Eleitos de Deus [Releitura] (**)



R. C. Sproul
Editora Cultura Cristã
160 páginas


"Se de fato Deus é Deus, então ele é Soberano sobre todas as coisas, todas as decisões.
Nós o amamos porque ele nos amou primeiro".

R. C. Sproul, (B. D., Pittsburgh Theological Seminary e Th.D., Free University of Amsterdam) é professor em vários seminários e autor de vários livros.

16 comentários:

Jorge Fernandes Isah disse...

Sproul escreve sobre um tema espinhoso e muito mal-entendido, mesmo entre calvinistas. Mas a sua linguagem simples e de fácil compreensão, amortiza um pouco do impacto de se descrever algo tão profundo, completamente enraizado nas Escrituras, que interfere diretamente em toda a fé cristã, e ao mesmo tempo é relegado a um segundo ou terceiro plano ou mesmo negligenciado não somente pelos crentes em geral, mas especialmente pelas lideranças.

No início, vemos um relato pessoal de Sproul, antes um não-calvinista convicto e opositor da doutrina da predestinação, e a batalha que travou contra a revelação bíblica (apresentada por seu professor, o John H. Gerstner), culminando, finalmente, em sua "conversão" à doutrina que se chama Calvinismo, que nada mais é do que a doutrina pregada por Jesus e os apóstolos.

Aqui, temos uma amostra da capacidade narrativa do autor em cativar e conquistar o leitor, mesclando seu testemunho pessoal com a teologia.

Ainda na introdução, há uma pequena abordagem histórica sobre a relação Calvinismo x Arminianismo e seu irmão gêmeo (mas não univitelino) Pelagianismo; mostrando a posição de alguns renomados teólogos históricos e contemporâneos.

O livro serve como uma ótima introdução ao estudo da doutrina da predestinação, o qual estou relendo-o passados quase dois anos; e que indico sobremaneira a todos os interessados em conhecer e se aprofundar na sã doutrina bíblica (ainda que não concorde com tudo o que Sproul escreve, mesmo nesta obra).

Fica a sugestão.

Jorge Fernandes Isah disse...

Sproul acerta em muitos pontos, ao descrever corretamente a relação entre a predestinação e a soberania de Deus, e suas consequências teológicas: o mal, o pecado, a vontade e a responsabilidade humanas, etc.

Durante a apresentação de seus argumentos, o autor descreve-os corretamente (no geral), porém, ao final deles, exime-se de conclusões, apelando para o "mistério".
O que parece é que ele não as quer dar, seja porque não as tem verdadeiramente, seja por temer a reação do leitor, que se sentirá preterido em sua "relevância".

A verdade é que, em alguns pontos, vemos Sproul se autocontradizer, por exemplo, ao referir-se à Confissão de Westminster: "enquanto afirma a soberania de Deus sobre todas as coisas, a Confissão também assevera que Deus não faz mal à vontade humana nem a violenta. A vontade humana e o mal estão debaixo da soberania de Deus" (pg 20-21).
Algumas páginas após: "Se admitimos que Deus pode salvar os homens violentando suas vontades, por que então ele não violenta a vontade de todos e traz todos à salvação?". Ao que conclui: "eu não sei. Não tenho idéia por que Deus salva alguns e não todos" (pg 27).

Se, ao invés disso, ele tivesse lido atentamente o que Paulo diz, encontraria a resposta: "Pois diz a Moisés: Compadecer-me-ei de quem me compadecer, e terei misericórdia de quem eu tiver misericórdia. Assim, pois, isto não depende do que quer, nem do que corre, mas de Deus, que se compadece. Porque diz a Escritura a Faraó: Para isto mesmo te levantei; para em ti mostrar o meu poder, e para que o meu nome seja anunciado em toda a terra. Logo, pois, compadece-se de quem quer, e endurece a quem quer...
E que direis se Deus, querendo mostrar a sua ira, e dar a conhecer o seu poder, suportou com muita paciência os vasos da ira, preparados para a perdição; Para que também desse a conhecer as riquezas da sua glória nos vasos de misericórdia, que para glória já dantes preparou" (Rm 9.15-18, 22-23).

