O Último Magnata (**)

 



F. Scott Fitzgerald

Penguin

232 Páginas


"Romance inacabado de Scott Fitzgerald, O último magnata demonstra que poderia ter sido, apesar de sua brevidade e ausência de conclusão, a real obra-prima do autor de outro romance central da literatura norte-americana, O grande Gatsby. Acompanham as cerca de 60 mil palavras do rascunho as notas em que Fitzgerald formulava sua narrativa, minuciosamente coletadas pelo crítico e ensaísta Edmund Wilson, também autor do primoroso prefácio. Conforme Wilson observa em seu excelente - embora breve - prefácio, o mandachuva Monroe Stahr, centro da trama de O último magnata, é o personagem mais bem concebido de Scott Fitzgerald. “Suas anotações sobre o personagem mostram como Fitzgerald conviveu com Stahr por três anos ou mais, amadurecendo as idiossincrasias da figura e reconstituindo sua rede de relacionamentos nos vários departamentos da indústria do cinema.” Desde o começo, Scott Fitzgerald escreveu sobre os objetos e as pessoas que ele conhecia de perto. Seus primeiros textos eram triviais, e como os jovens sobre quem ele escreveu, ele mesmo foi um sujeito desgovernado, guiado pelas sensações em um fluxo de vazios que o levava a nada. Mas desde o princípio suas percepções eram agudas, seu dom com as palavras era inato, sua imaginação era rápida e poderosa. Há vitalidade em cada linha que escreveu. Mas ele teve de confrontar seus próprios valores antes que pudesse propriamente fazer o trabalho para o qual havia sido talhado - e o processo pegou pesado em sua carga de vitalidade. A carreira de Fitzgerald é uma história trágica, mas o epílogo é melhor do que poderia ter sido. E é pelo que fez que será lembrado."


Opera dos Mortos (****)

 




Autran Dourado

Civilização Brasileira

212 Páginas




"O senhor atente depois para o velho sobrado com a memória, com o coração", adverte o narrador, que aos poucos se confunde com a própria cidade onde mandava o coronel Lucas Procópio Honório Cota. Tratava-se de um homem valente, que impunha respeito pela força e truculência, traços que passavam distante da personalidade de seu filho e herdeiro, João Capistrano. Melancólico, em luta permanente para se livrar do fantasma do pai, João fracassa na política ― sua única chance de se impor na cidade ― e passa o resto de seus dias trancado no sobrado que ergueu como uma espécie de monumento à família. Com o correr dos anos, o casarão vai se impregnando cada vez mais dos fantasmas dos antepassados, que transformam tudo, de objetos a ambientes, em signos da morte. É neste ambiente opressivo e desolado que Rosalina, filha única de Capistrano, vai viver depois da morte dos pais. Solteira, isolada do mundo e tendo como única companhia a empregada Quiquina, que é muda, ela passa seus dias fazendo flores de pano e vagando entre paredes carcomidas e relógios parados. Mas a rotina do sobrado será alterada com a chegada de José Feliciano – ou Juca Passarinho, como é conhecido. O biscateiro vai à cidade em busca de trabalho e acaba entrando aos poucos no universo enigmático da casa e, principalmente, na vida da austera Rosalina. Lançado pelo célebre romancista mineiro em 1967, Ópera dos Mortos foi incluído pela Unesco numa coleção das obras mais representativas da literatura mundial. Autor vencedor do Prêmio Camões (2000) e do Prêmio Machado de Assis (2008)."


O Sono Eterno (***)

 

 


Raymond Chandler

Editora Brasiliense

243 Páginas


"Philip Marlowe, detetive particular em Los Angeles, é chamado à mansão do velho General Sternwood para investigar um caso de chantagem, aparentemente banal, envolvendo uma de suas filhas. Em pouco tempo, Marlowe percebe que algo se esconde atrás desse pedido, e que as duas filhas do General, Vivian e Carmen Sternwood, podem ser mais perigosas do que aparentam. Em uma cidade chuvosa e enevoada, ele aos poucos se envolve com a pornografia ilegal e a máfia dos jogos. Nesta primeira aventura de Marlowe, publicada originalmente em 1939, Raymond Chandler deu nova vida ao romance policial, mesclando uma trama envolvente a um estilo inigualável - corrosivo, cômico e extremamente original."



Retrato de uma Senhora (****)







Henry James
680 Páginas







"Retrato de uma senhora, publicado pela primeira vez em 1881, é o primeiro grande romance de Henry James, e talvez sua obra máxima. Num século em que a esposa burguesa insatisfeita tornou-se um personagem literário central, e o adultério um motivo romanesco recorrente - o século da Madame Bovary, de Flaubert, e de Anna Karenina, de Tolstói -, Henry James colocou em cena uma heroína singular, cuja carência essencial é de outra ordem. Com uma narrativa que, astuciosamente, começa lenta, quase contemplativa, e aos poucos se acelera, ganhando dramaticidade, James constrói sua história como um jogo em que cada coisa se transmuta em seu oposto: liberdade em destino, afeto em traição, pureza em artimanha - e vice-versa"



A Doutrina Cristã (****)






Santo Agostinho


288 Páginas



"Esta obra é a carta magna de Santo Agostinho sobre a maneira de entender e pregar a Sagrada Escritura. Nela podemos sentir o imenso amor e conhecimento profundo de Agostinho pela Bíblia. De fato, ele deixou-se impregnar por ela, tornou-a "seu sangue, a medula de seus ossos". Ninguém como ele explorou tão a fundo e com tanto empenho e sutileza os profundos e obscuros recônditos da Bíblia, e nunca houve alguém que trouxesse de suas explorações tal abundância de preciosos achados. A doutrina cristã é um manual de exegese e formação cultural com finalidade didática e pastoral dirigido aos cristãos de sua época. As diretivas dada pelo zelo pastoral do Bispo de Hipona são originais e penetrantes, válidas ainda, em grande parte, para nosso tempo, tão ávido de estudos exegéticos e hermenêuticos."



