Hordern inicia identificando o que é ortodoxia cristã; a base dos princípios bíblicos conforme foram formulados no decorrer da história. Filosoficamente, esses princípios passaram a existir à partir da mente dos teólogos, os quais estabeleceram doutrinas claras (através dos credos e concílios) a fim de refutar e afastar do corpo da igreja as muitas heresias que eram plantadas nas congregações pelos falsos mestres. Contudo, a ortodoxia cristã existia e sempre existiu nas Escrituras, especialmente, nos ensinamentos do Senhor Jesus Cristo e dos apóstolos. O autor, a todo momento, parece incomodado por não poder esclarecer profundamente cada ponto abordado. Vê-se a sua frustração. Porém, se ao invés de descrever sobre várias hipóteses e teorias que não se harmonizam com a Bíblia ele fixasse-se na doutrina correta e divinamente revelada, teria muito mais espaço para aprofundar-se naquilo que realmente é relevante e ortodoxo. De qualquer forma, o apanhado que ele faz para o leigo e iniciante no estudo da teologia, como obra introdutória a que se propõe, atinge razoavelmente o seu objetivo; pelo menos, inicialmente.
O autor concentra o estudo nos ataques à ortodoxia, mormente, no período pós-reforma, quando o racionalismo assumiu uma posição crítica explícita aos fundamentos bíblicos. Não que ele fosse um movimento ateísta, que visasse anular a Deus. Porém, desejava criar uma religião dentro dos limites da razão, o que, invariavelmente, implicava na oposição à ortodoxia bíblica. Surgiram seitas como o socianismo, o deísmo, o unitarismo, e outras, mas nada tentou demolir os alicerces ortodoxos com maior virulência do que a alta crítica. Ao questionar a infalibilidade, a inerrância e a inspiração divina da Bíblia, supondo que a fé sobrenatural era antagônica à razão e a ciência, eruditos dentro da própria igreja encarregaram-se de espalhar a dúvida e o ceticismo. A consequência é que muitos dos princípios cristãos foram abandonados. A verdade passou a ser questionada de tal forma pelo racionalismo que as Escrituras tornaram-se apenas em um bom livro moral, comum como qualquer outro livro humano, sujeito a falhas. O efeito da sucessão de distorções e delírios por parte dos teólogos da alta crítica foi o afastar-se cada vez mais da ortodoxia e da Verdade. É nesse contexto que surge a crítica textual, o marxismo, o darwinismo, e a busca pelo Jesus histórico (mais propriamente dito, a busca pelo Jesus "não histórico". Apesar da avalanche de provas, muitas extrabíblicas, que corroboram a existência de Jesus Cristo como o personagem mais bem documentado da história). Os ideais racionalistas de Schaleiermacher, Ritschl, Harnack e Schweitzer, buscavam uma forma de "cristianismo" tão simplificada que, o pecado, a redenção, a expiação de Cristo, o novo-nascimento, e o próprio Deus, foram excluídos deles, sobrando apenas o homem, solitário em meio ao caos e o ceticismo.
Hordern confunde o leitor (e a si mesmo) ao tecer comentários em meio às descrições das idéias dos teólogos estudados. Fica-se, as vezes, com a impressão de que, deliberadamente, ele quer esconder a sua opinião, tornando-a a mais "secreta" possível. Suas opiniões misturam-se aos dos outros teólogos, dando a impressão de que Hordern é uma extensão deles, e vice-versa. Ainda assim, dá para perceber a "inimizade" para com o calvinismo, o anabatismo/batista, e, porque não, com a ortodoxia bíblica. E, também, uma simpatia não tão velada pelo evolucionismo, liberalismo, ecumenismo e o humanismo. A se destacar: ao abordar o cerne do pensamento de algumas correntes teológicas, o autor o faz com clareza, quando consegue imuniza-se a si mesmo dos próprios pensamentos "camuflados".
O liberalismo, em maior ou menor grau, é sempre um movimento que visa "reescrever" a fé cristã, desacreditando-a, substituindo os seus fundamentos pelo racionalismo, pela ciência, pelo ceticismo. O pontapé inicial começa com a negação da inspiração divina, da infalibilidade e inerrância das Escrituras Sagradas, com o único objetivo de demolir a fé cristã. Iniciado com o Iluminismo e o racionalismo, cresceu com a alta crítica, culminando com o liberalismo, o evangelho social e o humanismo, os quais, invariavelmente, desprezaram a Bíblia e todos os pressupostos cristãos, como a soberania de Deus, a divindade de Cristo, Seu sacrifício substitutivo e expiatório, a doutrina do pecado original, da natureza corrompida do homem, da Trindade... O "cristão liberal" não conseguia (e consegue) crer em nada além do que os seus olhos vêem. O seu estado é sempre uma flutuação entre a descrença sutil e a descrença radical (mas sempre descrença); ele jamais será um crente, pois, busca Deus dentro de si mesmo e no mundo natural (imanência), sem jamais encontrá-lO, ou mesmo, com nenhuma expectativa de vir a encontrá-lO; ou o ápice do ceticismo: a negação completa de Deus. Assim, o liberal não reconhe a autoridade divina, portanto, não se sujeitando a ela, e se submetendo à sua própria autoridade, através do empirismo e da ciência natural. Tudo isso tem um só objetivo: rejeitar a Lei Moral, e entregar o homem à sua própria dissolução e pecaminosidade.