O princípio da autoridade divina sobre tudo e todos está claramente disposto, bem como o porquê de Deus assim quere-los.
Bastaria que Sproul não fingisse não ler o que leu, para encontrar a resposta às suas perguntas.

Não acredito e não vejo na Escritura nenhum respaldo para a idéia do "mistério". Não há mistério na Bíblia. Ela é suficiente para responder todas as inquirições humanas e não deixar nada no "ar". Tudo aquilo que a nossa mente limitada, caída e pecaminosa perguntar, Deus tem uma resposta pronta na Escritura. O que falta a muitos é se submeterem a ela, o que no caso, parece ser o problema de Sproul, como o de muitos outros teológos

Jorge Fernandes Isah disse...

O que Sproul temeu afirmar foi (nem todos os pontos):
1)Deus é soberano e autoridade sobre toda a Sua criação, inclusive, o homem.
2)Deus preordenou tudo no universo, inclusive o mal e o pecado, até mesmo as nossas mínimas atitudes e pensamentos. Nada está livre do poder de Deus, pois se assim estivesse, Deus não seria o Todo-Poderoso.
3)O fato do homem não ser livre, não exclui a sua responsabilidade sobre os seus atos. O homem é responsável não porque é livre, mas porque praticou esses atos; e, ao executá-los, tornou-se responsável por eles, e o único culpado e réu.
4)Responsabilidade não pressupõe liberdade humana (livre-arbítrio ou autonomia) mas autoridade divina, a qual foi estabelecida pela Lei Moral (a primeira delas promulgada no Éden: aquele que comer do fruto da árvores do bem e do mal morrerá).
5)Deus é justo. Não há padrão de justiça superior a Ele.
6)Deus é santo. Não há padrão de santidade superior a Ele.
7)Deus é Todo-Poderoso. Não há poder superior a Ele.
8)Deus não está sujeito à Sua criação, nem mesmo à Lei Moral. Ela é para as Suas criaturas, portanto, aplicam-se somente a elas. Não se pode aplicar a Lei Mora a Deus, porque ela está no nível da criação, não do Criador.
9)Deus não peca, exatamente, pelo mesmo princípio de autoridade máxima, e do pecado ser criação, logo, ele está no nível da criação, não do Criador.

Estes são alguns dos pontos que provavelmente Sproul discorrerá durante o seu livro. De minha parte, já os tenho respondido.

Algo que seja abordado diferentemente pelo autor, comentarei. Senão, encerro por aqui, sabendo que, de qualquer forma, todos devem ler “Eleitos de Deus”, utilizando-se da revelação escriturística para confirmá-lo ou não; ainda que certos conceitos sejam “duros” demais mesmo para calvinistas.

Não importa amaciá-los, nem endurecê-los, mas aceitá-los assim como Deus os revelou.

Jorge Fernandes Isah disse...

Algo complexo é a utilização por parte do autor de termos que não são claramente definidos no livro ou que, quando são, acabam sendo utilizados com outro sentido, diferente daquele proposto anteriormente.
Por exemplo, a questão do livre-arbítrio, que hora significa a autonomia da liberdade humana, hora a capacidade de escolha do homem (mesmo sem autonomia).

Sproul até define o livre-arbítrio, mas acaba por misturá-lo a definições de vontade/escolha, desde as mais simples e corriqueiras como a capacidade de se escolher o sabor de um sorvete, até a presumível capacidade dos crentes de escolher entre pecar e não pecar após o novo-nascimento.

Esse entranhamento de conceitos leva mais à confusão do que ao esclarecimento, portanto, seria conveniente que o autor estabelecesse claramente quais são as definições de palavras-chaves à narrativa do livro, a fim de que o debate e o próprio entendimento do que ele venha a ser não se comprometa.
E isso é o que parece acontecer. Fica-se com a impressão de que Sproul, ele mesmo, está confuso quanto ao que escreve, e é incapaz de elucidar aquilo que ainda não está claro em sua mente.