Encontro Marcado (***)



Fernando Sabino

Editora Record

296 Páginas


"Esta é a história de um jovem em desesperada procura de si mesmo e da verdadeira razão de sua vida. Quase absorvido por uma brilhante boêmia intelectual, seu drama interior evolui subterraneamente, expondo os equívocos fundamentais que vinham frustrando sua existência e sufocando sua vocação. O encontro marcado é a história de Fernando Sabino? Sim, mas não se trata de uma autobiografia. É a história atormentada de toda uma geração, naquilo que ela tem de essencialmente dramático. Em meio às confusões da vida, procura-se um valor que dê sentido à desconcertante experiência pessoal de quem trava um duelo de morte com a vocação furtiva. História de adolescência e juventude, de prazeres fugidios, desespero, cinismo, desencanto, melancolia, tédio, que se acumulam no espírito do jovem escritor Eduardo Marciano, um homem que amadurece num mundo desorientado. Ele vê seu matrimônio quebrar-se quando já não pode abdicar; por força de sua própria experiência, o suicídio deixa de ser uma solução. Nessa paisagem atormentada, ele deve renunciar a si mesmo, para comparecer ao encontro com uma antiga verdade."


A Vida de David Brainerd (*****)







Jonathan Edwards
Editora Fiel
328 Páginas





"O diário de David Brainerd, comentado por Jonathan Edwards neste volume, constitui um desafio ao cristão de nossos dias; sua vida de dedicação ao Senhor é um exemplo que deve impactar a vida daqueles que buscam sinceramente agradar ao Senhor em sua jornada."


Flores Artificiais - Luiz Rufatto (***)










Luiz Ruffato
152 Páginas
Cia das Letras






"O escritor Luiz Ruffato recebe em sua casa a correspondência de um desconhecido. Trata-se de um manuscrito, uma compilação de memórias que Dório Finetto, funcionário graduado do Banco Mundial, redigiu a partir de suas muitas viagens de trabalho. Como consultor de projetos na área de infraestrutura, Finetto percorreu meio mundo numa sucessão de simpósios, reuniões e congressos. A mente de engenheiro, no entanto, esconde um observador arguto e sensível, uma dessas pessoas capazes de se misturar com naturalidade num grupo de desconhecidos. De Beirute a Havana, passando por Hamburgo, Timor Leste, Buenos Aires e incontáveis lugares mundo afora, Finetto colecionou grandes histórias e pequenos acontecimentos. Foi tão capaz de se misturar à vida local quanto de saber a hora exata em que o prudente é tomar distância e não se envolver. Por alguns momentos, fez parte da vida dessas pessoas. Em outros, foi protagonista involuntário do drama alheio. Às vezes, assistiu a essas realidades quase como de um periscópio. Foi a partir dessas observações que Finetto compôs seu Viagens à terra alheia, o manuscrito que mandou ao conterrâneo Luiz Ruffato. E é este livro dentro do livro que Ruffato irá transformar no romance Flores artificiais. Partindo de um esqueleto ficcional, Ruffato - o autor, e não o personagem do próprio livro - irá embaralhar as fronteiras entre ficção e realidade, sem jamais perder de vista a força literária que é a grande marca de sua obra."

Um homem bom é difícil de encontrar (****)








Flannery O'Connor
Nova Fronteira
224 Páginas



"Um homem bom é difícil de encontrar e outras histórias, lançado em 1955, é a mais famosa de todas as obras de Flannery O’Connor e aquela que a consagrou como uma das maiores escritoras do século XX. Enraizados na tradição gótica do sul dos Estados Unidos, os dez contos aqui reunidos revelam uma visão de mundo um tanto peculiar, em que o grotesco, o simbolismo religioso, o humor, a violência, a presença da graça divina e situações excepcionalmente tragicômicas se mesclam para revelar as complexidades do comportamento humano e, acima de tudo, a busca dos homens pela redenção"



Robinson Crusoé (****)






Daniel Defoe
Penguin
408 Páginas

"O argumento básico de Robinson Crusoé é universalmente conhecido. Isolado em sua “Ilha do Desespero” (ao largo da atual Venezuela) após um trágico naufrágio, o marujo inglês luta pela sobrevivência valendo-se de todos os escassos meios a seu alcance. Com o tempo e os utensílios recuperados do navio, ele chega a se tornar um competente marceneiro e agricultor, além de pastor de cabras e profundo conhecedor da Bíblia - a única leitura disponível. Sem contato com qualquer ser humano por mais de duas décadas, certo dia Crusoé salva um nativo do assassinato por canibais que haviam aportado numa das praias da ilha, e logo o faz seu criado, dando-lhe o nome de Sexta-Feira. Alguns anos mais tarde, o acaso leva um navio inglês às proximidades da ilha, dando início a um longo conflito com a tripulação amotinada."

Luz em Agosto (****)








William Faulkner
Cosac & Naify
448 Páginas




"Este livro de William Faulkner em nova tradução é um romance de arquitetura complexa. A ruptura com a linearidade desconcerta o leitor. O tempo é estilhaçado e é pela valorização dos estilhaços que Faulkner multiplica os pontos de vista, iluminando figuras sublimes e grotescas. Da atmosfera de violência e horror do Mississippi surgem personagens profundamente humanas. Mas a história não termina aí. Toda a maestria da construção de "Luz Em Agosto" se confirma no último capítulo, numa reviravolta narrativa que o consagrou definitivamente. O leitor, guiado pelo autor, encerra o livro em estado de assombro. Viveu intensamente o horror, tomou contato com os recônditos da alma. Percebeu o passado como um inimigo que não dá trégua. Será assombrado por imagens poderosas. Um livro que não tem fim."


Hannah Arendt


Há muitos filmes tratando do tema do Holocausto. Há uns filmes que eu detesto, como, por exemplo, “A vida é bela”. A justificativa do filme não me convenceu. Não gosto de nada que me coloque fora da realidade, mesmo que sob a desculpa de uma certa ludicidade do universo infantil. Não gosto de filmes que turvam a realidade ao mesmo tempo que tratam da própria realidade. Valeria a pena, como exercício didático do que estou dizendo aqui, assistir ao genial “Trem da vida”, que transborda todas as qualidades que faltam ao filminho do italiano Roberto Benigni. Aliás, dizem que o filme do italiano é um plágio descarado, um verdadeiro roubo de roteiro adaptado desse fascinante filme francês “O trem da vida”.

