Editora Cultura Cristã
“Para todos aqueles que não vivem uma vida tranqüila, para todos os que chegaram ao ponto da exaustão, para todos os que foram traídos por pessoas aparentemente piedosas, para todos os que se perguntam se conseguirão seguir em frente, O sofrimento e a soberania de Deus será como pastos verdejantes e profundas águas tranqüilas”. Raymond C. Orlund Jr., Pastor sênior da Christ Presbyterian Church em Nashville, Tennessee .
“Esta não é outra obra teológica que complica o que parece ser um paradoxo irreconciliável; é um livro que brota da experiência prática e aplica a Escritura ao mundo real em que vivemos”. Jerry Rankin, Presidente da Southern Baptist International Mission Board.
“Este livro o desafiará a crer que Deus é verdadeiramente soberano, não somente no seguro céu da inquirição teológica, mas também na desordem dolorosa da vida real. Você será encorajado a viver mais consistentemente pela graça de Deus e para sua glória”.
Mark D. Roberts, Pastor sênior da Irvine Presbyterian Church, em Irvine, Califórnia.
“Esta não é outra obra teológica que complica o que parece ser um paradoxo irreconciliável; é um livro que brota da experiência prática e aplica a Escritura ao mundo real em que vivemos”. Jerry Rankin, Presidente da Southern Baptist International Mission Board.
“Este livro o desafiará a crer que Deus é verdadeiramente soberano, não somente no seguro céu da inquirição teológica, mas também na desordem dolorosa da vida real. Você será encorajado a viver mais consistentemente pela graça de Deus e para sua glória”.
Mark D. Roberts, Pastor sênior da Irvine Presbyterian Church, em Irvine, Califórnia.
22 comentários:
Este livro é uma coletânea de artigos escritos para o Ministério "Desiring God" do Pr. John Piper (a maioria foram palestras da Conferencia Nacional Desiring God sobre o Sofrimento e a Soberania de Deus).
Além do próprio Piper que assina alguns artigos (e é entrevistado ao fim do livro), há a participação de Justin Taylor, Mark R. Talbot, David Powlison e Joni E. Tada.
O tema é espinhoso, mas eles estão abalizados para tratá-lo (Piper e Powlison foram acometidos de câncer; Tada é tetraplégica desde a adolescência, e Saint perdeu a filha tragicamente).
Que Deus seja louvado!
Piper fala sobre Deus "permitir" o mal, mas em sua explicação de como essa permissão se sucede, o que lemos é Deus agindo direta e poderosamente para que o mal opere.
Antes me parece um jogo de palavras para não "melindrar" o leitor mais suscetível, e que tem dificuldades em entender a Bíblia como a revelação de Deus, na qual o próprio Deus se revela como o criador do mal (e não podia ser diferente).
As vezes Piper passa a idéia de que homens e nações podem pensar o mal por conta própria. Explico: mesmo o mal sendo inerente à nossa natureza, o simples pensamento nos denotaria uma pretensa "liberdade" em pensá-lo (uma falsa liberdade), o que, contudo, em relação a Deus, somente será possível dentro do Seu eterno desígnio. Sem que o pensamento estivesse decretado por Deus na eternamente, seria impossível ao homem ponderá-lo. Portanto, não há a menor hipótese do homem ser "livre" em relação a Deus, visto que a liberdade do homem por si só anularia a soberania de Deus; e o que a Escritura nos revela é o completo e soberano poder de Deus sobre toda a Sua criação, e de que esta criação é completa e servilmente dependente de Deus.
Contudo, Piper prega a soberania de Deus sobre tudo e todos, incluindo-se o mal, satanás, o sofrimento, a dor e o homem.
Mark R. Talbot escreve o segundo cap sobre "A Mão de Deus no sofrimento...".
Para ele, Deus nunca faz o mal, mas Ele cria o mal, o envia, o permite e move as pessoas a fazer o mal, porque nada levanta, existe ou permanece independente da vontade de Deus (Hb 1.3).
Até mesmo as palavras que pronunciamos são preditas e ordenadas por Deus (Sl 139,4 com Pv 16.1).