Há ainda erros (não sei se do autor, do tradutor ou da revisão) como por exemplo: "Antes da queda foram concebidas a Adão duas possibilidades: a capacidade para pecar e a incapacidade para não pecar. A idéia de 'incapacidade para não' é um pouco confusa porque, em nossa língua, é uma dupla negativa... Colocado de outra maneira, significa que, depois da queda, o homem era moralmente incapaz de viver sem pecar" (pg 49).
Ao que parece, Sproul confundiu o conceito de Agostinho da capacidade humana antes da queda com depois da queda, pois inicialmente parece afirmar algo sobre Adão antes da Queda que se refere a Adão depois da Queda; e ao concluir a sentença fala completamente do Adão depois da Queda (segundo Agostinho).
Ou houve um erro na elaboração do argumento, ou faltou e foi suprimido um trecho do argumento na edição do livro, por erro na diagramação.

Nesta 3a. edição, isso parece irresolvido, o que pode ser corrigido nas próximas edições.

De qualquer forma, ainda que Sproul se esforce em definir os conceitos (e isso acontece), ele os mistura de tal forma que os conceitos se perdem em si mesmos, ou são incorporados a outros, o que os torna híbridos, insatisfatórios e irresolutos.

Jorge Fernandes Isah disse...

Segundo Agostinho e Sproul (ele parece concordar com o Pai da Igreja) o homem e a capacidade de pecar podem ser definidos das seguintes formas:

1)O homem antes da Queda: capacidade de pecar e capacidade de não pecar.

Meu comentário: não vemos na Bíblia nenhuma afirmação quanto a esse axioma. Ele é mais fruto de uma premissa que justifique a Queda do ponto de vista humano, do que do ponto de vista da soberania de Deus, e uma tendência a "absolver" Deus da Queda do homem, ainda que a maioria dos calvinistas aceitem a predestinação e o decreto eterno, e, portanto, a Queda como um propósito divino, mas sem aceitar a Sua ação efetiva e direta na Queda do homem.
Por isso, se afirma, desde Agostinho, que Adão detinha o livre-arbítrio. Mas onde está escrito que ele o tinha? Tanto que, na primeira tentação, ele cedeu, e pecou; e a sua capacidade de não-pecar em nada lhe serviu e não prevaleceu.
Afirmar a neutralidade de Adão quanto à possibilidade de escolha (e o livre-arbítrio pressupõe neutralidade de escolha, não estando ela sujeita a nenhuma coação externa ou mesmo interna) é ir contra a lógica. A própria mentira da serpente, distorcendo uma ordem clara e expressa de Deus (e a ordem de Deus não é uma espécie de coerção?) demonstra que houve uma influência exterior, e de que essa influência foi acolhida no coração de Adão, e, portanto, ele decidiu que aquilo que Deus havia dito era mentira, e de que aquilo que a serpente havia dito era verdade.
Como ele conseguiu chegar a tal conclusão se sua escolha estava neutralizada pelo livre-arbítrio? Seria possível a Adão alguma escolha na neutralidade?
A neutralidade pressupõe a não-escolha. Se há neutralidade, como escolher? E se não havia o deliberado desejo de se rebelar contra Deus, como lhe foi possível desobedecê-lo? E não sabendo o que é o mal (que até então não havia no Éden), como Adão poderia escolhê-lo? Conhecendo apenas o bem, é possível se escolher o mal que não se conhece?
A questão aqui não é de capacidade de escolha, mas do decreto eterno de Deus que fez com que Adão caísse, a fim de que se cumprisse toda a vontade divina.
Adão não havia pecado, mas era necessário e inevitável que pecasse; pela vontade decretiva de Deus.
E foi o que aconteceu.

Jorge Fernandes Isah disse...

Continuando...