Polêmicas à parte, ou melhor, talvez insistindo nelas, devo confessar que, embora veja muitas qualidades no filme de Spielberg - A Lista de Schindler – este também não me agradou por recorrer ao lugar-comum do “vilão alemão enlouquecido”. O tema do alemão louco que teria posto em prática o assassinato de mais de 6 milhões de judeus é uma imagem que já está impregnada em nossa psique pela recorrente utilização dessa caricatura em tantos filmes, séries, comédias, etc. Todavia, ao ler o impressionante “Origens do Totalitarismo” e o revelador “Eichmann em Jerusalém”, ambos da filósofa judia Hannah Arendt, precisamos certamente desconstruir os mitos que a propaganda mundial fez-nos crer.

A ousada tese de Arendt nos dois livros é: “O fato de ter sido ou estar sendo vítima da injustiça e da crueldade não elimina a sua co-responsabilidade”. É! É isso mesmo o que você vai encontrar nos dois livros – a responsabilidade da vítima (no caso, o judeu) naquilo que fizeram contra ela. A crença do judeu num “anti-semitismo eterno” é um dos argumentos que Arendt expõe e que era compartilhado pelos judeus ao lado dos seus próprios algozes. O anti-semitismo foi encarnado como um destino inevitável pelo judeu, defende Arendt. Para ela, o próprio judeu dirigiu-se aos campos de concentração sob a forma de um cordeiro seguindo ao matadouro, porque acreditava nesse seu destino eterno. É a teoria do bode expiatório que, segundo a filósofa judia, “acentua a absoluta inocência das vítimas do terror moderno”. Por que os judeus e não outros? Tudo será justificado sobre as bases do anti-semitismo eterno. Este é o argumento usado tanto pelos algozes como pelos próprios judeus.

Em “Eichmann em Jerusalém”, além da denúncia de que os próprios judeus entregaram seus pares ao Holocausto e que eles, assumindo o papel histórico de bode expiatório, não se revoltaram contra os poucos guardas que empurravam milhares aos trens de carga, Hannah Arendt desmistifica também o mito do “alemão louco”, aquele ensandecido e fora de sua razão, o monstro germânico que engendrou o Holocausto para saciar o seu sadismo e mesquinhes. Esta imagem cai por terra. A filósofa judia olha para dois pontos fundamentais: primeiro, o homem que participou da máquina assassina que levou todo um povo à morte é um ser-humano normal, um simples operário do Estado, alguém que estava cumprindo ordens, um funcionário público – alguém que lançou sobre o Estado a sua responsabilidade pessoal de refletir e de sentir: a moral humana foi trocada pela moral do Estado. Aqui, quero explicitar a lição que aprendi ao deparar-me com isso que ela chama de a banalidade do mal: há uma esfera da existência humana em que Deus não permitiu – e nem permite – que nos “refugiemos” nEle – a esfera de nossa própria responsabilidade! Segundo ponto observado por Arendt em seu livro, desmitifica outra estupidez geral perpetrada pela mídia e livros de história: o Holocausto vendido como simplesmente um crime alemão! A observação de Hannah por todo o processo de julgamento de Eichmann expõe a verdade que levou ao veredito óbvio, populista, cheio de irregularidades e que findou por esconder os verdadeiros criminosos: o Holocausto foi um crime Europeu. Ninguém defendeu os judeus – nem a esquerda europeia! Todos os países da Europa “fecharam seus olhos” e enviaram à Alemanha e a outros campos criados pelos nazistas os seus próprios judeus. Todos participaram. Todos assassinaram. O criminoso “alemão louco” não ajuda em nada a causa judaica, apenas esconde o mal que habita dentro de toda raça humana. O “alemão louco” é uma caricatura, um mito, o vilão criado para que eu não tenha que assumir a minha culpa neste processo, mas fica o alerta: “cada crime precisa de um criminoso de carne e osso, do contrário negamos a responsabilidade humana”!

Enfim, são muitos temas surpreendentes levantados por Hannah em seus dois livros, contudo um tema também me instigou por revelar o que há por trás de “nossas boas ações”: os nazistas estavam sendo julgados porque assassinaram seres humanos ou porque destruíram uma cultura? Ora, os ciganos também foram devastados, mas não vemos tamanha comoção em relação a este grupo. Esta lógica macabra é a mesma que preserva culturas indígenas que assassinam crianças recém-nascidas em nome de alguma crença cultural e é também a mesma lógica que rege o aborto – a cultura feminista acima da dignidade da vida humana. Quando o ser humano é sacrificado no altar da cultura, então estamos diante de uma nova religião, de um novo deus e de uma terrível idolatria. Para Hannah Arendt, a comoção mundial ao Holocausto judeu se deve ao fato de terem destruído uma cultura milenar e não pala razão de terem assassinado seres humanos!

Cheguei até aqui apenas com a intenção de sugerir um filme sobre o Holocausto. Um filme sem caricaturas de alemães sádicos, mas com gente de carne e osso, assassinos de carne e osso, pessoas que entram no Estado e se veem como uma peça do sistema burocrático amoral. O filme é “O menino do pijama listrado” - um filme poético e assombroso. Aqui, ao contrário de "A vida é bela" a inocência da infância não é perdoada diante do peso da realidade engendrada pelo mundo dos adultos.

Carl Jung, sincronicidade e a barata

Há muitos anos, eu li dois livros que impressionaram profundamente minha psiquê, deixando marcas indeléveis. São eles “Freud e Jung – sobre a religião” e “Resposta a Jó”. Este causou-me escândalo pela forma como abordou a Bíblia e o cristianismo e aquele me chamou a atenção pela exposição didática com que tratou o tema que dividiu Freud e Jung.