Talbot erra apenas ao afirmar que Deus não faz o mal, mas que o ordena. Há um conflito entre os termos, como se o ordenar pudesse "livrar" Deus de sua criação. Na prática, quem faz o mal são as criaturas de Deus. Mas o fato de ordenar implica no planejamento, desejo e decisão de criá-lo, no que concorda Talbot. Então, qual o problema de afirmar que Deus faz o mal? Como se fazer fosse pior do que criá-lo.
Na verdade, Deus não pode ser acusado de nada porque Ele não se sujeita a nada, quanto mais à sua criação. Não existe nada acima de Deus, nem mesmo a Lei Moral, a qual foi criada por Ele. Nós, criaturas, é que estamos sujeitos à vontade de Deus, e portanto, Ele é livre para fazer conosco o que quiser.
Deus não é mal por definição, porque assim a Bíblia o revela, e pronto! O fato dele criar o mal não o faz mal, porque o conceito de mal não é inerente à Sua natureza, mas uma criação, um ato da Sua vontade, assim como nós.
Deus é a autoridade máxima que sujeita tudo a Si, não estando sujeito a nada. Portanto, a questão a que Talbot e outros teólogos se apegam é apenas estética, no sentido de se usar uma palavra aparentemente "bonita" para definir algo pretensamente "feio".
Na questão da liberdade humana x responsabilidade, Talbot parece se perder em meio aos conceitos. Ao mesmo tempo em que afirma que Deus controla tudo, até mesmo o pensamento e palavras pronunciadas, ele se confunde um pouco com a questão da liberdade. Meio que "em cima do muro", Mark demonstra não querer assumir o óbvio: o homem não é livre em relação a Deus, e Deus controla cada movimento, pensamento e desejo humano, e ainda assim, o homem é responsável por seus atos.
Então, ora diz, ora desdiz o que afirmara antes, e acaba que o seu compatibilismo confunde mais do que elucida.
Ele tenta justificar seus conceitos com dois termos teólogicos: a vontade revelada (a qual o homem pode resistir) e a vontade secreta de Deus (a qual o homem não pode resistir).
Visto que, na história e no tempo a vontade secreta (ou parte dela) se tornará em vontade revelada (a vontade revelada um dia foi secreta), e se uma não pode ser resistida, como poderá ser a outra?
Não seria o caso da "vontade revelada" ser resistida pelo homem como parte do eterno decreto de Deus?
Como é possível ao homem resistir ao que não lhe foi revelado? E como pode não resistir ao que não lhe foi revelado? E somente por lhe ser revelado ele pode resistir? Em qual base?
Como conceito bíblico, a responsabilidade do homem não pressupõe liberdade, mas a autoridade divina. Somos responsáveis porque Deus determinou que o seríamos, e pronto! Tanto nós, como a Lei Moral somos obras de Deus, e portanto, sujeitas a Ele.
Mark Talbot parece perdido ao tentar "amenizar" a soberania de Deus e a responsabilidade humana, e por isso, diz sem dizer, como se estivesse andando em ovos. Ao afirmar que os atos humanos são preordenados e conhecidos de Deus na eternidade, e que o homem é responsável por esses atos, esqueceu-se de explicar como isso se dá. Falta objetividade, como se fossem doutrinas jogadas ao "leú", e cada um pode pegar o que quiser, e o que for mais conveniente.
Se ao contrário, o autor declarasse que a responsabilidade está ligada a autoridade de Deus, seria direto, prático e bíblico; ao invés de travar uma luta "sem fim" e insana entre a liberdade e responsabilidade humanas.
Outra questão levantada por Talbot sobre a liberdade e a escolha do homem é relacioná-la com as inúmeras passagens bíblicas que exortam-nos à santidade, retidão e perfeição, como se fossem frutos de uma "suposta" liberdade. E de que, por si só, essas referências levam à indicação "clara" de que o homem tem o poder da escolha "livre". Mas, onde mesmo a Bíblia afirma que o homem é livre para escolher?
O fato de escolher não implica ou prova essa liberdade, pois, para tanto, seria necessário:
1) Deus não ser soberano, e não exercer influência sobre o homem;
2) O homem ser uma força oponente a Deus, sendo, assim, capaz de rejeitá-lo e recusá-lO "livremente".