2)O homem depois da queda: tem a capacidade de pecar e a incapacidade de não pecar

Meu comentário: esses conceitos são uma maneira de se entender a ação do pecado na vida do crente e do não-crente. Contudo, muitos incrédulos escolhem não pecar, mesmo quando estão diante da opção de fazê-lo. Como explicar essa situação? O ímpio sempre pecará?
Ao meu ver, o livre-arbítrio ou a capacidade da vontade humana estará sempre sujeita à vontade divina, e, portanto, jamais teremos escolhas livres, nem mesmo segundo a nossa natureza.
O fato não é se temos ou não a capacidade de escolha, mas em que situação e circunstâncias nossas escolhas são livres. Livres de quem? De Deus?
O que muitos calvinistas fogem é do determinismo, ou seja, como Deus pode decretar tudo no universo, inclusive os mais insignificantes e míseros eventos e pensamentos, se o homem é livre para escolher, seja qual for essa noção de liberdade, e mesmo que ela seja limitada pelo poder soberano de Deus?
Segundo o padrão 2 de Agostinho e Sproul, o ímpio jamais deixará de pecar, e a sua escolha será sempre para o pecado. Contudo, existe a diferença entre natureza e pecado. A natureza caída não pressupõe necessariamente como fim o pecado, ele encontra-se no "estado pecaminoso", aquele estado em que o homem está em deliberada rebeldia a Deus, contudo, ainda sob o poder controlador de Deus, o qual ativamente age mesmo no pecador, e assim, nem sempre ele será levado a pecar. Deus o usará muitas vezes para cumprir o propósito de não-pecar. Aí está o dilema.
Da mesma forma, ao regenerado não se pressupõe a capacidade de não-pecar. O seu estado saiu do "pecaminoso" para o "santo" ainda que ele cometa pecados e a maioria das suas decisões sejam a favor do pecado.
O que temos aqui não é a liberdade da vontade humana, mas a liberdade divina de fazer com o homem o que bem quiser, e que, portanto, fará com que réprobos escolham não pecar, e fará com que santos escolham pecar.

Logo, esse quadro é ainda uma tentativa de justificar a Queda e o estado natural do homem e o estado regenerado do homem a partir do próprio homem, e não de Deus.

Continua...

Jorge Fernandes Isah disse...

Continuação...

3)O homem renascido: tem a capacidade de pecar e a capacidade de não pecar.

Meu comentário: Em quais condições? De pecar estando livre de Deus? De não pecar estando livre de Deus? Novamente voltamos ao dilema descrito no item 1 e 2.
Até que ponto o homem é livre de Deus para pecar e não pecar?
Até que ponto Deus é soberano para fazer com que o homem peque e não peque?
Até que ponto o homem pode ser livre sem ferir a soberania de Deus?
Até que ponto Deus é soberano e o homem livre?
Ou estamos falando de conceitos que se opoem e se anulam?
A questão é:
a)Deus é soberano.
b)O homem é livre, e Deus não existe.

Jorge Fernandes Isah disse...

Continuação...

4)O homem glorificado: tem a capacidade de não pecar e a incapacidade de pecar.

Meu comentário: finalmente, um conceito bíblico. Este é o único em todo o quadro que tem o respaldo da Escritura, e que não implica em nenhuma bobagem como a liberdade de escolha do homem, seja pela neutralidade do livre-arbítrio ou seja parcialmente determinada por Deus.
Na eternidade não pecaremos porque o pecado não mais existirá, seremos como Cristo, e impedidos de pecar. Não há aqui nenhum conceito embutido de liberdade do homem. Seremos assim, porque Deus assim o quer, da mesma forma que os outros "estágios" do eleito também o são pela exclusiva vontade de Deus.
Se, na glória, não seremos "livres", porque o somos agora ou antes?
A liberdade é um desejo do homem, mas há de se entender que ela não pode deixar de prescindir a soberania de Deus. E, por conseguinte, a Sua glória. A Bíblia é clara em afirmar que Deus não abre mão da Sua glória, portanto, porque Ele criaria o homem com alguma liberdade?
Acontece que a liberdade existe, em princípio, para validar a responsabilidade do homem. Quer os calvinistas queiram ou não. Para se afirmar a responsabilidade não se precisa afirmar a liberdade (como disse anteriormente, não importa o grau nem o estágio de liberdade, ela sempre significará liberdade de Deus).
A responsabilidade humana está diretamente ligada à autoridade divina, que estabeleceu a transgressão como pecado, e como consequência, a punição e condenação pela infração cometida.
É simples. O homem é acusado e condenado não por ser livre para escolher, mas porque cometeu o delito, a infração. Seja por vontade própria ou não.
Isso é que faz do homem um pecador, um réu. Nada além disso.
Portanto, tanto o conceito de liberdade como o conceito de responsabilidade atrelada à liberdade do homem são falsos e antibíblicos.