Dois livros que, obviamente, são frutos do seu tempo, ou melhor, que representam a racionalidade iluminista do homem europeu e sua posterior derrocada. Freud representa o homem moderno na sua escolha pela razão e em sua preocupação científica em delimitar suas pesquisas fazendo um recorte na tez do mundo físico: um homem marcado pela filosofia de Descartes, Hegel e Spinoza. Essa mentalidade do Idealismo forjou perenemente o perfil de Freud e seus estudos, além de explicar a gênese da ruptura entre ele e Carl Jung. Por sua vez, a Psicanálise desenvolvida por Jung trouxe ao divã aquilo que os racionalistas rejeitaram: o poder da religiosidade do ser humano. Todavia, não posso me furtar a dizer que a cena mais impactante do livro “Freud e Jung – sobre a religião” foi a narrativa ali feita sobre um sonho que Jung tivera. Ele sonhara que Deus vinha caminhando num campo, um Deus gigante e que se depara com uma basílica, uma igreja cristã e, então, Deus se posiciona sobre a igreja, desce as calças que vestia, coloca-se de cócoras e defeca sobre ela...

Freud defendia que a causa das neuroses encontrava sua gênese na sexualidade, ou melhor, na repressão da libido humana. Insatisfeito em limitar todas as explicações a este campo, Jung começa a questionar seu professor se não poderia haver outras razões escondidas no campo das religiões, dos mitos e da parapsicologia, por exemplo (Carl Jung buscava orientar suas pesquisas na direção do Oculto, interessava-se por sessões mediúnicas e por precognição). Tudo isso, entretanto, era um verdadeiro absurdo para Freud. Enfim, enquanto Freud permaneceu no campo do provável, coube a Jung abrir as portas da percepção da ciência psicanalítica rumo ao improvável. Em “Resposta a Jó”, Jung nos apresenta um Deus – Javé – destituído de consciência, um Deus amoral! Um Deus que, na verdade, aprende com Jó e com os sofrimentos humanos, um Deus construído, um símbolo. Javé é analisado como um Deus que, junto com os homens, “quer fugir da injustiça cega”. E a grande epifania de Deus, para Jung, foi quando a Igreja Católica Romana decreta o dogma da Imaculada Conceição, elevando Maria à semelhança de um deus e entregando a Javé aquilo que lhe faltava: Maria era a Sofia do AT, a peça fundamental para equilibrar a masculinidade e o patriarcalismo da Santíssima Trindade. Diante desta pequena amostra das ideias desenvolvidas no livro de Jung, não é mera coincidência que a Europa apresente hoje um pós-cristianismo que, na verdade, é muito mais um renascer do antigo panteísmo. A decadência da modernidade freudiana é o advento de um panenteísmo pós-moderno revelado pela psicanálise de Jung no inconsciente de todos nós. Eis, então, dois livros que nos servem de ilustração para compreendermos os eventos ocorridos nos últimos dois séculos na Europa e que se estendeu ao Ocidente: a Modernidade e a Pós-modernidade! 

Por estes dias, assisti ao filme “Um método perigoso”, que narra exatamente este período de encontro e desencontro entre Freud e Jung e também a paixão intempestiva entre Jung e uma paciente sua, Sabina Spielrein, que se tornará mais tarde psicanalista, especializada em psicologia infantil. Há uma cena nesse filme que ilustra bem o que eu expliquei no parágrafo anterior. Jung questiona Freud se tudo teria que se restringir à sexualidade e se não se poderia pesquisar a metafísica, a parapsicologia, etc. Freud reage frontalmente a essa posição, mas, precisamente naquele momento da discussão entre os dois, o móvel da Biblioteca da casa de Freud dá um grande estalo. Jung diz ao seu professor que sabia que isso iria ocorrer, porque, nas palavras de Jung, enquanto Freud estava reagindo às suas ideias, ele sentira um fogo, uma queimação em seu estômago. Freud, compreendendo que tudo não passara de mera coincidência, ficou escandalizado com as ideias de seu pupilo, contudo Jung insistiu dizendo que o estalo iria acontecer de novo. Dito e feito! Mal terminara de falar, um novo estalo ocorre diante de Freud em sua estante de livros. Posteriormente, numa carta a Jung, Freud atribui o ocorrido a uma enganação, uma farsa forjada por Jung para desmoralizá-lo. 

Para Freud, tudo não passava de meras coincidências. Para Jung, coincidências não existiam. As coisas estão todas ligadas; os fatos que não tem conexão aparente estão conectados, assim como havia pessoas que se percebiam convergir em direção a outras por “coincidências” que denunciavam uma unidade espiritual entre elas e a isso Jung dá o nome de sincronicidade. E é com uma ilustração deste conceito junguiano que encerro este meu texto. Após assistir ao filme “Um método perigoso”, fui à biblioteca da minha casa rever os dois livros que abordei aqui. Ao sair da biblioteca, passei pelo quarto das minhas filhas e vi que, encostada à porta, havia uma enorme barata. Peguei a sandália e aproximei-me bem devagarinho. Num gesto típico dos que tem ódio desses seres nojentos, desferi contra ela uma pesadíssima sandaliada. Depois, ergui a sandália e pude ver a famigerada totalmente destruída, esmagada e com seus líquidos viscosos e brancos espalhados pelo chão. Fui ao banheiro pegar o papel higiênico e retirá-la dali, lançando-a à privada. Porém, para minha surpresa, ao retornar alguns segundos após ter saído da cena de meu crime, aquela barata enorme havia simplesmente... sumido! Procurei atrás da porta, pelo quarto, debaixo das camas, ainda que eu soubesse que aquela busca era em vão, porque vira aquele bicho ser totalmente destruído pela violência do meu golpe. A barata desaparecera... ou, talvez, nunca existira. Teria sido precognição ou sincronicidade? Simples coincidência? Tudo isso acontecendo logo naquela manhã em que eu acabara de ler que Jung costumava sentar à mesa da sua sala, passando longas horas conversando com fantasmas... 

A mística do jogo

Alieksei morre. Não a morte de todos os homens, mas a que se impinge sobre todos aqueles que caem nas armadilhas da mística de quaisquer vícios que tentam nos ludibriar.

Alieksei se entrega às ganas do pano verde. Entre os números vermelhos e os pretos da roleta, nosso personagem encanta-se pela mística do jogo. Esta é um fervor, um fanatismo, uma concupiscência dos olhos, da carne, do espírito...

