoriamente, o mar de signos pelo qual transitamos diariamente e que nos permitem o milagre da comunicação com o outro.  

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Após a leitura, classificarei os livros assim:
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