Jorge Fernandes Isah disse...

Pensei em uma analogia para demonstrar a impossibilidade da liberdade, e de que os homens são igualmente livres:

a)Um homem atira no outro, matando-o (não tendo a intenção de matá-lo; o tiro saiu por descuido). Quem foi livre? O que atirou, a maioria dirá. Mas e no caso do morto? Onde está a sua liberdade de escolher viver?
E, caso o assassino não quissese o defunto morto, onde estaria a sua liberdade de não matar?
Afinal, quem é livre? O assassino ou o morto? Ou ambos não têm liberdade alguma?
Houve opção de escolha? Ou não houve escolha alguma?
Poderíamos enquadrar o caso como uma fatalidade, o acaso, a má-sorte, coincidência, ou o propósito decretivo de Deus?
Creio que, se em um momento sequer, o homem for privado da liberdade de escolha, isso é sinal de que ela não existe, não passa de pura ficção.

Não sei onde isso vai dar. É apenas para pensar. E, nem mesmo sei se o exemplo é válido. Mas direi, quando souber.

Jorge Fernandes Isah disse...

Apesar da irrelevância da questão (se a eleição veio antes ou depois da Queda), Sproul ataca o conceito supralapsariano, como lemos: "Alguns argumentam que Deus primeiro predestinou algumas pessoas à salvação e outras à condenação, e então decretou a queda para ter certeza de que algumas pessoas iriam perecer. Algumas vezes essa visão pervertida é atribuída mesmo a calvinistas. Essa idéia era repugnante a Calvino e é igualmente repugnante a todos os calvinistas ortodoxos. A noção é algumas vezes chamada de 'hipercalvinismo'. Mas mesmo isso é um insulto. Essa visão não tem nada a ver com Calvinismo. Em vez de hipercalvinismo, é anticalvinismo" (pg 73).

O que temos aqui? Sproul claramente refuta e coloca os supralapsarianos no roll dos infames, dos insultuosos, dos pervertidos contra Deus. A sua visão é nitidamente infralapsariana, mas mais do que isso, é tendenciosa, irracional.

Mas, a despeito de grandes teólogos calvinistas optarem pelo esquema "supra", por que Sproul insiste na degradação deles?
Ele mesmo explica: "Por que a visão calvinista da predestinação sempre acentua o caráter gracioso da redenção de Deus" (pg. 73).

Ora, e o que isso tem a ver verdadeiramente com Deus, Sua vontade, Seu decreto e a Bíblia? Nada. Simplesmente as acusações de Sproul, bem como seu argumento, nada têm a ver com os princípios bíblicos. Até porque a Bíblia não se afirma "infra" ou "supra", apesar de Romanos 9 fazer uma clara alusão ao esquema supralapsariano.

Se levarmos em consideração que existe um único decreto eterno e não vários, e de que para Deus não há o tempo (não havia criado-o até então), e sua mente não se comporta como a mente humana no sentido de entender as coisas fragmentadas e em ações subsequentes, podemos assegurar que a afirmação de Sproul é pura e simplesmente especulação, subjetiva, e falsa.

O conceito calvinista é bíblico em seus 5 pontos, mas há variações entre os calvinistas que estão além ou aquém do texto bíblico.

A disputa "infra" e "supra" é uma delas, ainda que, como afirmei anteriormente, Paulo e Romanos 9 nos remetam ao supralapsarianismo, mesmo que esse não fosse o propósito do texto bíblico, e realmente não é.
Ali está expresso que a vontade de Deus é soberana, inclusive ao escolher os vasos para ira, sem mérito ou demérito humano, antes mesmo de fazerem o bem e o mal, exclusivamente por que assim aprouve a Deus. E pronto!