Em algum momento, há em nós esse desejo de nos tornarmos deuses; controlarmos o que está totalmente fora do nosso controle. As mãos tremem, a boca seca, os músculos do rosto se contraem e algo em nossos estômagos se lança sobre o altar de sacrifício, à mesa de pedra, à roleta do jogo: “que fisionomias ávidas e transtornadas”! - analisa Alieksei, observando os jogadores.

Criatura semelhante ao seu criador, Alieksei - protagonista de “O Jogador” - nos revela o mundo que aprisionava Dostoiévski: a roleta, o jogo, os cassinos alemães do século século XIX. Dostoiévski se rendeu à mística das noites e dias insones daqueles templos. Dívidas e mais dívidas soterraram nosso genial romancista russo que esvaziava suas burras diante do croupier. Nosso protagonista chega ao fim do livro, repetindo aquilo que é a frase comum aos que sucumbem à qualquer vício: “Amanhã, amanhã, tudo isso terá terminado”!

A alma humana, toda alma humana, diz-nos Dorian Gray (Oscar Wilde), pode ser vendida, trocada, barganhada. “O jogador” é uma ilustração dessa sentença. Os personagens que rodeiam Alieksei interagem entre si como num jogo. Todos arriscam seus lances, blefam, recuam, avançam, ganham, perdem no pano verde da vida. Todos têm seu preço.

O general que aguarda ansioso a morte de Babuschka para receber a herança desta. Mlle. Blanche, que domina o general (e os homens) com suas promessas de fazê-los ver estrelas, aguarda um que lhe dê a segurança financeira que necessita. Des Grieux empresta a juros e controla vários viciados por detrás da cortina da história, inclusive era credor do general. Babuschka mesmo sabe dos abutres que só esperam vê-la morrer para se apoderarem de sua fortuna; mas ela, então, vem ao Cassino e arrisca todos os seus florins para o desespero dos que, de alguma forma, dependiam da herança dela.

Mas havia também Paulina com quem Alieksei estabelecera uma relação de servilismo. E esta é a bancarrota do protagonista de Dostoiévski: sucumbe ao jogo e não à amada. Pois o amor é apenas um lance de sorte, mais um item a ser manipulado sobre o pano verde. Pauline não se entrega ao nosso personagem, embora o ame, por ter ela também seus próprios interesses e dívidas a resolver. Assim, nessas tramas da vida, que se torna o croupier de todos os personagens, eles se apresentam como jogadores: alguns com seus caderninhos nas mãos, fazendo cálculos matemáticos na tentativa de adiantar o próximo lance; outros, como Alieksei, são impetuosos e irresponsáveis, arriscando o próprio coração. Na mesa de jogo, todos escondem suas verdadeiras intenções e motivações; na vida, também.

Dostoiévski teve sorte melhor do que seu personagem. Aliéksei sonha com uma ressurreição que não acontece; Dostoiévski, embora mergulhado na mais terrível miséria por causa das dívidas de jogo, amargando mesmo a pobreza e a quase demência, vê-se resgatado pelo amor de Ana Grigorievna e pelos romances que escreveu às pressas “tendo os credores a bater em sua porta”. Na verdade, Ana era uma jovem estenógrafa de apenas 21 anos de idade e que o ajuda datilografando os livros que ele dita para ela. As dívidas são exorbitantes e o tempo para a entrega dos livros exíguo. A nova contratada, admiradora da obra do escritor russo, encanta-o.

Dostoiévski aproxima-se de Ana expondo a ideia de um novo romance a ser escrito. Dostoiévski diz que gostaria de escrever “sobre um romancista velho e doente, que deseja casar-se com uma jovem cheia de vida. “Mas”, pergunta ele a Ana, “não será inverosímel dizer que essa jovem o ama?” Ao que Ana responde ao escritor russo: “Eu lhe diria que o amo e vou amá-lo a vida inteira”. Foi o modo como ele, 25 anos mais velho do que ela, propôs casamento à mulher que andara buscando a vida toda e finalmente encontrara”.

O Assassinato de Roger Ackroyd (***)







Agatha Christie
Editora Globo
296 Páginas





"Em uma noite de setembro, o milionário Roger Ackroyd é encontrado morto, esfaqueado com uma adaga tunisiana – objeto raro de sua coleção particular – no quarto da mansão Fernly Park na pacata vila de King’s Abbott. A morte do fidalgo industrial é a terceira de uma misteriosa sequência de crimes, iniciada com a de Ashley Ferrars, que pode ter sido causada ou por uma ingestão acidental de soníferos ou envenenamento articulado por sua esposa – esta, aliás, completa a sequência de mortes, num provável suicídio. Os três crimes em série chamam a atenção da velha Caroline Sheppard, irmã do dr. Sheppard, médico da cidade e narrador da história. Suspeitando de que haja uma relação entre as mortes, dada a proximidade de miss Ferrars com o também viúvo Roger Ackroyd, Caroline pede a ajuda do então aposentado detetive belga Hercule Poirot, que passava suas merecidas férias na vila. Ameaças, chantagens, vícios, heranças, obsessões amorosas e uma carta reveladora deixada por miss Ferrars compõem o cenário desta surpreendente trama, cujo transcorrer elenca novos suspeitos a todo instante, exigindo a habitual perspicácia do detetive Poirot em seu retorno ao mundo das investigações. O assassinato de Roger Ackroyd é um dos mais famosos romances policiais da rainha do crime."

Meridiano de Sangue (****)










Cormac McCarthy
Alfaguara
352 Páginas





"Meridiano de sangue é um romance épico. Nele, McCarthy reinventa a mitologia do Oeste americano para criar uma obra ao mesmo tempo grandiosa e arrebatadora sobre uma terra sem lei, em que o absurdo e a alucinação se sobrepõem à realidade. Desde as primeiras páginas, o leitor acompanha um rapaz sem nome e sem família, abandonado à própria sorte num mundo brutal em que, para sobreviver, precisa ser tão ou mais violento que seus inimigos. Recrutado por uma companhia de mercenários a serviço de governantes locais, atravessa regiões desérticas entre o México e o Texas com a missão de matar o maior número possível de índios e trazer de volta seus escalpos. McCarthy parte de fatos reais - a caçada aos índios, o destacamento de assassinos liderado pelo sanguinário John Joel Glanton - para compor uma obra que transcende a mera ficção histórica. Conduzidos por Glanton e o juiz Holden - uma figura quase sobrenatural, e um dos grandes personagens da literatura americana no século XX -, esses homens, que julgam já terem visto todos os horrores possíveis, irão aos poucos se aprofundar no verdadeiro inferno."



