Millard escreveu um livro didático, contudo, agradável de se ler. Há momentos em que não se quer largar o livro, e a leitura torna-se uma compulsão. Com clareza, simplicidade e fluidez, o autor descreve os principais pontos da Teologia Sistemática; abordando algumas das principais vertentes em cada tópico, mas expondo e assumindo claramente a sua posição, o que torna o livro pessoal. As referências bíblicas poderiam ser mais abundantes, porém, o fato de não sê-las não compromete a confiabilidade da exposição, e muitas vezes, da defesa de determinado ponto. Erickson é ortodoxo, e baseia a sua "Introdução" nas Escrituras, e o fim, é de que elas corroborem as doutrinas, e não vice-versa (o que pode parecer a mesma coisa, mas não é). Apenas no cap. 6 sobre a inerrância da Bíblia, o autor parece vacilar um pouco, como se quisesse flertar com as correntes crítico-históricas (o que, felizmente, pareceu ser apenas uma tentativa ou um descuido). Portanto, até o momento (estou lendo o cap. 9) Introdução à Teologia Sistemática tem sido uma grata surpresa entre os livros técnicos/acadêmicos disponíveis no mercado. Recomendo-o aos que desejam iniciar os estudos na área, pois, como eu, leigo, estava meio entediado com livros excessivamente técnicos, herméticos, e que tratam as coisas de Deus de forma gélida e impessoal em seus formalismos retóricos.
Faz-se necessária uma ressalva em relação ao "calvinismo moderado" de Millard, o qual não é bíblico; e ao invés de acomodar os dois extremos (calvinismo e arminianismo), apenas os afasta mais, visto que a sua posição não agrada a nenhum dos lados. Outro senão, é a exposição do tema "Criação e Evolução", onde o autor é confuso e impreciso (por não assumir abertamente uma posição a favor do criacionismo ou do darwinismo). Infelizmente, nesses dois tópicos, Millard "pisa na bola" ao ficar em "cima do muro", na busca de um meio-termo cinza quando a Bíblia só tem duas cores: branca e preta.
À medida que os tópicos vão-se tornando mais difíceis, Millard mostra confusão e superficialidade em sua exposição. Mormente, o cap. 15, referente ao Mal. O autor fica meio que perdido ao tentar uma conciliação inconciliável (a soberania de Deus e o livre-arbítrio humano, pois um anula o outro e vice-versa). O que estava claro nos primeiros capítulos de sua "Introdução", parece apenas nebuloso após 200 páginas de leitura. A fundamentação muitas vezes se prende aos conceitos da antropologia, da filosofia e demais ciências humanas, que ele usa para explicar a aparente contradição entre Deus e o mal. É nítido o mal-estar do qual Erickson deseja "poupar" o leitor, ao não se aprofundar nas várias vertentes teológicas [o seu calvinismo "suave" é risível, se não fosse uma afronta (eu chamo de "desglória") a Deus]. Toda tentativa de conceder uma liberdade plena ao homem (há algo mais "pleno" do que o poder de rejeitar a Deus?), e que apenas Deus detém (ainda que o argumento seja de que Ele decidiu assim), feri a Sua soberania vergonhosamente (porque Deus não pode permitir algo que vá contra a Sua natureza e atributos), e o homem passa a ser uma força antagônica a Ele, capaz de contrapô-lo e, até mesmo, anulá-lo (dualismo/maniqueísmo); o que não passa de heresia. Há problemas também na parte 5 (ainda que menores), relativa a definição de humanidade, onde quase se vê uma disputa "pau-a-pau" entre Deus e o homem (subliminar). Vejamos o que nos aguarda os próximos capítulos.
Na parte 6, referente ao pecado, Millard seria correto se não se permitisse poluir o seu texto com linhas humanísticas. Mas dá para ver melhoras, e, sobretudo, a procura por uma base bíblica em sua exposição(ainda que não o faça o tempo todo). Na parte 7, a pessoa de Cristo (trata da divindade, humanidade e unidade da pessoa),o autor respalda-se nas Escrituras, e apresenta algumas heresias, refutando-as biblicamente. A abordagem é concisa (sem aprofundar-se), porém, suficiente para que se tenha o entendimento de que o Senhor era tanto Deus como homem.
À parte o arminianismo do autor (ou o seu "calvinismo suave", que compromete a abordagem de alguns pontos doutrinários), Millard analisa a pessoa e a obra do Senhor Jesus Cristo de forma correta. Há um ou outro senão sem maior importância [por exemplo, ao expor as várias heresias a respeito da natureza de Cristo (arianismo, nestorianismo, docetismo, etc), o autor parece meio confuso, atrapalhado em seu didatismo, o que pode levar neófitos a se perderem em suas "proto-conclusões"; o que pode ser corrigido se o leitor ler até o final]. A questão é que, muitas vezes, falta humildade aos acadêmicos para aceitar o inevitável: é impossível que em nossa finitude expliquemos completamente o Deus eterno; e de que devemos nos conformar com aquilo que Ele quis nos revelar nas Escrituras. A totalidade das heresias provém exatamente desse desejo, o de "explicar" Deus por completo (e aí, foge-se ou distorce-se os princípios bíblicos expostos na Palavra). A idéia de que, por não podermos conciliar duas afirmações bíblicas [por exemplo, a divindade e humanidade de Cristo (antinomia)], temos um problema para a fé, é simplesmente falta de referência para com Deus. Fico com as palavras de Paulo em Rm 11.33-34: "Ó profundidade das riquezas, tanto da sabedoria, como da ciência de Deus! Quão insondáveis são os seus juízos, e quão inescrutáveis os seus caminhos! Por que quem compreendeu a mente do Senhor? ou quem foi seu conselheiro?".
