Caminhos Misteriosos [***]


David Kingdon
Editora PES
112 páginas


Saber que Deus governa sabiamente todas as Suas criaturas é uma coisa, mas aplicar essa verdade às nossas próprias vidas é uma coisa muito diferente, especialmente quando as nossas esperanças sofrem decepção e a providência parece indiferente.  Com grande discernimento e sabedoria pastoral, David Kingdon ajuda-nos a aplicar lições da vida de José às nossas próprias vidas. Ele mostra que os que são de Deus não estão perdidos num labirinto sem sentido, mas sim, estão seguros nas mãos de um Pai amoroso. Por mais “misteriosos” que os Seus caminhos nos pareçam no presente, Ele planejou o bem para o Seu povo, e “o esclarecerá” em Seu tempo. Mesmo agora Ele nos está ensinando lições que não poderiam ser aprendidas de outra maneira.

2 comentários:

Jorge Fernandes Isah disse...

David Kingdon escreveu um livro pastoral e devocional. Ao relatar a história de José, descrita em Gênesis 37.2 a 50.26, o autor se debruça sobre a doutrina da providência divina. Em linhas gerais, "Caminhos Misteriosos" é o comentário da trajetória de José na Bíblia.

Veremos vários aspectos abordados no livro, a questão da santidade, do mal, do pecado, do decreto eterno, da salvação, etc, mas todas elas sob o prisma da providência.

Alguns aspectos que considerei relevante:

1)O temor do Senhor, como algo inerente a José. O exemplo da sua resistência ao pecado quando do assédio da mulher de Potifar é uma clara referência ao temor de Deus que José tinha. Hoje, infelizmente, essa virtude parece desaparecida de boa parte da igreja, sempre com a justificativa deturpada e corrompida de que estamos debaixo da graça, e portanto o antinominianismo acaba prevalecendo em meio a uma "cristandade" que não se envergonha e arrepende dos seus pecados.
2)A virtude nem sempre será recompensada imediatamente, e, as vezes, nem mesmo nesta vida. A falsa idéia de que ao tornar-se cristão o homem estará imune às aflições e protegido do sofrimento é uma doutrina antibíblica e anticristã. José é o melhor exemplo disso. Ao resistir aos apelos da mulher de Potifar, ele se viu acusado e condenado por algo que não fez, em virtude da mentira da mulher. Cristo e os apóstolos também são exemplos de que perseverar na verdade pode trazer sérios problemas em um mundo caído, e, muitas vezes, pode resultar na perda de tudo, inclusive da própria vida.
3)Em todos os reveses e problemas da vida, não devemos abandonar a confiança em Deus. Mesmo que o mundo esteja de cabeça para baixo, temos de entender que Deus tem um propósito para tudo, e de que nada acontece alheio à Sua vontade. Portanto, devemos confiar e esperar no Senhor, sabendo que todas as coisas concorrem para o bem daqueles que O amam.
4)O autor usa o termo "permitir" o mal para indicar algo que na verdade resume-se a: Deus usa o mal que é uma de Suas criações para que o Seu santo e perfeito propósito seja atingido, o qual é a Sua glória, em última análise. Portanto, considerar o mal como algo "fora" dos desígnios divinos é crer no dualismo [a "permissão" do mal é um eufemismo; em que a idéia de Deus como o criador do mal é suavizada com a utilização do termo "permitir". Porém quem permite tem controle sobre o objeto permitido].

[continua]

Jorge Fernandes Isah disse...

[continuação]

5)Deus está mais interessado no nosso bem do que no nosso conforto. Ao final de toda a "saga" de José, ainda que ele estivesse por muitas vezes desconfortável, o Senhor tinha por objetivo o seu bem e o dos seus semelhantes [se olharmos para nós, veremos que somos abençoados pelo sofrimento e injustiça afligidos sobre José. Por ele, os frutos da salvação em Cristo nos foi dado, tornando a promessa de Deus a Abraão de lhe dar uma descendência mais numerosa do que as estrelas do céu em realidade]. "Pensamos instintivamente em termos do nosso conforto, ao passo que Deus, em Seus propósitos, visa ao nosso bem (como Ele o define!). O nosso conforto, contudo, raramente coincide com o nosso bem" (Pg 36).
6)A supremacia das Escrituras como a fiel, inspirada, inerrante e infalível palavra de Deus. Em todo o tempo, o pr. Kingdon nos remete a esta verdade.
7)Deus é o Senhor de tudo, inclusive das pessoas. Mesmo aqueles que não conhecem a Deus são usados por Ele para que o Seu eterno plano se realize. "Não é preciso que os homens conheçam Deus (como José conhecia) para que Ele os use na realização da Sua vontade. Os corações de todos estão abertos para Deus, e Ele pode movê-los para cumprirem Seus propósitos, mesmo que eles não o adorem e não O sirvam" (pg 36).
8)A dependência de Deus. Algo que tem sido negligenciado especialmente na atualidade é o submeter-se a Deus, ser dependente dEle. Os homens em sua rebeldia e orgulho consideram deter algum poder, de serem coajudadores de Deus. Há até aqueles que se dizem "sócios" do Senhor e de terem direitos adquiridos e garantidos sobre o que lhe pertence.
Enquanto os homens não reconhecerem o que são, escravos, servos do Deus Todo-Poderoso [Ele sim, poderoso e supremo Senhor], o homem permanecerá morto em seus delitos e pecados. Considerar, de alguma forma, que o homem pode frustrar ou impedir Deus de agir segundo a Sua vontade, é a mais terrível e triste blasfêmia [portanto considero o arminianismo e pelagianismo como blasfêmias a Deus; e creio, o autor também].
9)O autor nos dá ricas analogias entre os acontecimentos descritos em Gênesis sobre a vida de José e a vida cristã [especialmente em nossos dias].
10)José é um tipo de Jesus. Ao manter-se fiel a Deus, sofreu injustamente, e pode, por seu testemunho, transformar o clã de Jacó [um grupo de poucas pessoas] no Israel de Deus [incontáveis]. Em muitos aspectos, ele nos remete a Cristo: sendo servo, tornou-se quase rei (ao menos, tinha os poderes de rei); e uma mansidão muito próxima da de Isaac (outro tipo de Cristo).

A leitura deste livro é prazerosa e, apesar de abordar temas de difícil compreensão como a providência, o mal e o pecado, o autor os descreve de maneira simples, de fácil compreensão, mas o suficiente para que se tenha contato com esta importante e fundamental doutrina do Cristianismo: a providência.

Sem ser exaustivo (e esse não é o objetivo da obra), sem entrar em muitos pormenores, será possível ao leitor uma idéia bíblica e conclusiva sobre a providência, como uma doutrina escriturística.

Há de se ressaltar os dois últimos capítulos, o oitavo, "Três Grandes Verdades", e o nono, "Mais três Grandes Verdades", dois ótimos e reflexivos resumos sobre a providência e a questão do mal.

Após a leitura, classificarei os livros assim:
Péssimo [0] Ruim [*] Regular [**] Bom [***] Muito Bom [****] Excelente [*****]