Hitler e os Alemães [****]



Eric Voegelin
É Realizações Editora
368 Página


"Hitler e os Alemães... não é um assunto do passado porque a consciência humana vive na tensão permanente entre o tempo e os valores espirituais eternos. E o que está eternamente vivo tem de ser preservado e defendido no presente.
Talvez, por isso, todo alemão culto conheça a frase escrita pelo poeta Heinrich Heine em 1821: 'Onde queimam livros, acabam por queimar pessoas'”

20 comentários:

Jorge Fernandes Isah disse...

Apenas a parte introdutória, escrita pelos editores Detlev Clemens e Brendan Purcell, consumiu 70 páginas.
Em seguida, temos uma introdução assinada pelo próprio Voegelin, já na parte 1 do livro: "Descida ao Abismo".
Este livro é a transcrição de 5 palestras realizadas em 1964 pelo autor na Universidade de Munique, nas quais trata da relação entre Hitler, Nazismo e os alemães [por isso, o título, claro!]. Originalmente não foi concebida como um livro, mas depois das muitas manifestações [em sua maioria contrárias ao que Voegelin dissera], decidiu-se pela publicação na forma escrita das palestras.

Para nós que estamos quase 50 anos distantes daquele momento, alguns pontos podem parecer confusos ou mesmo "ininteligíveis", mas a leitura cuidadosa nos revelará que passos menos de 20 anos da queda de Hitler e do Nazismo, ainda havia um "espírito" na Alemanha condescendente e mesmo que apoiasse subliminar e sutilmente o nacional-socialismo.
Havia ex-nazistas espalhados em todos os setores da sociedade, na burocracia, no judiciário, nas universidades, imprensa, de tal forma que não havia outra maneira de se defender tudo o que foi realizado em nome de uma nação, e por uma nação, a não ser "jogar" toda a culpa no cadáver de Hitler. Ele se tornou no "bode expiatório",
através do qual a Alemanha se veria inocentada.
Voegelin revela a "trama" e a condição espiritual da nação pela qual foi possível aos nazistas chegarem ao poder, representando essa mesma nação. Fato é que se a nação alemã não estivesse imbuída dos ideias nazistas previamente, os nazistas não teriam alcançado o poder e perpetrado toda uma política de ódio, assassínio e orgulho que viria a ser a Alemanha em algumas dezenas de anos.
Uma leitura instigante, que nos leva a imaginar e quase vivenciar os conflitos que existiam na Alemanha pós-queda do Reich, em que o "espírito" nazista tentava, ainda que veladamente, mudar o curso da História, reescrevendo-a a fim de salvaguardar para si mesmo um futuro.

alfacinha disse...

não gosto de falar sobre Hitler ,há sempre alguém que diz" O Adolf também fiz boas coisas".
Aa pessoas têm uma memória curta.
cumprimentos

Anônimo disse...

Um pouco de leitura como Richard Dawkins faz bem.

Jorge Fernandes Isah disse...

Anônimo,

duas perguntas: por que? e para quê?

Sua afirmação é tão sem sentido e desnecessária quanto se eu dissesse, simplesmente: não leia Richard Dawkins!

Mas tem gente que acha "iluminada" qualquer bobagem que diga... mesmo que não passe de uma "flatulência" mental.

Jorge Fernandes Isah disse...

Alfacinha,

também amo Portugal, como você, ainda que não tenha visitado a "terrinha". E o seu blog está muito legal.

Quanto a Hitler e os sistemas totalitários [mormente os de esquerda, que é o caso, pois os comunistas se esforçaram por demais para imputar à direita o Nazismo, negando, até mesmo, que o "Partido Nacional Socialista Alemão dos Trabalhadores", o Partido Nazista, fosse de esquerda (com um nome desses, só mesmo a desfarçatez marxista para rejeitar a aliança com o Terceiro Reich)], precisamos lê-los e estudá-los para que, no futuro, não sejamos enganados por movimentos e politicas similares, e que ainda subsistem exatamente pela ignorância quanto a eles [vide Cuba, Venezuela, etc; e que está em processo aqui no Brasil, também].