O cap. referente ao Espirito Santo é correto, porém, o autor novamente fica "em cima do muro" na questão dos dons apostólicos, como a glossolalia. Millard, tentando conciliar a divergência entre os que crêem nos dons para hoje com os que não crêem, acaba por confundir e diluir o debate. Ao não se aprofundar e buscar uma solução de forma pouco perceptível, o autor quase cria uma nova doutrina com os restos da "colisão" entre uma e outra; e não faz nada mais do que catar os cacos espatifados pelo chão. A exortação para que não se blasfeme contra o Espírito Santo é, no mínimo, despropositada para a discussão; e uma espécie de fuga ineficaz para a arapuca que armou para si mesmo. Seria melhor que ele não concluisse (ao fazê-lo incompletamente), pois acabou vítima da sua própria armadilha.
O autor se redime parcialmente do cap. referente ao Mal (seção a obra de Deus). Em especial, ao explicar correta e claramente a diferença entre calvinismo e arminianismo. A solução calvinista adotada pelo autor (apesar de não ser em sua totalidade o calvinismo bíblico) atenua a insegurança e confusão com que analisou a questão do pecado. A escolha do calvinismo como base para as explicações no cap. sobre a salvação foram acertadas, e é ponto para Erickson. A doutrina da Igreja é outro acerto de Millard que decide em favor dos princípios bíblicos e ortodoxos.
Na parte doze, "As últimas coisas", Millard conclue a sua introdução à T.S. estudando a escatologia. De forma sintética, clara e bíblica, o autor expõe as várias correntes que explicam os eventos futuros (morte, estado intermediário, a segunda vinda de Cristo, o milênio, tribulação...), decidindo-se pela coerência das Escrituras, assumindo a ortodoxia, e rejeitando o delírio metafísico.
8 comentários:
Millard escreveu um livro didático, contudo, agradável de se ler.
Há momentos em que não se quer largar o livro, e a leitura torna-se uma compulsão. Com clareza, simplicidade e fluidez, o autor descreve os principais pontos da Teologia Sistemática; abordando algumas das principais vertentes em cada tópico, mas expondo e assumindo claramente a sua posição, o que torna o livro pessoal.
As referências bíblicas poderiam ser mais abundantes, porém, o fato de não sê-las não compromete a confiabilidade da exposição, e muitas vezes, da defesa de determinado ponto.
Erickson é ortodoxo, e baseia a sua "Introdução" nas Escrituras, e o fim, é de que elas corroborem as doutrinas, e não vice-versa (o que pode parecer a mesma coisa, mas não é).
Apenas no cap. 6 sobre a inerrância da Bíblia, o autor parece vacilar um pouco, como se quisesse flertar com as correntes crítico-históricas (o que, felizmente, pareceu ser apenas uma tentativa ou um descuido).
Portanto, até o momento (estou lendo o cap. 9) Introdução à Teologia Sistemática tem sido uma grata surpresa entre os livros técnicos/acadêmicos disponíveis no mercado. Recomendo-o aos que desejam iniciar os estudos na área, pois, como eu, leigo, estava meio entediado com livros excessivamente técnicos, herméticos, e que tratam as coisas de Deus de forma gélida e impessoal em seus formalismos retóricos.
Faz-se necessária uma ressalva em relação ao "calvinismo moderado" de Millard, o qual não é bíblico; e ao invés de acomodar os dois extremos (calvinismo e arminianismo), apenas os afasta mais, visto que a sua posição não agrada a nenhum dos lados.
Outro senão, é a exposição do tema "Criação e Evolução", onde o autor é confuso e impreciso (por não assumir abertamente uma posição a favor do criacionismo ou do darwinismo).
Infelizmente, nesses dois tópicos, Millard "pisa na bola" ao ficar em "cima do muro", na busca de um meio-termo cinza quando a Bíblia só tem duas cores: branca e preta.
À medida que os tópicos vão-se tornando mais difíceis, Millard mostra confusão e superficialidade em sua exposição. Mormente, o cap. 15, referente ao Mal. O autor fica meio que perdido ao tentar uma conciliação inconciliável (a soberania de Deus e o livre-arbítrio humano, pois um anula o outro e vice-versa).