O autor confirma que a "escolha" somente é possível ao homem regenerado, ou seja, somente o nascido-de-novo poderá escolher entre ser servo de Deus ou não, e essa condição é a mesma na qual Adão foi criado antes da Queda, contudo, ficam as perguntas:
1) Se Adão pecou e caiu, o que impede o crente de também pecar e cair, sendo ambos homens e sendo detentores do "livre-arbítrio"?
2) O que levou Adão à Queda? Como foi possível a ele escolher pecar, quando desconhecia o mal e o pecado?
3) Se foi satanás quem o induziu ao pecado (e isso é fato), ainda assim, quem levou satanás a cair e escolher o mal, sendo que também ele não conhecia o mal? É possível se escolher algo que não conhece?
Assim, Talbot volta-se à crença no livre-arbítrio, ao arminianismo, (ao qual ele se opõe, mas ao que parece, nem tanto).
O fato de Deus exortar o povo a afastar-se do mal, e em outras, existir uma "escolha" do homem, não pressupõe que essa escolha é livre, e nada na Bíblia diz que o é; antes, ela afirma que existimos e nos movemos pelo soberano poder de Deus, como tudo o mais que Ele criou.
Talbot parece "inclinar-se" ao conflito, toda vez que tenta harmonizar a responsabilidade com a liberdade humanas. Uma hora afirma a livre escolha do homem (sem dizer em qual base), em outra, a dependência da vontade do homem ao eterno decreto de Deus, e de que essa vontade foi predestinada antes da fundação do mundo.
Pergunto: 1) Como isso é possível?
2) Se Deus determina, e o que determina ocorrerá infalivelmente a despeito da vontade "livre" do homem, como essa vontade poderá ser livre se sempre escolherá fazer e cumprir a preordenação de Deus?
3) Não seria por isso (por pensamentos mal formulados) que o calvinismo e a predestinação são incompreendidos? E com razão?
Como já disse, responsabilidade não pressupõe livre escolha ou liberdade humana. A responsabilidade pressupõe a autoridade divina pura e simplesmente manifesta na Sua vontade determinada, e por isso, o homem é responsável por seus atos.
Mas Talbot não desiste, tenta um último argumento: o da inclinação primária. Com isso, tenta explicar a "liberdade da vontade no nível mais fundamental do ser humano" (Nota 48).
Tal inclinação, por si só, não é a garantia final de que escolheremos aquilo que Deus determinou. Se há liberdade para decidir escolher, é possível e aceitável recusar-se o objeto de escolha, ainda que a minha inclinação me oriente a fazê-lo, pela própria liberdade de que desfruto.
Portanto, assim, o decreto de Deus é anulado, falível, e malogrará a qualquer momento pela liberdade de escolha do homem. Porque se é liberdade, não poderá ser jamais direcionada a produzir um fim, pois então, o homem estará "preso" à vontade divina, e portanto, o homem é um ser "não-livre" (O autor afirma que não existe neutralidade na escolha, então, a escolha é direcionada por Deus com o propósito de assegurar que a Sua vontade se realize).
Ao passo que, se há o decreto divino, e a vontade de Deus é imutável e infalivel, todos os atos humanos ocorrerão segundo esse decreto, e a vontade do homem somente é "livre" para obedecer a Deus, cumprindo ações preordenadas por Ele.
Nas palavras do autor: "Deus preordena o que os seres humanos escolhem. Ele nunca está ausente ou inativo quando os seres humanos causam sofrimentos uns aos outros ou a si mesmos... como aquele que mantém em suas mãos cada um e todos os aspectos da criação, até mesmo todos os seus aspectos maus de modo que possa dirigir tudo para onde será realizado exatamente o que ele deseja" (pg. 54-55).
Onde está a livre escolha do homem a que o autor se refere?
Como Talbot pode afirmar: "O fato de Deus haver ordenado tudo, inclusive nossas livres escolhas, não elimina nem diminui nossa responsabilidade" (pg 56).
Afinal, Deus ordenou, determinando nossas escolhas, portanto, elas foram escolhidas previamente por Deus, ou somos livres para escolher, e por conseguinte, livres de Deus?