As letras de Hordern parecem saltar das páginas quando ele descreve alguns liberais. Em relação a Karl Barth então... Até pensei em fazer um resumo do pensamento de cada um dos teólogos liberais descrito pelo autor. E ao começar por Barth, vi que teria de fazer não um comentário, mas um estudo, tal a diversidade da sua teologia (como ele mesmo disse, a teologia é um mover constante, não podendo ser estática, devendo adequar-se ao seu tempo: "o homem deve ter a Bíblia em uma das mãos, e os jornais na outra"). Começando como um liberal, passando por "momentos" ortodoxos, Barth acaba no que chamam de "neo-ortodoxia", que nada mais é do que um nome pomposo para tudo o que está compreendido entre um extremo e outro da teologia: do fundamentalismo ao ceticismo. Então, desisti antes de começar. Barth precisa de pelo menos uns bons anos de estudo para se entender o que ele mesmo não conseguiu entender (e o meu tempo anda escasso ultimamente). Depois, passamos para Niebuhr, Tillich, Bultmann... Céticos, cada um ao seu modo. Na verdade, a teologia liberal é um emaranhado de conceitos desconexos, pois, se desenvolvem à margem das Escrituras. A base é a filosofia, a antropologia, a sociologia, a política; e, o Evangelho associado a estas e outras ciências humanas é que traçará o caminho no qual o homem, social, política e economicamente se libertará da opressão, do "pecado" e de si mesmo (da condição de pobre-coitado-marginal). Ou seja, os teólogos liberais jamais partirão das Escrituras e da revelação que o próprio Deus faz de Si e da humanidade para o conhecimento. A salvação é antes o homem entender Deus a partir da humanidade do próprio homem. E o que a humanidade pode revelar ao homem? Guerra, morte, injustiça, imoralidade... Sem Deus, o homem revela-se como é, e como a Bíblia o descreve: morto em iniquidades e pecados, completamente corrompido. O resgate, a salvação, a redenção são impossíveis ao homem, tanto social, como política, como economicamente. Primeiro é necessário que esse homem seja regenerado espiritualmente, e somente Cristo é capaz de fazê-lo. Depois, esse homem será luz em meio as trevas, nas quais o mundo encontra-se envolto. Mas sempre por Cristo e Seu Evangelho, jamais por si mesmo. E ao crer que o homem evolui espiritualmente (analogia feita a partir da aceitação da teoria de que o homem evolui fisicamente: darwinismo), esses teólogos transformam a Bíblia em um livro de "mitos", e fazem de Deus qualquer coisa, menos Deus. É interessante como a teologia deles é complexa, hermética, confusa, sem nenhum respaldo escriturístico, e quando muito, os conceitos bíblicos são distorcidos ou rejeitados. É um bom exercício de lógica, pois, dizem, a melhor maneira de se conhecer a lógica é pela incoerência ilógica. Se depender disso, Barth & Cia são prato cheio para qualquer estudioso aplicado. De minha parte, quero manter-me bem longe deles (apesar de, vez ou outra, postar livros liberais).
Os teólogos liberais fazem um exercício, no mínimo, intricado: discutem cristianismo não com base nas Escrituras, mas mantendo-se em meio a vários pontos de vista (muitos conflitantes, outros irrelevantes). É como o cego em meio ao tiroteio. Provavelmente uma bala o acertará sem que ele saiba de onde veio. O que se vê é um discurso distendido de qualquer envolvimento com a revelação divina; é como o paciente acometido de AVC vê o seu lado esquerdo, por exemplo, paralisado, esquecido, sem que responda ao seu estímulo mental. Assim é a mente de um liberal, ele crê estar ligado às Escrituras, mas, no fundo, o único estímulo que recebe e com o qual interage é consigo mesmo, jamais com Deus. Entre divagações, delírios e loucura, num intelectualismo estéril e letal, afasta-se mais e mais de Cristo e do Seu Evangelho. Para o liberal a fé é um mero detalhe, talvez, por isso, ele seja mortalmente cético, e queira, o tempo todo, reinterpretar o Evangelho nas ondas confusas e caóticas da incerteza, da incredulidade.