Além do quê, Voegelin viveu a realidade do Nazismo, sendo ele um judeu que foi parar nos campos de concentração.

Ignorar as consequências advindas dos movimentos ditos populares [sempre fomentados pelas mentes elitistas e "messiânicas"] que trouxeram morte e destruição, não é a melhor forma para que possamos construir uma sociedade melhor.

Portanto, não se recuse a ler os testemunhos daqueles que vivenciaram e foram parte da história [sórdida e triste, é verdade], do que o homem é capaz de fazer quando perde o senso de moralidade que Deus nos deu.

Por isso, não se pode dar crédito a propagandistas da imoralidade, como os céticos e relativistas, ao estilo Dawkins, insistem em apregoar.

Abraços.

Jorge Fernandes Isah disse...

Alguns trechos que considerei relevante do livro:

"Mark Twain diz que a democracia se assenta em três fatores: 'A liberdade de expressão, a liberdade de consciência e a prudência de nunca praticar nenhuma delas'" [pg 115]

"Já que o homem participa do divino, ou seja, já que ele pode experimentá-lo, o homem é "teomórfico", no sentido grego, ou a imagem de Deus, a imago Dei, na esfera pneumática. A dignidade específica do homem é baseada nisto, em sua natureza teomórfica, de forma e imagem de Deus. Este é um complexo básico de ideias com que temos de começar, a fim de investigar criticamente a defecção desse complexo" [pg 118]


"Assim podemos falar de perda de realidade pela desdivinização e pela desumanização. As manifestações típicas dessa perda de realidade são aquelas em que a realidade do homem é colocada no lugar da realidade divina perdida, que sozinha fundamenta a realidade do homem, de tal forma que no lugar do fundamento do ser como causa do ser, o homem como a causa do ser chega ao ponto da exageração na ideia de ser o homem o criador do mundo... citarei aqui esta única fase de Novalis: "O mundo será como quero que ele seja!". Aí já tendes em resumo todo o problema de Hitler, o problema central da desdivinização e da desumanização" [pg 119]

[continua...]

Jorge Fernandes Isah disse...

"Então há iletrados entre pessoas que são capazes de ler e escrever muito bem, mas que, assim que se trate de compreender um problema da razão ou do espírito, ou questões acerca do agir corretamente e da justiça, são completamente incapazes de compreender, porque não conseguem atingi-los. Aí a perda da realidade pode ser notada, já que então também se expressa no domínio deficiente da língua... Sabem o alfabeto, mas isso é tudo. Na Alemanhã, em contraste com outras sociedades ocidentais, o iletrado - nesse sentido do domínio deficiente da língua em campos extremamente importantes de ação - trespassa a elite. Não no sentido de que toda a elite seja iletrada - há também na Alemanha pessoas muito cultas, que dominam a língua alemã -, mas a literatura popular socialmente dominantes que aparece em público, incluindo a de certos professores, é escrita por iletrados". [pg 123].

Este último trecho lembrou-me a realidade brasileira, onde os iletrados pulululam na chamada "intelectualidade". Culminando no analfabetismo funcional do ex e da atual presidente. Ou seja, como os alemães, que elegeram e legitimaram um pústula como Hitler, aqui também se elege e legitima pústulas. A história apenas se repete.

Jorge Fernandes Isah disse...

Voegelin analisa o caráter do povo alemão, à época da ascensão do Nazismo, quando legitimou e proporcionou que toda a humanidade desdivinizada [o que Voegelin chama de "pneumopatologia", ou seja, distúrbios espirituais, doenças do espírito], em que o homem, como fim e causa de si mesmo à parte de Deus, criou uma falsa realidade que permitiu à mentira, ao embuste, a sobrevivência por anos a fio. Tudo isso se deu a partir de uma sociedade em desordem, não desumanizada, mas essencialmente humana, doente e caótica. Ainda que essa realidade fosse deformada, uma falsa imagem, ela permitiu que o homem vivesse-na como se fosse a realidade genuína.

Voegelin afirma haver um conflito entre o que é verdadeiramente real [a ordem] e o que é pneumaticamente doente [o caos, a falsa imagem da realidade].