Há um conflito na afirmação do autor, a ponto de questionar se ele entende realmente as noções do determinismo bíblico e do livre-arbitrio (aqui o termo utilizado é "livre escolha"), pois, o homem escolhe agir, mas não livremente, já que a sua decisão está subordinada à vontade divina, e Deus, afinal, é quem decide qual será a nossa escolha.
O autor diz que as escolhas, intenções e atitudes humanas correm em paralelo à escolha, intenção e atitude divina, ou seja, correm independentes, o que elimina a soberania de Deus, e faz do homem realmene livre para tomar o caminho que bem entende.
Sei que esse não é o pensamento de Talbot, mas ele nos leva a pensar assim, em vista da confusão do seu argumento, e tentativa pífia de harmonizar "livre escolha" do homem com a soberana vontade de Deus.
Se ambas correm em paralelo, são forças equivalentes e independentes, ainda que colaborem para o mesmo objetivo, ou o fim comum. Isso é antibíblico, e uma falácia, pois assim o homem seria soberano, já que é capaz de agir através de leis próprias, a parte de Deus.
A Escritura diz que a nossa vontade é guiada, ordenada e dirigida pelo Senhor, e, através do Seu poder, sujeita completamente o homem. Portanto, não há paralelismo mas subordinação da vontade humana (que não é livre)à vontade de Deus. Podemos dizer que a vontade do homem pertence a Deus.
Os próprios termos "livre" e "determinado" são antagônicos, contrários, não sendo conectados, congruentes.
Finalmente, Talbot disse a que veio. Como foi-lhe impossível harmonizar e explicar a junção de "livre escolha" humana e a vontade soberana de Deus, apelou para o paradoxo, para o mistério: "Minha resposta é a seguinte: Nós não conseguiremos compreender como isso é possível" (pg. 57).
Ele incorreu no que chama "erro de categoria", não em formulá-lo, mas porque usou a premissa errada, de que o homem detém o poder da "livre escolha", a liberdade de decidir (o famigerado livre-arbítrio). Como a premissa é falha, o restante do argumento não se sustenta e desmorona por completo, e o que se vê é confusão e a "não-resposta" de Talbot à questão do mal, sofrimento, soberania de Deus e a vontade do homem.
Se ele excluisse a premissa errada (ou melhor, não a incluisse), substituindo-a pela correta: de que o homem não é livre para escolher, e que a sua vontade está subordinada à vontade divina, o seu argumento seria simples e bíblico, e sua resposta exata, objetiva, e glorificaria a Deus.
Assim, páginas e páginas de enrolação e busca estéril seriam evitadas e "não-respostas" deixariam de ser escritas, e não teríamos de ler: "... tanto a atuação humana quanto a divina devem ser cabalmente afirmadas, sem tentarmos explicar como isso acontece" (pg 57).
Então, Talbot, porque insistir em explicá-la?
Afinal, o leitor tem a sensação de tempo perdido, e nenhuma resposta para a proposição. Tudo porque, páginas e mais páginas apenas confirmam que Talbot errou em não se fixar na doutrina bíblica, e apegou-se à pressuposição filosófica de que o homem é livre por natureza.
Algumas citações do pr. John Piper no cap. 3, parte 2:
- A explicação última para todas as coisas (a criação, o universo), inclusive o sofrimento, é manifestar a glória de Deus.
- "A morte de Cristo em supremo sofrimento é a mais alta, mais clara e mais perfeita demonstração da glória de graça de Deus" - pg. 68.
- "O sofrimento é uma parte essencial da tapeçaria do universo de modo que a urdidura da graça possa ser vista pelo que ela realmente representa" - pg 68.
- Piper aponta os seguintes versículos comprabatórios para as afirmações acima:
*Ap. 13.8 - Antes que o mundo existisse havia o Livro da Vida do Cordeiro que foi morto, o livro de Jesus Crucificado. O sofrimento de Cristo e a Sua morte foram decretados antes que Deus iniciasse a obra da Criação.
*2 Tm 1.9 - A graça de Deus nos foi dada (decretada) em Cristo antes do início dos tempos. Porque o sofrimento e a morte do Cordeiro no tempo é a "melhor manifestação possível da glória da graça de Deus" - pg. 69.