O Voo do Corvo (**)







Jeffrey Archer
Bertrand Brasil
600 Páginas





"O inicio dos negócios de Charlie Trumper se dá ao lado de seu avô, vendendo verduras e frutas em um carrinho de mão. A partir daí, o comerciante lutará para criar "O Maior Carrinho do Mundo", enfrentando uma guerra, encontrando o amor e descobrindo um misterioso e poderoso inimigo"

A escuridão da alma ou Tonio Kröger (***)







Thomas Mann
Cia das Letras
82 Páginas






"O volume traz ainda Tonio Kröger, narrativa de 1903 que Thomas Mann declarava ser uma de suas favoritas. A novela tem diversos traços autobiográficos e está centrada na relação entre artista e sociedade, um tema muito caro à obra de ficção do escritor, sobretudo nos primeiros trabalhos."


A Vida Peculiar de um Carteiro Solitáro (***)









Denis Thériault
Editora Leya
128 Páginas



"Cartas, poesia e um amor inesquecível. Bilodo vive a tranquila vida de um carteiro sem muitos amigos nem grandes emoções. Completa diariamente seu percurso de entrega e retorna sempre à solidão de seu pequeno apartamento em Montreal. Mas ele encontrou uma excêntrica maneira de fugir dessa rotina: aprendeu a abrir as correspondências alheias sem deixar rastros e passou a ler as cartas pessoais com as quais se depara. E foi assim que ele descobriu o primeiro grande amor de sua vida: a jovem professora Ségolène, que mantém uma misteriosa correspondência com o poeta Gaston, composta somente por haicais. Instigado pela elegância e simplicidade de seus versos, Bilodo se vê cada vez mais fascinado por essa forma de poesia. Mas quando é confrontado com a perspectiva de se ver privado das cartas de Ségolène, ele precisa tomar uma decisão que pode levá-lo mais longe do que podia imaginar. Talvez seja hora de compor seus próprios poemas de amor. “Peculiar e charmoso com um desfecho bem executado , esta novela traz à mente nada menos do que um Kafka apaixonado” The Guardian".











O Juiz e seu Carrasco (***)





Friedrich Dürrenmatt
L&PM Pocket
108 Páginas



"Em uma cidadezinha suíça, um policial exemplar é encontrado morto. Bärlach, um velho e doente comissário, amante de cigarros, de vodca e da boa mesa, investiga essa morte – ao mesmo tempo em que luta contra a sua própria, que parece cada vez mais próxima. Enquanto a polícia se vê às voltas com figurões locais, oficiais oportunistas tentam subir na carreira, e Bärlach faz as suas arriscadas jogadas. Na sombra, o assassino, um tipo maquiavélico, disserta sobre o bem e o mal, que ele considera possibilidades iguais...

Tendo como mote principal uma intriga policial, O juiz e seu carrasco, uma das obras mais conhecidas do escritor suíço Friedrich Dürrenmatt (1921-1990), trata, na verdade, num tom sarcástico, da tragédia da morte e da doença, da risível comédia humana. Uma pequena obra-prima à altura dos mestres Dashiell Hammett, Rex Stout, Raymond Chandler e Georges Simenon."


Frankenstein ou o Prometeu moderno (***)









Mary Shelley
Editora Penguin
424 Páginas



"O arrepiante romance gótico de Mary Shelley foi concebido quando a autora tinha apenas dezoito anos. A história, que se tornaria a mais célebre ficção de horror, continua sendo uma incursão devastadora pelos limites da invenção humana. Obcecado pela criação da vida, Victor Frankenstein saqueia cemitérios em busca de materiais para construir um novo ser. Mas, quando ganha vida, a estranha criatura é rejeitada por Frankenstein e lança-se com afinco à destruição de seu criador. Este volume inclui todas as revisões feitas por Mary Shelley, uma introdução da autora e textos críticos de Percy B. Shelley e Ruy Castro. Há ainda um apêndice com textos de Lorde Byron e do dr. John Polidori."


Mulher no Escuro (*)









Dashiell Hammett
L&PM Edições
104 Páginas



"Numa noite escura, uma jovem mulher surge do nada, assustada e ferida, buscando refúgio em uma casa isolada. O homem que ali mora a acolhe, mas ele não está preparado para lidar com a misteriosa desconhecida, nem com os homens que a perseguem."


Confissões de um jovem romancista - Umberto Eco


“Confissões de um jovem romancista”, de Umberto Eco, é uma armadilha. Não leia! São quatro ensaios que fisgam você, leitor desavisado, com o intuito de fazer com que você se apaixone pelo autor (ou se apaixone mais ainda) e fazer com que você deseje descontroladamente ler seus romances (ou reler)!

Reler seus romances... Durante a leitura encantada desse pequenino livro de apenas 152 páginas, dei-me conta que nunca lera os romances de Umberto Eco. Apenas lera seus textos técnicos de Semiótica e linguística. Nunca? Claro que li. Há muito tempo, li Baudolino e a A misteriosa chama da Rainha Loana. Mas... nunca li mais nada de seus romances. Nem o primeiro e mais famoso deles, O nome da rosa. Vi o filme. Mas nunca li o livro! Como pode ser? 

A lista dos romances de Umberto Eco (sequestrada na wikipedia) começa no O nome da rosa (Il nome della rosa, 1980), seguido de O Pêndulo de Foucault (Il pendolo di Foucault,1988); A ilha do dia anterior (L'isola del giorno prima, 1994); Baudolino (Baudolino, 2000); A misteriosa chama da rainha Loana (La misteriosa fiamma della regina Loana, 2004); O Cemitério de Praga (Il cimitero di Praga), 2011; e seu último romance, O número zero, 2015.