A consequência desse conflito é a criação de um sistema. E como a realidade não é um sistema, um sistema é sempre falso, e somente pode subsistir a partir de uma "trapaça intelectual", de um desejo inerente ao indivíduo de trapacear. Então, esse homem está doente e reconhece a sua doença, mas não tem o menor desejo de se ver livre dela, pelo contrário, ele a alimenta com sucessivas trapaças [um trapacear constante]. E o resultado claro e evidente desse sistema é a mentira; a qual se torna o método para que a falsa realidade se afirme verdadeira.

A questão é que a trapaça pode ser percebida em um nível intelectual mais elevado [o autor cita Marx e Nietzsche como exemplos], enquanto no nível intelectual pequeno-burguês não há trapaça, mas apenas a mentira. Estão tão certos de que a mentira é a verdade, que em sua boa-fé [eu chamaria de tolice, ignorância] geram o fenômeno da honestidade compacta. De certa forma, essa "honestidade compacta" está diretamente ligada à imoralidade, na qual o indivíduo acredita possível atingir-se bons fins a partir de meios inescrupulosos e infames. Na política, especialmente, vemos essa prática, em que ações pútridas, que exalam o seu fedor, são justificadas para que, no final, se tenha um pouco de "bom-ar".

Voegelin nos revela que "a massa social" não é capaz de articular a trapaça, mas de espalhar a mentira que advém da trapaça criada em "nível superior". Um exemplo do que seja "honestidade compacta" é o fato do marxismo afirmar que a culpa de fulano ser pobre tem como origem a riqueza de beltrano. Por isso, é-se necessário que o Estado tire de beltrano para dar a fulano.
Em nome de uma pretensa igualdade, comete-se o furto qualificado e a injustiça.

E essas são armas usadas tanto pelo Partido nacional-socialista na Alemanhã, como nas revoluções bolcheviques na Rússia e em todos os demais sistemas totalitários [iniciados com a Revolução Francesa], que forjam uma realidade imaginária a fim de sobrepô-la à verdadeira realidade.

Apenas o ser amoral pode conviver e viver sob essa égide sem nenhum peso na consciência. Pois terá abdicado até mesmo de si mesmo em favor do "sistema". Portanto, quando o homem abandona o entendimento e a compreensão da relação Criador-criatura, o que temos é o homem sucumbindo à sua própria estupidez e soberba.

Jorge Fernandes Isah disse...