*Efésios 1 - Fomam escolhidos e predestinados em Cristo antes da fundação do mundo para louvor da glória da Sua graça. Porque nossa adoção como filhos de Deus não poderá ocorrer à parte da morte de Cristo.
*Ap. 5.9-12 - "O sofrimento do Filho de Deus nunca será esquecido. O maior sofrimento na História estará no centro de nosso culto e de nossa admiração para todo o sempre. Esse é o plano dEle antes da fundação do mundo. Tudo o mais está subordinado a esse plano" Pg. 70-71.
Piper tem uma explicação interessante para o sofrimento: "Ele(Deus) ordena a vida do sofrimento - embora ele cause dor - mas seu prazer não está no sofrimento, mas no grande propósito da criação: revelar a glória da graça de Deus no sofrimento de Cristo para a salvação dos pecadores" - pg. 72.
Concordo parcialmente com o pr. John, porque, ainda assim, tanto o sofrimento, como o pecado, a dor e a morte cumprem o papel de revelar, igualmente, a autoridade, o poder e a majestade de Deus, através das quais Ele será reverenciado como supremo Senhor do universo.
A Sua graça será reconhecida somente pelos eleitos, os predestinados à salvação, nos quais a graça se manifestará. Ao contrário, os reprovados, aqueles predestinados à condenação, experimentarão a ira e a justiça de Deus, não a Sua graça. Portanto, tanto a graça, como a ira de Deus são partes do Seu decreto eterno, assim como a justiça, a misericórdia, amor, santidade... a glória de Deus não se manifesta somente na graça mas no próprio ser de Deus, o qual é único e indivisível; uma vez que o sacrifício de Cristo na cruz veio mostrar-nos todos os atributos de Deus, pelos quais uns serão salvos e redimidos, outros serão julgados e condenados. Tudo cumprindo o soberano propósito de Deus, para a Sua glória e louvor.
Segundo Stephen Saint, a Bíblia aponta algumas razões para o sofrimento:
1)Punição ao rebelde (1Co 21.12).
2)Revelar o poder de Deus (João 9).
3)Perseverar o caráter do crente (Rm 5.1-5, Tg 1.2-4).
4)Manter o crente humilde (2Co 12.7-10).
Saint descreve a morte do seu pai e de mais quatro amigos pela tribo Waodoni (após a morte, seus corpos foram retalhados e os pedaços lançados em um rio); porém, através desse primeiro contato com a tribo, o Evangelho de Cristo foi pregado aos selvagens, e muitos foram salvos pelo poder de Deus.
Então, com base em Atos 2.22-23, Saint conclui: Se Deus foi capaz de planejar a morte de Seu próprio Filho, Ele planejou a morte do meu pai, não apenas permitindo, tolerando ou omitindo-se enquanto o fato acontecia, mas decretando-o.
Da mesma forma, diz: "Deus planejou a morte da minha filha", que faleceu vítima de uma hemorragia cerebral, ainda muito jovem.
O índio convertido ao cristianismo, chamado de vovô, o qual participou do massacre aos cinco homens, ao ver sua "neta" no hospítal entubada e com agulhas pelo braço, numa espécie de efusão alegre, declarou que Deus queria levá-la para Si, diante do olhar atônito de Saint e dos outros.
A cena levou-me as lágrimas por sua verdade. O velho índio foi capaz de perceber o que muitos teológos e eruditos são ou estão incapacitados de ver: que Deus não é um mero coadjuvante na história da humanidade, mas Ele é o autor da história; e somente o Senhor é capaz de transformar a mente de um ímpio, e revelar-lhe todo o Seu poder, amor, graça e majestade; levando-nos a vislumbrar a glória presente, e ainda mais, a futura, quando estaremos face-a-face com o nosso Redentor.
Carl F. Ellis Jr. escreve sobre o sofrimento de base étnica. Li o artigo com alguma dificuldade, pois suas interpretações à partir de textos bíblicos para explicar o sofrimento racial pareceram-me frágeis e forçadas. O exemplo de Israel, cativo pelos egípicios por 400 anos, não serve como base para o sofrimento étnico; pelo contrário, ele é prova da disciplina de Deus para com o Seu povo, e não fruto apenas de uma opressão dominadora dos egípcios. O Egito foi instrumento de Deus para disciplinar Israel e, de forma maravilhosa, revelar-lhe o Seu amor, e de que Deus era o Deus da nação hebraíca.