Mas não é mesmo engraçado que tendemos a nos justificar mesmo quando Deus não nos apresenta nenhuma possibilidade de justificativa?

Assim é o homem. Felizmente, para nós, Deus é Deus.

Jorge Fernandes Isah disse...

Capítulo 5 - Resumo

1-Nossa salvação flui de uma iniciativa divina. É Deus Espírito Santo quem liberta os cativos. É ele quem sopra em nós a vida espiritual e nos ressuscita da morte espiritual.

2-Nossa condição antes de ser vivificados é de morte espíritual. É mais grave do que uma mera doença mortal. Não há nem um grama de vida espiritual em nós antes que Deus nos faça vivos.

3-Sem o renascimento ninguém verá a Cristo. Todos os que são renascidos vêm a ele. Todos os que estão mortos para as coisas de Deus continuam mortos para as coisas de Deus a menos que Deus os faça vivos. Aqueles a quem Deus faz vivos, tornam-se vivos. A salvação é do Senhor.

No resumo, ao final de cada capítulo, as definições mais suscintas e claramente expostas não dão lugar a discussões e interpretações errôneas (e, por que não, declarações errôneas também).
Portanto, para não dizer que estou a questionar demasiadamente Sproul, concordo com o esquema do resumo acima. Sem contestação.

Jorge Fernandes Isah disse...

Capítulo 6 - Resumo

1-Presciência não é uma explicação válida da predestinação.
2-Faz que a redenção, em última análise, seja uma obra humana.
3-A predestinação é deixada de lado e tornada praticamente vazia de significado.
4-A Cadeia Dourada mostra que nossa justificação depende do chamado de Deus.
5-O chamado de Deus apóia-se numa predestinação prévia.
6-Sem predestinação não há justificação.
7-Não são nossas escolhas futuras, contudo, que induzem Deus a nos escolher.
8-É a soberana decisão de Deus a nosso favor.

Novamente, sem contestação. Ufa!

Jorge Fernandes Isah disse...

Na questão da dupla predestinação, ainda que Sproul tente novamente amenizar a questão da predestinação dos réprobos (dizer simplesmente que Deus escolheu os eleitos e deixou de lado ou à própria sorte os réprobos não neutraliza a idéia do favor divino, da Sua escolha, para com os eleitos, e o desfavor, mas ainda assim uma escolha, para com os ímpios).

Da mesma forma, dizer que Deus não endurece efetivamente o coração ímpio, mas retira a restrição do pecado sobre eles, deixando-os livres para pecar, é muito simplória e faz o malabarista derrubar todos os pratos no chão, além de não haver respaldo bíblico para essa conjectura.

Usar termos como "endurecimento passivo", "entregá-los ao pecado" "decreto positivo e negativo", "destinação não simultânea", etc, não exclui de Deus o desejo de que seus corações sejam endurecidos, os pecadores se voltam mais e mais ao pecado, e de que, destinando alguns para a salvação, estará destinando os demais para a condenação. É fato que Deus não os quis salvar, e quis condená-los.

Sproul chega ao ponto de utilizar a passagem de Ex 7.2-5 (quando Deus afirmou a Moíses que endureceria o coração do Faraó) como um exemplo de endurecimento passivo, onde Deus não interviu diretamente no coração do Faraó, mas ao remover a sua restrição sobre ele, deixou que "as inclinações malignas de Faraó fizessem o restante" (pg 109).
Ao que pergunto: se isso não é o mais escancarado malabarismo argumentativo a fim de tirar de Deus a vontade de que Faraó cumprisse exatamente os Seus designios, o que mais pode ser?

Passiva ou ativamente (conceitos que não se encontram na Bíblia quando ela nos descreve o agir e o mover de Deus), o Faraó não cumpriu o decreto divino? Tal qual ele foi estabelecido na eternidade? E, ainda que passivamente, estaria-se dizendo que Deus obteve o resultado desejado sem querer produzi-lo?

E tem gente que diz que ando em círculos... e não saio do mesmo lugar...