Trecho deveras interessante, no qual Voegelin faz o retrato da igreja alemã à época do nacional-socialismo. Há elementos parecidos demais com o que vivemos atualmente, no Brasil.
Lá, como cá, o governo tinha o nítido interesse e objetivo de controlar a igreja e exercer sobre ela o seu poder. De maneira que decretos foram baixados e a igreja "oficial" se viu sujeita à vontade e interesses do Nazismo. Muitos que se tornaram em membros da resistência alemã a Hitler e cia, passados alguns anos, somente se aperceberam dos perigos quando foram eles mesmos atingidos pelas armas inimigas. Enquanto o problema estava apenas com os judeus, defendeu-se uma "pureza" [até mesmo racial] no seio da igreja, de forma que se podia aceitar com alguma resistência cristãos de origem judaica, mas enquanto isso nada era feito para proteger os judeus não cristãos; ao ponto de, mesmo judeus-cristãos não poderem exercer qualquer ofício na igreja oficial.
Niemöller, que para muitos foi um dos líderes da resistência aos nazistas, é apontado como um aliado durante o período pré-guerra mundial. Descobriu-se traços antisemitas nele, que apoiou a resistência não por causa das atrocidades cometidas por Hitler, mas porque este passou a controlar a igreja de tal forma que elas perderam a liberdade eclesiástica.
O que Voegelin deixa mais evidente é o fato da igreja [católica e evangélica] curvarem suas cervis ao próprio diabo. Até mesmo a forma nazista de comunicação verbal passou a ser incorporada aos sermões, artigos teológicos e textos acadêmicos das faculdades e seminários. Houve uma incorporação por parte da igreja dos ideais e do estilo nazista.
A resistência iniciou-se entre os da geração mais jovem, enquanto os mais velhos, que deveriam apelar para a sabedoria e defesa moral e intelectual da nação se entregaram aos favores e medos dos nacionais-socialistas.
O exemplo de um líder religioso da resistência foi Dietrich Bonhoeffer.
Mas tudo isso aconteceu porque não havia uma elite para defender o país; uma elite que coubesse representar a ordem institucional, e defendê-la. Não havia representação política de oposição quando o regime nazista subiu ao poder, e a igreja fracassou como a representação espiritual do homem.
Movimentos como o marxismo e o nacional-socialismo somente são possíveis em sociedades caóticas, onde a desumanização e a perda da realidade se perdeu.
Como Voegelin nos diz: "As igrejas não foram capazes de defender a dignidade do homem - não apenas de defendê-la com sucesso, mas sequer de defendê-la - porque eles próprios, leigos e clérigos, também foram participantes dessa corrupçao, mesmo que num grau menor que o dos próprios nacional-socialistas" [pg 210].
Encontramos um estado de decadência moral, ética e intelectual, no qual a ignorância radical [termo alcunhado pelo autor] impede que haja uma elite intelectual para salvação da ordem de um povo, como ele mesmo diz, citando Jaspers.
"Então, a igreja não é uma elite dentro de um povo que está corrupto em geral, mas participa dessa corrupção". [pg 209].
E mais uma vez, debaixo dos nossos olhos, vemos a história se repetir, quando a igreja, conivente ou omissa, entrega-se ao julgamento do Estado, pelos líderes marxistas, que sonham os sonhos de controlá-la, se não, ainda melhor, destruí-la.

Jorge Fernandes Isah disse...

As colocações de Voegelin sobre a sua interpretação [ele se baseia em trechos da Summa Teológica de Tómas de Aquino] para estabelecer que Cristo é o cabeça de toda a humanidade, parece-me parcialmente correta, mas às conclusões que ele chegou, parecem-me completamente incorretas, à luz do Evangelho.

Para o autor, Cristo é o cabeça de todo os homens, e entendo que, do ponto de vista da sua humanidade, como homem que é, Cristo pode sê-lo. Como representante da raça humana. Porém, Voegelin advoga uma espécie de revelação divina em que todos os homens [baseado na Imago Dei] de alguma maneira, se relacionam com Deus, de forma que Deus se revelará a todos os homens, não na mesma medida, mas todos terão uma espécie de "conversão" a ele, independente do caráter doutrinário e da mensagem do Evangelho.
Para ele, Cristo não é apenas o cabeça da Igreja; pois em seu caráter exclusivista, a Igreja Cristã trouxe para si mesma o "poder" de ligar os homens [aqueles que estão no seu seio] a Deus.
Ora, a Escritura não afirma em momento algum que Cristo é o cabeça da humanidade, como um todo. O fato do Senhor ter a nossa natureza [ao meu ver, nós temos a dele] não o faz participante nem comungante com todos os homens. Isso é universalismo e ecumenismo, travestido de pretensa sabedoria.

Ele mesmo, Voegelim, poderia dizer que Hitler é comungante da graça de Deus? E de que ele compreendeu a mensagem divina? E, por que a necessidade do Inferno? Por que a condenação das almas impenitentes?

A argumentação de Voegelim, em alguns momentos, é pautada por um excesso de humanismo e condescendência com o mal {ainda que subliminarmente], o mesmo mal que ele condena no Nazismo, mas que está propenso a julgar a Igreja como originadora do mal em Hitler. O fato do exclusivismo do Cristianismo não se deve a uma distorção das doutrinas, mas a própria Escritura, em inúmeras passagens, revela que Cristo é exclusivo daqueles que crêem. Os que não crêem já estão condenados. Portanto, alegar que a Igreja [católica e evangélica] foram, de alguma forma, influência na instalação do Nazismo parece-me um exagero. Tentar colocar a culpa nela por aquilo que Hitler e cia idealizaram, também. Ela foi omissa em combater o mal, e por aliar-se a ele em muitos momentos, mas não a causa.