Da lista do parágrafo anterior, apenas li dois livros e o livro que apresento aqui, uma explicação deliciosa de como eles foram urdidos pelo autor, dá essa vontade doida de parar tudo o que a gente está fazendo e colocar em dia essa lista de romances. Que vergonha confessar aqui a minha queda nessa armadilha... Já baixei O nome da rosa no meu kindle... Meu Senhor, sinto que estou iniciando uma longa jornada de leitura nos romances do meu professor de semiótica predileto! Ai, preciso organizar meu tempo em listas, citar meus segundos, minutos, somar as chances, meus ensejos, ocasiões e oportunidades e tomar a decisão prazerosa de acordar uma hora mais cedo e dormir uma hora mais tarde! rsrsrs

Mas quais os livros de Umberto Eco que eu li? Como disse, exatamente aqueles que tratam da semiótica. A lista é bem maior dos escritos dele nas áreas da filosofia, linguística e arte (lista sequestrada da wikipedia):

Obra aberta (1962)
Diário mínimo (1963)
Apocalípticos e integrados (1964)
A definição da arte (1968)
A estrutura ausente (1968)
As formas do conteúdo (1971)
Mentiras que parecem verdades (1972) (coautoria de Marisa Bonazzi)
O super-homem de massa (1978)
Lector in fábula (1979)
A semiotic Landscape. Panorama sémiotique. Proceedings of the Ist Congress of the International Association for Semiotic Studies (1979) (coautoria de Seymour Chatman e Jean-Marie Klinkenberg).
Viagem na irrealidade cotidiana (1983)
O conceito de texto (1984)
Semiótica e filosofia da linguagem (1984)
Sobre o espelho e outros ensaios (1985)
Arte e beleza na estética medieval (1987)
Os limites da interpretação (1990)
O signo de três (1991) (coautoria de Thomas A. Sebeok)
Segundo diário mínimo (1992)
Interpretação e superinterpretação (1992)
Seis passeios pelos bosques da ficção (1994)
Como se faz uma tese (1995)
Kant e o ornitorrinco (1997)
Cinco escritos morais (1997)
Entre a mentira e a ironia (1998)
Em que creem os que não creem? (1999) (coautoria de Carlo Maria Martini)
A busca da língua perfeita (2001)
Sobre a literatura (2002)
Quase a mesma coisa (2003)
História da beleza (2004) (organização)
La production des signes (2005 em francês)
Le signe (2005; em francês)
Storia della Brutezza (2007). Em Portugal, traduzido como História do feio, e, no Brasil, como História da Feiura.
Dall'albero al labirinto. No Brasil, como Da Árvore ao Labirinto (2007)
A vertigem das listas (2009)
Não contem com o fim do livro (2010) (co-autoria de Jean-Claude Carrière)
História das Terras e Lugares Lendários (2013)

Se eu não me engano, da lista acima, li apenas os livros que estão em destaque. Parece que citei pelo menos 4 listas só neste meu texto: 1) a lista dos romances escritos por Umberto Eco; 2) a lista dos romances que li; 3) a lista dos ensaios escritos; e, finalmente, a lista dos ensaios que li. Obviamente, que surgem outras duas listas negativas aqui, pois para cada lista criada do que li, subentende-se uma outra feita dos que não li. Poderia fazer mais listas: 1) os romances que quero ler de Umberto Eco; 2) os romances que não faço questão de ler (mentira, esta lista não existe); 3) os ensaios que anseio desfrutar; 4) os ensaios que jamais lerei (mentira, esta lista também não existe, a não ser que eu morra antes de cumprir a tarefa). Que outras listas posso fazer? Dos ensaios que li, quais que mais gostei? Isto seria uma outra lista também. 

Enfim, por que estou fazendo isso? Por que estou criando essas infinitas listas? O último ensaio do livro “Confissões de um jovem romancista” é precisamente sobre o prazer do autor em ler e fazer listas. E devo confessar: é uma delícia viciante! Boa leitura!

A mulher sem pecado (Nelson Rodrigues)


A 1ª peça de teatro publicada por Nelson Rodrigues. E na esteira dessa leitura tenho lido todas as demais peças desse que foi chamado de tarado, anjo pornográfico e até de “o Marquês de Sade dos Trópicos”!

Esta peça em 3 atos já anuncia tudo aquilo que ainda será tratado em profundidade por Nelson Rodrigues: incesto, traição, hipocrisia, loucura, patologia e psicopatias mil! Todos esses temas e muitos outros afloram dos textos de Nelson. Se eu gostei desta peça? Amei! Vi nela todas as nossas doenças encobertas pelo véu de nossas hipocrisias.

O que aprendo com o Nelson? Teologicamente, a constatação teatral de nossa natureza totalmente depravada. Politicamente? Artisticamente? Que nada é neutro, nem à esquerda e nem à direita! Somos todos pecadores.

Assim como ocorreu no último livro cristão conservador que li, Pensamentos secretos..., que mostra que há uma direita religiosa que carece de ser evangelizada, agora em Nelson Rodrigues, vejo que há uma direita que pode se apresentar fora do pacote direitista! Por mais contraditório que pareça, mas a direita brasileira sofre da mesma mentalidade de pacote imposta pela esquerda: ou você compra o ideário completo do menu ou você será tratado como “esquerda infiltrada”!

Nelson Rodrigues é um desses que não se deixa limitar pelas “definições definidas”, rótulos cerceadores, conceitos impostos. Artisticamente, ousou explorar a sexualidade pervertida em suas peças, mas, para a surpresa de muitos, fora de seus textos era um conservador, anticomunista e defensor das tradições e costumes da família brasileira. Há uma explicação? Há! Todavia, tratarei de esmiuçar Nelson Rodrigues noutro texto.

Agora limito-me a dizer que tanto Nelson Rodrigues como Gilberto Freyre foram conservadores, anticomunistas, todavia execrados e deixados de lado intelectualmente tanto pela esquerda como pela direita (ou pela burguesia, como gostava de dizer o próprio Nelson). E mesmo como conservadores e admiradores um do outro, Nelson Rodrigues e Gilberto Freyre tinham visões de mundo diferentes sobre a formação do homem brasileiro e nossa antropologia nacional. E aqui é um dos pontos que me chama a atenção em Nelson. Enquanto que para Gilberto Freyre, o Brasil era uma democracia racial, Nelson Rodrigues via no Brasil um país totalmente racista, onde até o negro não gosta do negro (leia a assustadora peça “O anjo negro”)!