Em vários momentos da história houve a perseguição a povos, nações, raças, religiões e culturas. Mas isso está ligado diretamente à necessidade de domínio e poder do homem sobre o homem, o que, invariavelmente ocorreu com opressores que foram oprimidos, e oprimidos que se tornaram em opressores.
Ao relacionar o povo de Deus como uma espécie de "raça", Ellis foi muito além do que ele mesmo diz. Nós, os eleitos de Deus, somos um povo não do ponto de vista étnico (ainda que a referência à descendência de Abraão possa corroborrar tal afirmação), mas espiritual. E espírito não tem etnia, ainda que sejamos semelhantes a Cristo (um judeu), na eternidade seremos unicamente filhos do mesmo Pai, o Deus eterno que nos chamou à vida.
Portanto, não há como relacionar-nos com base étnica à Abraão ou mesmo a Jesus.
E, para mim, mesmo sendo parte de uma perseguição e dominação, o povo é formado por indivíduos, e são os indivíduos que sofrem e têm a consciência do sofrimento, e jamais o povo ou a nação. E Deus tratará sempre com os indivíduos, mesmo quando a nação a qual os indivíduos pertencem estiver debaixo da opressão e dominação.
O texto de Ellis está mais para uma espécie de evangelho social, onde as raças oprimidas necessitam ser "libertadas" da sua condição de inferioridade imposta por raças superiores, e a solução é a distribuição igualitária de meios para que o "inferior" possa equiparar-se ao "superior"; ou seja, que as condições sejam as mesmas e que ninguém seja privado do acesso aos meios e métodos que o tornarão "igual" a qualquer um dos seus semelhantes. Isso cheira a socialismo, e a base étnica de Ellis tem como objetivo a igualdade, a linearidade entre os homens.
Porém, pergunto: há igualdade no mundo? As Escrituras pregam algum tipo de igualdade? Haverá igualdade nos céus? A Bíblia afirma que não; e nem por isso, haverá injustiça, sofrimento ou tristeza. Se nem mesmo os dons que o Espirito Santo distribui são iguais, porque Ellis se apega ao mote da igualdade para justificar o sofrimento racial?
Um texto sem pé nem cabeça, com uma proposta extrabíblica e revolucionária, aos moldes do humanismo/marxista, que pôs cabeças nas guilhotinas, balas nas nucas, e, ainda hoje, é ferozmente injusto, opressivo e marginalizador.
David Powlison descreve o sofrimento como uma luta entre o entendimento da soberania de Deus e a bondade de Deus.
O Senhor não é um Deus fatalista, e a Sua vontade não pode ser entendida como algo meramente formal e autoritário, uma simples demonstração de poder. Antes, a soberania de Deus está imbuída de santos propósitos para o crente, mesmo no sofrimento; porque Ele é o Deus que se compadece, que entende o sofrimento humano, e ao contrário do que muitos afirmam, não trata os Seus decretos com frieza, indiferença e distanciamento.
O sofrimento vem para nos aproximar dEle, e para que Ele se aproxime de nós; para que haja completa dependência dEle e busquemos o Seu auxílio, conforto e suficiência.
A soberania de Deus não representa apenas a vitória de Deus, mas também a nossa vitória no sofrimento. Em nós, Deus revelerá a Sua misericórdia, amor e cuidados de Pai, o qual destina aos Seus filhos a santidade e a perfeição em que a obra iniciada em nossas vidas se consumará, e seremos iguais a Cristo nosso Senhor; além de retirar todo o pânico e desespero da vida, colocando-nos seguramente nas mãos do Deus que é o Senhor de tudo, e no qual podemos confiar plenamente, certos de que Ele produzirá em
nossa fragilidade o poder de Cristo que nos fortalece.
Outra questão espinhosa a qual Powlison aborda é o aconselhamento. A frieza e o fatalismo nos levará a massacrar o sofrido, sem dar-lhe nenhuma esperança ou alívio. Dizer para ele "esquecer" o sofrimento é desumanizá-lo, é querer que ele deixe de ser humano, levando-o a uma confusão ainda maior.