Da mesma forma, ao referir-se a Rm 9, Sproul diz: "Soa como se Deus estivesse ativamenbte fazendo pessoas ser pecadoras. Mas isso não é requerido pelo texto... veremos que o barro com o qual o oleiro trabalha é barro 'decaído'. Um pouco de barro recebe misericórdia para tornar-se vaso de honra. Essa misericórdia pressupõe um vaso que já está culpado. Da mesma maneira, Deus precisa "tolerar" os vasos de ira, próprios para a destruição, pois eles são vasos de ira, culpados"
(pg 114).

Bem, não sei quanto a você, mas a mim, me parece outro contorcionismo desnecessário para não concluir o que o texto bíblico é claro em afirmar: Deus é quem FAZ os vasos de honra e os vasos de ira, lançando "as riquezas da sua glória nos vasos de misericórdia, que para glória já dantes preparou" (v.23); assim como a "sua ira, e dar a conhecer o seu poder, suportou com muita paciência os vasos da ira, preparados para a perdição"(v.22).

Quem preparou? Quem destinou? Quem é o oleiro? Ou seja, quem fez os vasos destinando-os a ser o que são?

O barro não existia previamente antes de Deus fazê-lo existir. O barro "decaído" não decaiu alheio à vontade de Deus, à sua revelia.
O barro "decaído" não foi autocriado, ou criado por outra "força". O barro "decaído" surgiu pelo poder e vontade de Deus. O mesmo poder que destinou alguns para a glória, e outros para a perdição.

Jorge Fernandes Isah disse...

continuação...

Fico com a impressão de que o autor quer ao mesmo tempo dizer e não dizer o que diz. E suas atenuações acabam por enfraquecer e confundir o conceito de soberania, predestinação e eleição divinos.

Isso é manipulação teológica, com todo o respeito e admiração que o Dr. Sproul merece. Bastaria ater-se ao texto bíblico, que é claro e límpido como água (especialmente os dois citados); sem a preocupação de imputar a Deus qualquer injustiça, pois, o menor pensamento de que isso seja possível somente poderá vir de uma mente doentia e caída.
Nesses casos, vale a mesma resposta dada por Paulo: "Mas, ó homem, quem és tu, que a Deus replicas? Porventura a coisa formada dirá ao que a formou: Por que me fizeste assim?"(v.20).

Outra questão é a definição de arbitrário. Ele afirma que Deus não é arbitrário, porque "ser arbritário é fazer alguma coisa por nenhuma razão" (v.116). Bem, acho que esse conceito do autor, por si só, demonstra o seu nível de excentricida, ou seria arbitrariedade?

A palavra arbitrário designa alguém que decide como árbitro, que não é regulado por leis, mas só depende da sua vontade. Nesse sentido, Deus é completamente arbitrário. Há algo igual ou superior a Ele, ao qual esteja condicionado? Deus faz exatamente tudo aquilo que quer, como quer e da maneira que quer, segundo a Sua perfeição, santidade e justiça. E quem somos nós para questioná-lo? Ou para moldá-lo a um padrão humano?

Jorge Fernandes Isah disse...

Nos últimos três capítulos do livro (os menores) não há nada de incompatível entre os argumentos do Dr. Sproul e a Bíblia.
Há algumas elucabrações do autor, mas nada que distorça os conceitos escriturísticos; portanto, ele se mantém fiel ao texto.
Apenas não concordo com a sua interpretação de Hebreus 6.4-6 ao relacioná-la com os judaízantes.
Paulo, no texto (tenho sempre de dizer que creio que o apóstolo dos gentios é o autor da epístola aos Hebreus), refere-se a uma possibilidade irrealizável de que o crente possa cair da fé. Há uma suposição, que contudo ele trata de inviabilizar mais à frente.
Logo, Paulo, não está afirmando essa possibilidade, mas cogitando-a.
É o meu entendimento.
Leiam o livro. E tirem suas conclusões.

Anônimo disse...

perfeito

Após a leitura, classificarei os livros assim:
Péssimo [0] Ruim [*] Regular [**] Bom [***] Muito Bom [****] Excelente [*****]