O Brasil tem sido dominado, recentemente, por um “avivamento conservador”. Muitos têm se colocado como de direita e apresentado suas ideias em oposição às postulações da hegemônica esquerda brasileira. O que venho observando, contudo, é que dentro desse movimento “conservador” quem não fecha o pacote não pode ser considerado parte desse grupo. Assim, um seleto grupo de “católicos monarquistas” têm se apresentado como os únicos verdadeiros representantes de uma legítima direita conservadora. Outros restringem o pensamento conservador aos usos e bons costumes de uma elite, de uma aristocracia, de um modelo de família e comportamento como critérios para se determinar quem é isso ou quem é aquilo.

É em meio a essa cultura do arroto que vejo hoje no Brasil, de um arroto conservador, que encontro no passado recente dois personagens, Nelson Rodrigues e Gilberto Freyre, que teriam sido lançados no ostracismo por essa nossa direita de facebook, se hoje estivessem produzindo as obras produzidas naquele tempo. Enfim, temos muito o que aprender, porque, nas palavras de um sábio indígena amigo meu, “posso ser o que você é sem deixar de ser quem eu sou” – eis uma preciosa lição a uma direita que só aceita o que for espelho. Viva Nelson Rodrigues!

Pensamentos secretos de uma convertida improvável (Rosária Champagne Butterfield)

“Pensamentos secretos de uma convertida improvável” é um livro que me levou diversas vezes, durante a leitura, de volta ao tempo da minha faculdade em Brasília e, mais precisamente, à época da minha conversão. Não apenas porque o ambiente da nossa conversão foi semelhante, ambos estávamos na Academia, ela como professora e eu como aluno, mas também o ambiente sexual em que andávamos era parecido.

Na verdade, como os livros que leio me levam a muitas reflexões pessoais, tanto sobre o meu trabalho missionário como sobre minha vida pessoal também, não consigo escrever sobre algo sem compartilhar como que aquela leitura me atingiu. Escrevo para não esquecer os diálogos que tive com o livro: o que concordei, o que não concordei, o que mudou dentro de mim e o que vai ser diferente dali para frente. Livros causam isso em mim.

Por que estou escrevendo isso? Porque, seguindo a linha do que disse no parágrafo anterior, escrevi uma resenha (será que posso chamar esses escritos de resenha?) de duas folhas sobre este livro. Contudo, apaguei tudo! Por duas razões. A primeira porque muitas ideias que escrevi e que foram instigadas pela leitura do livro, mesmo que fossem coisas que já vinha pensando há um certo tempo, são reflexões ainda muito cruas. A segunda razão é que me vi escrevendo coisas muito, muito pessoais, porque, como disse, o ambiente de conversão da autora do livro foi muito semelhante ao meu. E mesmo que eu tenha uma facilidade enorme de escrever sobre minha própria vida (certa vez, alguém me disse isso sobre as coisas que eu escrevo), de repente, me fiz a mesma indagação da Rosária no livro: por que escrever sobre a nossa própria vida?

Escrever sobre nós mesmos é sempre um risco. Quem fala de si se torna vulnerável e se coloca na mão de pessoas estranhas. Mesmo os cristãos são muito estranhos. A autora teve que enfrentar igrejas que a colocaram de lado e que não receberam o marido dela como pastor, por causa da vida pregressa dela. Você acredita nisso? É como se as igrejas recusassem a Zaqueu por ter sido corrupto ou a Paulo por ter sido assassino. Igrejas e pessoas que se dizem cristãs!!!

Hoje já vivi o suficiente no meio evangélico para entender como, infelizmente, o sistema funciona em muitos desses “lugares de Graça”. Eu mesmo ouvi, nestes dias, um líder de uma igreja falar do prejuízo que é quando a igreja local recebe pessoas convertidas que vêm do mundo. Isso mesmo que você está lendo!!! Na ótica dele, nós que viemos do mundo e não fomos criados dentro da Igreja trazemos muitas coisas complicadas para as igrejas locais... Para ele, e ele me disse isso com todas as letras, a igreja deve crescer vegetativamente! É o mais saudável para ela!

Eu queria ter nascido numa família evangélica. Queria ter sido ensinado desde criança no caminho em que deveria andar. Eu tenho uma inveja santa de quem nunca conheceu o mundo, sendo abençoado pela educação na igreja. E tenho também um orgulho, orgulho mesmo, das minhas filhas que estão tendo o que eu não tive: uma família da Aliança! Sempre digo que, se eu soubesse que a vida com Cristo é que é vida de verdade, eu teria me convertido muito, mas muito antes! Todavia, obviamente, Deus não quis que fosse assim.

Rosária escreve isso no livro (e hoje eu sei que é verdade), que muitos crentes não querem saber do que Cristo fez por nós, enquanto outros, dentro das igrejas, querem apenas usar desses testemunhos como propaganda de suas denominações, mas não nos querem convivendo entre eles. Por outro lado, há os mercenários adoradores de si mesmos, eu sei, e que buscam holofotes, usando as igrejas como palcos de um circo de horrores para divulgação bizarra de si mesmos. Tudo isso é muito sério e fala muito sobre o tipo de igreja que temos plantado. O que me leva a entender ainda mais que não só a esquerda materialista e pragmática precisa ser evangelizada, mas, indubitavelmente, há uma direita religiosa e hipócrita que, de fato, não conhece a Graça de Deus - e essa exposição é um dos pontos altos do livro para mim!

O livro da Rosária me fez pensar muito em muitas coisas. Muitas que não convém falar sobre elas ainda. Outras que me ajudaram a entender melhor problemas importantes que acontecem no meio missionário, mas, pelo menos por enquanto, também devo guardar no meu coração somente. Assim, fica o convite para que você possa ler esse livro desafiador e que o Espírito Santo sopre sobre você como tem soprado sobre mim e sobre a minha família.

Para adquirir o livro: 
https://editoramonergismo.com.br/products/pensamentos-secretos-de-uma-convertida-improvavel
Após a leitura, classificarei os livros assim:
Péssimo [0] Ruim [*] Regular [**] Bom [***] Muito Bom [****] Excelente [*****]