Por outro lado, psicologizar o problema em busca de um alívio mental, resultará em mais dores do que o problema em si trás.
Na maioria das vezes, o aconselhador quer se ver "livre" do aconselhado e do seu sofrimento, e, portanto, define a questão como algo a ser "abandonado", e assim, o conforto tomará o lugar da dor momentaneamente, e o aconselhador terá cumprido o seu papel, ainda que parcialmente (o que indica o não cumprimento da sua missão de aconselhamento).
O que Powlinson sugere é que, ao invés de colocar a questão como algo inevitável, a vontade soberana de Deus (o que é verdade, mas segundo ele não produz o alívio), mostremos o sofrimento como o chamado de Deus ao relacionamento íntimo, dependente do Criador. Assim, Deus não somente nos trará o conforto, mas também a santificação.
Não devemos ter medo de clamar e suplicar-lhE por alívio e solução do problema, como fez Davi e o próprio Senhor Jesus. Ao fazê-lo, encontraremos coragem (ao saber que Ele estará sempre conosco, mesmo nos momentos mais difíceis), e assim teremos um relacionamento intrínseco com Deus.
Um ponto conflitante é quando o autor afirma a diferença entre o pecado e o sofrimento. Para ele o pecado é o que você faz e isso é diferente do que acontece com você, o sofrimento. Ocorre que, muitas vezes, o sofrimento é consequência direta do pecado. A morte do filho de Davi com Betseba, por exemplo, é o caso em que a dor da perda do filho foi consequência do adultério de Davi.
Concordo que nem sempre há relação entre sofrimento e pecado (o que pode ser contradito, visto que o pecado é a causa do mal entrar no mundo). Cristo sofreu sem que cometesse um só pecado; o que nos leva novamente à questão da soberania de Deus, por que o sofrimento pode ser tão somente o propósito de Deus na vida do Seus filhos, de forma que sejamos instrumentos pelos quais Deus manifestará o Seu poder, e assim, revelaremos ao mundo o Seu amor, santidade e misericórdia.
Se jamais nos esquecermos de que Ele estará sempre ao nosso lado, e lutaremos contra a dor com as armas que nos proporcionou, mostraremos ao mundo a confiança que ele jamais terá, e a esperança e a certeza de que, naquele maravilhoso dia, "Deus limpará de seus olhos toda a lágrima; e não haverá mais morte, nem pranto, nem clamor, nem dor; porque já as primeiras coisas são passadas" (Ap. 21.4).
De forma geral, todos os textos remete-nos ao sofrimento de Cristo, no qual devemos nos espelhar. É verdade. Se o Deus Filho humilhou-se a assumir a condição humana e sofreu por nossos pecados, um sofrimento injusto para Ele, mas que nos justificou diante do Pai e livrou-nos da ira vindoura, não há ninguém a quem devemos olhar como exemplo a não ser o Filho de Deus.
Contudo, não somente como exemplo, mas como o libertador, inclusive do sofrimento, o qual se compadece de nós e nos sustenta em nossas fraquezas e dores.
Faço minhas as palavras do pr. David Powlison: "Como ele (Cristo), seus altos lamentos e lágrimas de fato serão ouvidos por aquele que salva da morte. Como ele, você aprenderá obediência por meio daquilo que sofrer. Como ele, você sentirá simpatia pela fraqueza de outros. Como ele, você lidará gentilmente com o ignorante e o obstinado. Como ele, você mostrará fé a um mundo incrédulo e infiel, esperança a mundo desesperado, amor a um mundo sem amor, vida a um mundo moribundo. Se tudo o que Deus promete se torna verdadeiro, então, por que não eu?"(pg 150).
Mesmo no sofrimento, devemos entregar no altar do Altíssimo nossas aflições, dúvidas e dores, pois como diz o salmista: "ao anoitecer vem o choro, mas a alegria vem pela manhã" (Sl 30.5).
Dustin Shramek leva-nos à seguinte pergunta: A soberania de Deus tira-nos a dor?