O Cristianismo é sim exclusivo e não inclusivo, porque Cristo veio salvar muitos, mas não todos. Esta confusão de Voegelin ao analisar os fatos dá-se especialmente por uma crença distorcida e má-interpretação do texto bíblico.

Mais à frente, apontarei trechos do livro que confirmem minhas suspeitas.

Jorge Fernandes Isah disse...

Muito interessante a colocação de Voegelin de que, quando a sociedade não está intacta moralmente, todos são participantes dos crimes. Quando um crime é praticado e se buscam desculpas para não imputá-lo a quem o praticou, e mesmo as cortes legais eximem-se de condenar o culpado alegando que ele não conhecia a ilegalidade do seu ato, temos uma culpa geral, e as cortes estão incapacitadas de julgar o crime pois o juiz, ele mesmo, é um criminoso.
"O único conforto que o jursita pode dar a vós é que isso já não pode ser entendido dentro do sistema das provisões da Lei Básica, mas é uma revolução. Pois então, temos uma revolução. A questão de tal revolução ocorrer, e todas essas provisões sábias da Lei Básica serem simplesmente modificadas, depende de a sociedade como tal estar intacta e não levar adiante tais mudanças, que, por exemplo, ocorreram de fato na transição da Constituição da República de Weimar para "Constituição" nacional-socialista" [pg. 298]

Voegelin falando da degeneração da sociedade alemão durante o Nazismo, mas que se pode perceber em qualquer sociedade moralmente decadente, onde os regimes totalitários emergem facilmente [como no atual Brasil]: Se alguém na posição de Hitler dá ordens para matar - instruções para um crime sem nenhuma base legal e pelo qual ele próprio é um criminoso no sentido do Direito Penal -, essas ordens serão simplesmente cumpridas proque a condição moral da população é tão baixa que as pessoas não podem distinguir entre legalidade e ilegalidade, criminalidade e não-criminalidade" [pg 301]

Jorge Fernandes Isah disse...

"Vede, quando a realidade e o assassinio são trocados por 'topoi' de tipo ideológico, como 'necessidade histórica' - e o mesmo serve para a realização da revolução comunista, onde tendes os mesmos problemas -, toda a ordem moral chega ao fim".

"Uma nova realidade, aquela segunda realidade... toma o lugar da primeira realidade, onde o homem vive moralmente, e uma realidade imaginária permite a matança, que nesse caso já não pertence à categoria de assassínio, de Direito, de justiça e assim por diante. Então, a constituição inteira da realidade do homem e da sociedade é apagada pelo sonho, pela fantasia, de uma segunda realidade, onde coisas como 'necessidades históricas' podem ser encontradas. Tal segunda realidade, é claro, não existe. Ao contrário, é sempre uma questão de o homem envolvido ser um tipo degenerado. Quem quer que seja um tipo degenerado tem necessidades históricas." [pg 301-302]

Jorge Fernandes Isah disse...

Sobre a ideia de primeira e segunda realidades, e o seu desenvolvimento, Voegelin faz uma análise a partir do livro "Dom Quixote" de Cervantes, onde encontramos ambos os elementos e suas implicações diretas por aqueles que se opõem e aqueles que se aliam, especialmente, à falácia da segunda realidade.

"Então, um argumento muito interessante é introduzido. Se há bastantes pessoas que acreditam em alguma parvoice, ela se tornará uma realidade socialmente dominante, e quem quer que a critique coloca-se na posição do bufão que deve, então, ser punido" [pg. 317]

"Introduzi a expressão 'divertissement', que vem de Pacal. É o caso de uma determinada classe social, que está, na verdade, na primeira realidade, mas enfadada com ela - o que de novo é uma condição de declínio moral até um certo nível. Está agora pronta para cair numa segunda realidade sob circunstâncias posteriores de um tipo revolucionário e, por assim dizer, entrar no jogo intelectual, brincando, porque é divertido. Afinal, isso é algo diferente da rotina diária, que se tornou enfadonha" [pg. 316]

Jorge Fernandes Isah disse...