O que estava claro nos primeiros capítulos de sua "Introdução", parece apenas nebuloso após 200 páginas de leitura. A fundamentação muitas vezes se prende aos conceitos da antropologia, da filosofia e demais ciências humanas, que ele usa para explicar a aparente contradição entre Deus e o mal.
É nítido o mal-estar do qual Erickson deseja "poupar" o leitor, ao não se aprofundar nas várias vertentes teológicas [o seu calvinismo "suave" é risível, se não fosse uma afronta (eu chamo de "desglória") a Deus].
Toda tentativa de conceder uma liberdade plena ao homem (há algo mais "pleno" do que o poder de rejeitar a Deus?), e que apenas Deus detém (ainda que o argumento seja de que Ele decidiu assim), feri a Sua soberania vergonhosamente (porque Deus não pode permitir algo que vá contra a Sua natureza e atributos), e o homem passa a ser uma força antagônica a Ele, capaz de contrapô-lo e, até mesmo, anulá-lo (dualismo/maniqueísmo); o que não passa de heresia.
Há problemas também na parte 5 (ainda que menores), relativa a definição de humanidade, onde quase se vê uma disputa "pau-a-pau" entre Deus e o homem (subliminar).
Vejamos o que nos aguarda os próximos capítulos.
Na parte 6, referente ao pecado, Millard seria correto se não se permitisse poluir o seu texto com linhas humanísticas. Mas dá para ver melhoras, e, sobretudo, a procura por uma base bíblica em sua exposição(ainda que não o faça o tempo todo).
Na parte 7, a pessoa de Cristo (trata da divindade, humanidade e unidade da pessoa),o autor respalda-se nas Escrituras, e apresenta algumas heresias, refutando-as biblicamente. A abordagem é concisa (sem aprofundar-se), porém, suficiente para que se tenha o entendimento de que o Senhor era tanto Deus como homem.
À parte o arminianismo do autor (ou o seu "calvinismo suave", que compromete a abordagem de alguns pontos doutrinários), Millard analisa a pessoa e a obra do Senhor Jesus Cristo de forma correta. Há um ou outro senão sem maior importância [por exemplo, ao expor as várias heresias a respeito da natureza de Cristo (arianismo, nestorianismo, docetismo, etc), o autor parece meio confuso, atrapalhado em seu didatismo, o que pode levar neófitos a se perderem em suas "proto-conclusões"; o que pode ser corrigido se o leitor ler até o final].
A questão é que, muitas vezes, falta humildade aos acadêmicos para aceitar o inevitável: é impossível que em nossa finitude expliquemos completamente o Deus eterno; e de que devemos nos conformar com aquilo que Ele quis nos revelar nas Escrituras. A totalidade das heresias provém exatamente desse desejo, o de "explicar" Deus por completo (e aí, foge-se ou distorce-se os princípios bíblicos expostos na Palavra).
A idéia de que, por não podermos conciliar duas afirmações bíblicas [por exemplo, a divindade e humanidade de Cristo (antinomia)], temos um problema para a fé, é simplesmente falta de referência para com Deus. Fico com as palavras de Paulo em Rm 11.33-34: "Ó profundidade das riquezas, tanto da sabedoria, como da ciência de Deus! Quão insondáveis são os seus juízos, e quão inescrutáveis os seus caminhos! Por que quem compreendeu a mente do Senhor? ou quem foi seu conselheiro?".
O cap. referente ao Espirito Santo é correto, porém, o autor novamente fica "em cima do muro" na questão dos dons apostólicos, como a glossolalia. Millard, tentando conciliar a divergência entre os que crêem nos dons para hoje com os que não crêem, acaba por confundir e diluir o debate. Ao não se aprofundar e buscar uma solução de forma pouco perceptível, o autor quase cria uma nova doutrina com os restos da "colisão" entre uma e outra; e não faz nada mais do que catar os cacos espatifados pelo chão.
A exortação para que não se blasfeme contra o Espírito Santo é, no mínimo, despropositada para a discussão; e uma espécie de fuga ineficaz para a arapuca que armou para si mesmo. Seria melhor que ele não concluisse (ao fazê-lo incompletamente), pois acabou vítima da sua própria armadilha.
O autor se redime parcialmente do cap. referente ao Mal (seção a obra de Deus). Em especial, ao explicar correta e claramente a diferença entre calvinismo e arminianismo. A solução calvinista adotada pelo autor (apesar de não ser em sua totalidade o calvinismo bíblico) atenua a insegurança e confusão com que analisou a questão do pecado.
A escolha do calvinismo como base para as explicações no cap. sobre a salvação foram acertadas, e é ponto para Erickson.
A doutrina da Igreja é outro acerto de Millard que decide em favor dos princípios bíblicos e ortodoxos.
Na parte doze, "As últimas coisas", Millard conclue a sua introdução à T.S. estudando a escatologia. De forma sintética, clara e bíblica, o autor expõe as várias correntes que explicam os eventos futuros (morte, estado intermediário, a segunda vinda de Cristo, o milênio, tribulação...), decidindo-se pela coerência das Escrituras, assumindo a ortodoxia, e rejeitando o delírio metafísico.
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