A sua resposta é não. Mas a dor produz para o nosso bem.
A boa teologia pode ser importante no momento do sofrimento, mas enquanto nós, como membros do corpo de Cristo, não sofrermos com os que sofrem, não sentirmos a realidade da dor na vida do irmão, de nada adiantará as respostas teológicas decoradas.
Como Paulo diz em Rm 12.13;15: "Comunicai com os santos nas suas necessidades, segui a hospitalidade... Alegrai-vos com os que se alegram; e chorai com os que choram". Seja a alegria ou a tristeza do irmão a nossa alegria ou a nossa tristeza.
Somente demonstraremos o amor verdadeiro ao irmão se chorarmos com ele, quando a sua dor penetrar-nos e nos mudar. Aí sim, estaremos em condições de dar o encorajamento correto com base nas Escrituras.
"Deus cuida de nós em meio à dor. Seu objetivo não é apenas nos transportar da dor para a alegria, ele também quer que vejamos que ele é por nós e está conosco na dor... Ele está conosco, mesmo na noite quando não há nada a não ser o choro, quando as lágrimas são tão densas que nem enxergamos nada. Quando estamos na mais profunda cova, e a escuridão pesa sobre nossas costas, e Deus parece tão ausente que perguntamos até mesmo se ele é real, esse salmo(88) nos lembra que ele está conosco mesmo assim" (pg. 160)
"Em meio à nossa dor, podemos sentir-nos sozinhos e acreditar que ninguém sofre tanto quanto nós sofremos. Porém, isso não é verdade. Jesus Cristo sentiu tal dor. Na realidade, ele sentiu uma dor tal que nos teria destruído. Ele é capaz de se condoer. 'Acheguemo-nos, portanto, confiadamente, junto ao trono da graça, a fim de recebermos misericórdia e acharmos graça para socorro em ocasião oportuna' (Hb 4.16)" (pg. 161).
"Deus nos diz que não precisamos ter medo. Por quê? Porque ele mesmo é aquele que nos ajuda. Ele é aquele que segura nossa mão e não solta. Nosso Redentor simplesmente não é qualquer um. Nosso Redentor é o Santo de Israel. Porque Deus é santo nós podemos ter confiança de que ele cumprirá suas promessas a nosso respeito. Se ele não é santo, ele pode fazer todas as promessas do mundo e, contudo, não ter nenhuma intenção ou mesmo a capacidade de cumpri-las. Mas ele é santo e, portanto, suas promessas são seguras. Quando ele diz que nunca nos deixará nem nos abandonará, ele quer dizer exatamente isso. Quando ele afirma que opera todas as coisas para o bem dos que o ama, ele o faz" (Pg 163).
O livro é corajoso ao abordar a questão da soberania de Deus e o sofrimento, indo aonde os poucos escritores que se atrevem a tratar o assunto não vão, mas ainda aquém da verdade bíblica.
Termos como "Deus permite" ao invés de isentá-lo de uma suposta "culpa" pelo mal, é apenas uma tentativa de diminui-lo, de restringir o Seu poder.
Tanto o mal como o sofrimento fazem parte do Decreto eterno de Deus, e estão sujeitos à Sua soberania e vontade, revelando-nos a Sua sabedoria e poder.
Não há nada alheio à vontade de Deus, e tudo que foi criado está sujeito a Ele, mesmo o mal e o sofrimento (de outra forma, creríamos em outra força, o que não existe).
O livro aborda algumas questões básicas ao crente, como a maneira dele lidar com o mal sem murmurar ou imputar alguma culpa a Deus (Jó é o melhor exemplo de um servo que sofreu mas não culpou Deus pelo seu sofrimento), ou seja, implica no nosso relacionamento com Deus diante do sofrimento, e de como devemos nos sujeitar à Sua santa vontade.
Também, mostra-nos como devemos nos relacionar com o irmão que sofre, e de que forma se deve aplicar a doutrina bíblica nesses casos.
Talvez, se houvesse a classe "3 estrelas e meia" eu a daria ao livro, porém como não tem, e visto haver mais acertos do que erros, qualificarei-o com 4 estrelas.
Vale a pena ler cuidadosamente a entrevista do Pr. John Piper ao final do livro.
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