Ainda sobre a segunda realidade:

"Primeiro, se a parvoíce se torna geral, torna-se-á então socialmente dominante; e é particularmente vista como socialmente dominante e correta se for adornada pela autoridade. Assim temos a condição de um regime totalitário - onde determinadas ideologias são prescritas e propagadas àqueles submetidos ao Estado e devem, portanto, ser corretas... Então, se as pessoas que são autoridades dizem algo, certamente não pode ser falso. Ou somos todos estúpidos, ou somos inteligentes comparados com os outros, que são todos estúpidos; e se tivéssemos acreditado neles, teríamos sido estúpidos, e assim por diante. Vedes aqui como esses fenômenos, que descrevi empiricamente, já são antecipados em 'Dom Quixote' na análise da tensão entre a primeira e a segunda realidades" [pg 318]

alfacinha disse...

acaba a liberdade

Anônimo disse...

1.
Eu lembrei-me, devido à referência ao papel da igreja, de ter lido o livreto Sobre os judeus e suas mentiras, de Martinho Lutero. Nele não pude enxergar o aspecto racista anti-semítico claramente; mas sim a argumentação violenta de inclinação esquerdista. Para Lutero, os judeus enriqueceram injustamente, sem trabalhar, praticando a usura e explorando o povo, consequentemente não têm direito às suas propriedades. Suas casas foram compradas com dinheiro ilegítimo. Tomemos deles e os coloquemos num casarão, onde aprenderão a trabalhar de verdade. (Idéias que trazem à mente os campos de concentração, embora não com a mesma intensidade de crueldade).

2.
- Substituindo "judeu" por "burguês" adquiririamos inúmeros admiradores.

3.
Não sei qual a influência da Igreja na ascenção do nazismo, nem qual é inteiramente a opinião de Vöegelin, mas tenho a impressão de que o cristianismo, quando corrompido, pode dar origem à crenças piores do que as das nações que não o conheceram. (Como os "cães" que se tornam piores depois de abandonar o cristianismo do que quando nem se aproximavam dele -- bem como às referências a Cristo desses genocidas).

Abraços.

Matheus Mendes.

Jorge Fernandes Isah disse...

Matheus, tudo bem?

1) Rapaz, você tem a fonte de onde Lutero escreveu essas coisas? Gostaria de ler.

2) É, mas tenho lá as minhas dúvidas. A maioria dos burgueses que conheço são marxistas, querem que o mundo seja justo, que todos vivam igualitariamente, mas eles mesmos não estão dispostos a abrir mão do seu conforto e ostentação. Não é interessante que o pessoal que fomenta os ideais marxistas na sociedade são os que vivem na zona sul, comem caviar e têm apartamento em Manhattan?
Eles combatem a si mesmos, sem o perceberem.

3) É, cristãos nominais ou enganados, quando se propõem a abandonar o Evangelho são piores que ímpios. Paulo disse que aquele que consente com o pecado também comete pecado. No que você está mais do que certo.

Grande abraço!

Cristo o abençoe!

Anônimo disse...

Tenho. Lembrei-me de uma, mas tenho dúvidas se foi a própria Editora (revisionista nazista) que digitalizou ou foi algum neonazi.

Dê uma procurada por Dos Judeus e suas Mentiras.

Parece-me que Lutero acreditava na possibilidade de conversão deles (apesar de negar isso retoricamente -- como dá a entender que eles merecem a morte, mas logo depois nega que seja correto matá-los).

O Paulo Brabo (hahaha) chegou até a comentar um trechos.

http://www.baciadasalmas.com/2005/a-solucao-final-de-lutero/

Um abraço.

Matheus Mendes.

Anônimo disse...

A wikipedia cita fontes mais "sérias".

http://pt.wikipedia.org/wiki/Sobre_os_judeus_e_suas_mentiras

Matheus Mendes

Um brasileiro disse...

ola. tudo blz? estive aqui dando uma olhada. legal. apareça por la. abrços.

Após a leitura, classificarei os livros assim:
Péssimo [0] Ruim [*] Regular [**] Bom [***] Muito Bom [****] Excelente [*****]