6 comentários:
Hordern inicia identificando o que é ortodoxia cristã; a base dos princípios bíblicos conforme foram formulados no decorrer da história.
Filosoficamente, esses princípios passaram a existir à partir da mente dos teólogos, os quais estabeleceram doutrinas claras (através dos credos e concílios) a fim de refutar e afastar do corpo da igreja as muitas heresias que eram plantadas nas congregações pelos falsos mestres.
Contudo, a ortodoxia cristã existia e sempre existiu nas Escrituras, especialmente, nos ensinamentos do Senhor Jesus Cristo e dos apóstolos.
O autor, a todo momento, parece incomodado por não poder esclarecer profundamente cada ponto abordado. Vê-se a sua frustração. Porém, se ao invés de descrever sobre várias hipóteses e teorias que não se harmonizam com a Bíblia ele fixasse-se na doutrina correta e divinamente revelada, teria muito mais espaço para aprofundar-se naquilo que realmente é relevante e ortodoxo.
De qualquer forma, o apanhado que ele faz para o leigo e iniciante no estudo da teologia, como obra introdutória a que se propõe, atinge razoavelmente o seu objetivo; pelo menos, inicialmente.
O autor concentra o estudo nos ataques à ortodoxia, mormente, no período pós-reforma, quando o racionalismo assumiu uma posição crítica explícita aos fundamentos bíblicos. Não que ele fosse um movimento ateísta, que visasse anular a Deus. Porém, desejava criar uma religião dentro dos limites da razão, o que, invariavelmente, implicava na oposição à ortodoxia bíblica.
Surgiram seitas como o socianismo, o deísmo, o unitarismo, e outras, mas nada tentou demolir os alicerces ortodoxos com maior virulência do que a alta crítica.
Ao questionar a infalibilidade, a inerrância e a inspiração divina da Bíblia, supondo que a fé sobrenatural era antagônica à razão e a ciência, eruditos dentro da própria igreja encarregaram-se de espalhar a dúvida e o ceticismo.
A consequência é que muitos dos princípios cristãos foram abandonados. A verdade passou a ser questionada de tal forma pelo racionalismo que as Escrituras tornaram-se apenas em um bom livro moral, comum como qualquer outro livro humano, sujeito a falhas.
O efeito da sucessão de distorções e delírios por parte dos teólogos da alta crítica foi o afastar-se cada vez mais da ortodoxia e da Verdade.
É nesse contexto que surge a crítica textual, o marxismo, o darwinismo, e a busca pelo Jesus histórico (mais propriamente dito, a busca pelo Jesus "não histórico". Apesar da avalanche de provas, muitas extrabíblicas, que corroboram a existência de Jesus Cristo como o personagem mais bem documentado da história).
Os ideais racionalistas de Schaleiermacher, Ritschl, Harnack e Schweitzer, buscavam uma forma de "cristianismo" tão simplificada que, o pecado, a redenção, a expiação de Cristo, o novo-nascimento, e o próprio Deus, foram excluídos deles, sobrando apenas o homem, solitário em meio ao caos e o ceticismo.
Hordern confunde o leitor (e a si mesmo) ao tecer comentários em meio às descrições das idéias dos teólogos estudados. Fica-se, as vezes, com a impressão de que, deliberadamente, ele quer esconder a sua opinião, tornando-a a mais "secreta" possível. Suas opiniões misturam-se aos dos outros teólogos, dando a impressão de que Hordern é uma extensão deles, e vice-versa.
Ainda assim, dá para perceber a "inimizade" para com o calvinismo, o anabatismo/batista, e, porque não, com a ortodoxia bíblica. E, também, uma simpatia não tão velada pelo evolucionismo, liberalismo, ecumenismo e o humanismo.
A se destacar: ao abordar o cerne do pensamento de algumas correntes teológicas, o autor o faz com clareza, quando consegue imuniza-se a si mesmo dos próprios pensamentos "camuflados".
O liberalismo, em maior ou menor grau, é sempre um movimento que visa "reescrever" a fé cristã, desacreditando-a, substituindo os seus fundamentos pelo racionalismo, pela ciência, pelo ceticismo.
O pontapé inicial começa com a negação da inspiração divina, da infalibilidade e inerrância das Escrituras Sagradas, com o único objetivo de demolir a fé cristã.
Iniciado com o Iluminismo e o racionalismo, cresceu com a alta crítica, culminando com o liberalismo, o evangelho social e o humanismo, os quais, invariavelmente, desprezaram a Bíblia e todos os pressupostos cristãos, como a soberania de Deus, a divindade de Cristo, Seu sacrifício substitutivo e expiatório, a doutrina do pecado original, da natureza corrompida do homem, da Trindade...
