Neocalvinismo: uma avaliação crítica [**]






Cornelis Pronk
Editora Os Puritanos - Edição Kindle
29 Páginas


"Numa época onde "pensamentos especulativos, abstratos e filosóficos têm eliminado a obra soberana, espiritual e interna da Palavra, tornando-a um conceito cerebral e intelectual"; onde o interesse pela teologia tem sido visto como algo essencialmente intelectual e lógico; onde se vê uma "aceleração do processo de secularização dos valores espirituais"; onde tem havido um "aumento cada vez maior do contato com o mundo e uma exposição ao espírito do mundo" e a fé Reformada é ameaçada de se tornar mais e mais "estereotipada ou vazia", este pequeno livreto é extremamente importante, sendo a única avaliação disponível desse "movimento" em nossa nação. "O que precisamos não é Neocalvinismo, mas a antiga e clássica fé Reformada, que é Escriturística, confessional e experimental".

3 comentários:

Jorge Fernandes Isah disse...

Primeiro, quero dizer que este livro está disponível em ebook gratuitamente na página da Editora Os Puritanos, e também há uma boa gama de blogs e sites que o disponibilizam para download, não sendo necessário comprá-lo pela Amazon.

Sobre o livro, ele é de se ler em uma sentada, ainda que não seja aconselhável que o faça. Mas como um "panfleto", no sentido original da palavra de ser um texto em que se expõe uma ideia de maneira breve, concisa e não exautiva, ao invés do sentido atual de um texto breve mas agressivo, difamatório ou sarcástico; e como tal, falta-lhe mais dados e esclarecimentos sobre o neocalvinismo, um estudo mais detalhado, como um raio x do movimento.

Entendo que o autor quis se ater ao caráter mais "vísivel" do neocalvinismo, ou seja, o de defender uma redenção cultural através da igreja, significando que a obra de Cristo na cruz não se resumiu à expiação pelo seu povo ou igreja, mas de maneira ampla englobava uma redenção "cósmica" por assim dizer.

Sempre tive o pé meio atrás com relação ao neocalvinismo, por conta da sua proximidade perigosa com a cultura e o mundo. E ela, de certa forma, trás em si algo de realmente danoso que é a possibilidade de contaminação do evangelho por elementos seculares, uma diluição da mensagem bíblica que, ao invés de ser ela o facho de luz em meio as trevas, ainda que de maneira inconsciente se vê disputando espaço com ela. E muito mais ela se deixa influenciar pelo mundo do que ser influência nele.

Perigosamente se busca uma justificativa, uma quase necessidade de aceitação pelo mundo, como se a igreja, num estado de inferioridade quisesse se equiparar, se igualar ao mundo, revelando-se tão superior quanto ele. O fato é que com as armas mundanas sempre estaremos na "rabeira", e muitas vezes desprezamos o que de fundamental há na fé cristã: o chamado para realizar a obra que Cristo nos deu a fazer.

Há pastores cada vez mais empenhados em legar para as suas igrejas aspectos culturais da sociedade como danças modernas, música moderna, esportes modernos, literatura moderna, e etc, com o argumento de que se pode adequar a pregação, especialmente, com outros meios para alcançar grupos e pessoas que não se enquadrariam ao padrão histórico ou formal da igreja.

Quanto a isto, penso que é a mais pura bobagem e tolice. A Bíblia nos diz que a salvação vem pelo ouvir a palavra de Deus, e, muitos se esquecem de que o eleito a ouvirá sempre, sem chance de não ouvir.

Outro dato que me vem à memória é de que à época do profetas, Cristo e dos apóstolos já havia o teatro, a música, danças, e muitas outras formas de expressão que existem hoje, e nem por isso os vemos utilizando-as como meio de pregação.

Pode-se discutir se eles são aplicáveis ou não na igreja ou fora dela, mas o empenho com que se realizam "produções artísticas" hoje, como forma de evangelismo, está muito distante do padrão bíblico. Alguém pode dizer que o fato dos profetas e apóstolos serem perseguidos os impediam de realizar os eventos como os realizados atualmente pela igreja. Mesmo não vivendo na clandestinidade, já que pregavam em praças públicas, ruas, sinagogas, no templo e até mesmo no sinédrio, eles tinham de ser breves e aterem-se exclusivamente à mensagem pela pregação. Hoje, esta urgência não é mais necessária, concluiria. Ao que pergunto: É mesmo, cara-pálida?

[continua...]

Jorge Fernandes Isah disse...

[...]

Alguém ainda pode insinuar que os relatos mais antigos não se preocuparam em descrever as várias formas de evangelismo à época. Com a profusão de detalhes a respeito da igreja, do culto, e do trabalho missionário que a Bíblia nos deixou, é-me impossível acreditar que se esse fosse o padrão usual ou mesmo extemporâneo da igreja, não haveria uma citação ao menos sobre ele.

Pronk aponta a ideia recente da "Graça Comum" como um dos culpados por esse estado de coisa, pela idealização do movimento criado por Abraham Kuyper. Ainda que ele diga haver em Calvino a formatação embrionária da ideia de Graça Comum, ela foi delineada, ao menos como a maioria dos crentes a imagina, pela pena do pastor e estadista holandês. Por mais que eu me esforce, ainda não consegui entender essa ideia de graça geral e irrestrita, talvez por burrice ou obstinação, ou ambos, sei lá! Estou a precisar estudar a questão com mais empenho, mas o tempo não me tem sido favorável. De qualquer forma, nutro uma "repulsa" pela ideia, ao menos nos moldes em que me foi exposta por alguns irmãos. Pode ser que o foco inicial não seja o mesmo, mas... bem, isto é outra história, para outra hora, talvez no mesmo lugar.

Resumindo, penso que "Neocalvinismo: uma avaliação crítica" nos dá uma ideia geral do movimento, faltando explicá-lo melhor, inclusive em relação as consequências práticas da sua atuação, seja para o bem ou mal.

Recentemente, a revista americana "Times" divulgou uma lista com as 10 ideias mais influentes nos EUA, e o neocalvinismo estava em quinto lugar, se não me engano. A questão é: quais as implicações práticas do movimento? Tem havido uma mudança ou ao menos uma tendência de mudança na sociedade atual a partir do seu crescimento? Em quê e de que forma o neocalvinismo tem influenciado positiva a sociedade com a mensagem do evangelho? E, o meu maior temor, ele não tem se "intoxicado" do ideário marxista, de uma sobreposição da agenda social militante sobre a proclamação do Evangelho? Assim como o movimento da "Missão Integral" se imbuiu desde o início? Uma espécie de redenção do homem através da arte, política e ações que visem redimir o homem de sua miséria cultural e social? Temo ser este o maior problema, do qual muitos não se aperceberam, e que pode já ser tarde para corrigir. E assim nos tornarmos em crentes superiores, integrados ao ambiente intelectual mais sofisticados, mas muito abaixo do mais humilde pregador, que seja fiel ao mandamento [e não mandato] de ser realmente luz e sal num mundo caído.

Jorge Fernandes Isah disse...

As (**) vão por conta da "ligeireza" em abordar o movimento, e por não focar em pontos que considero importantes, como a sua influência na igreja atual, suas ligações externas com outros movimentos, e as consequências ou resultados de sua ação no mundo.

Na maior parte do tempo concordei com o autor, ainda que eu encontrei um ou outro argumento fraco ou exagerado.

Como leitura preliminar ele cumpre o papel de ser leitura preliminar.

Após a leitura, classificarei os livros assim:
Péssimo [0] Ruim [*] Regular [**] Bom [***] Muito Bom [****] Excelente [*****]