O "cristão liberal" não conseguia (e consegue) crer em nada além do que os seus olhos vêem. O seu estado é sempre uma flutuação entre a descrença sutil e a descrença radical (mas sempre descrença); ele jamais será um crente, pois, busca Deus dentro de si mesmo e no mundo natural (imanência), sem jamais encontrá-lO, ou mesmo, com nenhuma expectativa de vir a encontrá-lO; ou o ápice do ceticismo: a negação completa de Deus.
Assim, o liberal não reconhe a autoridade divina, portanto, não se sujeitando a ela, e se submetendo à sua própria autoridade, através do empirismo e da ciência natural.
Tudo isso tem um só objetivo: rejeitar a Lei Moral, e entregar o homem à sua própria dissolução e pecaminosidade.
As letras de Hordern parecem saltar das páginas quando ele descreve alguns liberais. Em relação a Karl Barth então... Até pensei em fazer um resumo do pensamento de cada um dos teólogos liberais descrito pelo autor. E ao começar por Barth, vi que teria de fazer não um comentário, mas um estudo, tal a diversidade da sua teologia (como ele mesmo disse, a teologia é um mover constante, não podendo ser estática, devendo adequar-se ao seu tempo: "o homem deve ter a Bíblia em uma das mãos, e os jornais na outra").
Começando como um liberal, passando por "momentos" ortodoxos, Barth acaba no que chamam de "neo-ortodoxia", que nada mais é do que um nome pomposo para tudo o que está compreendido entre um extremo e outro da teologia: do fundamentalismo ao ceticismo. Então, desisti antes de começar. Barth precisa de pelo menos uns bons anos de estudo para se entender o que ele mesmo não conseguiu entender (e o meu tempo anda escasso ultimamente).
Depois, passamos para Niebuhr, Tillich, Bultmann... Céticos, cada um ao seu modo.
Na verdade, a teologia liberal é um emaranhado de conceitos desconexos, pois, se desenvolvem à margem das Escrituras. A base é a filosofia, a antropologia, a sociologia, a política; e, o Evangelho associado a estas e outras ciências humanas é que traçará o caminho no qual o homem, social, política e economicamente se libertará da opressão, do "pecado" e de si mesmo (da condição de pobre-coitado-marginal). Ou seja, os teólogos liberais jamais partirão das Escrituras e da revelação que o próprio Deus faz de Si e da humanidade para o conhecimento. A salvação é antes o homem entender Deus a partir da humanidade do próprio homem.
E o que a humanidade pode revelar ao homem? Guerra, morte, injustiça, imoralidade... Sem Deus, o homem revela-se como é, e como a Bíblia o descreve: morto em iniquidades e pecados, completamente corrompido.
O resgate, a salvação, a redenção são impossíveis ao homem, tanto social, como política, como economicamente. Primeiro é necessário que esse homem seja regenerado espiritualmente, e somente Cristo é capaz de fazê-lo. Depois, esse homem será luz em meio as trevas, nas quais o mundo encontra-se envolto. Mas sempre por Cristo e Seu Evangelho, jamais por si mesmo.
E ao crer que o homem evolui espiritualmente (analogia feita a partir da aceitação da teoria de que o homem evolui fisicamente: darwinismo), esses teólogos transformam a Bíblia em um livro de "mitos", e fazem de Deus qualquer coisa, menos Deus.
É interessante como a teologia deles é complexa, hermética, confusa, sem nenhum respaldo escriturístico, e quando muito, os conceitos bíblicos são distorcidos ou rejeitados.
É um bom exercício de lógica, pois, dizem, a melhor maneira de se conhecer a lógica é pela incoerência ilógica. Se depender disso, Barth & Cia são prato cheio para qualquer estudioso aplicado.
De minha parte, quero manter-me bem longe deles (apesar de, vez ou outra, postar livros liberais).
Os teólogos liberais fazem um exercício, no mínimo, intricado: discutem cristianismo não com base nas Escrituras, mas mantendo-se em meio a vários pontos de vista (muitos conflitantes, outros irrelevantes). É como o cego em meio ao tiroteio. Provavelmente uma bala o acertará sem que ele saiba de onde veio.
O que se vê é um discurso distendido de qualquer envolvimento com a revelação divina; é como o paciente acometido de AVC vê o seu lado esquerdo, por exemplo, paralisado, esquecido, sem que responda ao seu estímulo mental. Assim é a mente de um liberal, ele crê estar ligado às Escrituras, mas, no fundo, o único estímulo que recebe e com o qual interage é consigo mesmo, jamais com Deus.
Entre divagações, delírios e loucura, num intelectualismo estéril e letal, afasta-se mais e mais de Cristo e do Seu Evangelho.
Para o liberal a fé é um mero detalhe, talvez, por isso, ele seja mortalmente cético, e queira, o tempo todo, reinterpretar o Evangelho nas ondas confusas e caóticas da incerteza, da incredulidade.
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