Vincent Cheung
Editora Monergismo
144 páginas
A Bíblia tem muito a dizer sobre o assunto do bem e do mal. Deus quer que reconheçamos o bem como bem, o mal como mal, e que nunca confundamos as duas coisas. Indivíduos e sociedades se tornam ímpios aos olhos de Deus quando eles pervertem a justiça e a ética, ao confundir ou até mesmo reverter as definições de bem e mal.
SUMÁRIO:
Prefácio à Edição Brasileira
Prefácio
Sobre o Bem e o Mal
Sobre o Bem e o Mal
Sobre o Engano Mental
Lógica e Falácias
Lógica e Teologia
6 comentários:
Neste livro, Cheung discute o assunto presente em outras de suas obras como "O Autor do Pecado", "Confrontações Pressuposicionalistas", "Teologia Sistemática", entre outros.
O foco agora está ligado mais à definição e distinção entre o bem e o mal voltado para a sua relevância na vida cristã, como defesa da fé bíblica, e em oposição à visão secular da questão (pelo menos no início do livro). O autor não me parece muito envolvido com a questão da origem do mal (especificamente) nem do seu autor (ainda que o faça seminalmente).
Essa é uma questão delicada mesmo entre os calvinistas, e aqui, parece que não haverá muita rejeição à visão determinista bíblica de Vincent (com a qual concordo, e julgo ser escriturística, o que reflete em sua logicidade e coerência); não porque a aceitarão mais prontamente, mas porque não parece ser esse o alvo de Cheung.
A linguagem do autor está mais simplificada, mas abordando os vários temas de forma direta, como sempre, sem rodeios.
Algumas definições apresentadas pelo autor:
Deus é bom, portanto, Ele é o único capaz de definir acertivamente o que seja bom.
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O conhecimento inato de Deus foi colocado na mente humana e a partir dele é que conhecemos o que é bom. Contudo, o pecado distorceu esse conhecimento em nossas mentes, logo a dificuldade ou incapacidade do homem definir e distinguir o que seja o bem e o mal.
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Por se bom, tudo o que Deus decide ser bom será bom, e o que é bom foi-nos comunicado pela Escritura Sagrada, sendo ela o padrão objetivo que determinará aquilo que é bom, visto a definição de bondade proceder naturalmente da natureza de Deus, que a revelou na Bíblia.
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Tudo o que Deus é e faz é bom, não havendo nenhum padrão de bondade exterior a Ele que possa julgar os Seus atos como sendo bons ou maus.
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A vontade de Deus determina tudo, inclusive a bondade. Como Deus é soberano sobre tudo e todos, e nada ocorre alheio à Sua vontade ou exterior a Ele, Suas decisões são arbitrárias nesse sentido, partindo-se da autoridade absoluta de Deus governar todas as coisas segundo o Seu querer; visto a vontade de Deus ser a expressão única e final de tudo, não havendo nenhuma causação anterior.
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Deus não realiza outra coisa a não ser o bem, somente o bem.
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Antes da Criação, Deus existia sozinho na eternidade. Portanto, como surgiu o mal?
Deus fez criaturas com a capacidade de escolher, ainda que a vontade humana seja completamente controlada por Deus, e assim, pelo Seu decreto soberano, tais criaturas escolheram se rebelar contra a bondade de Deus, resultando no mal, o qual foi decretado por Ele, e sem Ele não existiria.
Mais definições (do autor e algumas minhas):
A Lei Moral é o padrão do que é bom, e a rebeldia à Lei Moral resulta no pecado, o desvio da bondade objetiva, a qual é o mal.
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O mal não é autocriado, nem independente da vontade divina, mas subserviente a ela.
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O bem é definido pela palavra de Deus, e o mal é o desvio, a desobediência à palavra de Deus. Portanto, a Bíblia é a única capaz de distinguir e indicar-nos o que seja o bem e o mal, como revelação direta de Deus às Suas criaturas.
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O relativismo visa destruir o conceito bíblico do bem, e ainda que não defina o mal, ele o serve, ao fazer com que a verdade e a moralidade sejam delineados subjetivamente pelo indivíduo. Assim, não haverá verdade nem moral absolutas, mas verdades e moralidade relativas, se é que podemos chamá-las de verdade e moral.
O termo correto seria a não-verdade e a não-moral estabelecida pelo indivíduo, porém, pode a não-verdade e a não-moralidade existir sem que haja o conceito de verdade e moral objetiva e absoluta? Não!
Para que exista a não-verdade e a não-moralidade, parte-se do pressuposto de que há, em princípio e como princípio, a verdade e a moral; que o próprio relativista afirma ao impor o seu próprio padrão moral, o qual, ao menos para ele, será objetivo na natureza.
Assim, o relativismo se torna em um conceito ilógico, tolo, e autorrefutável em si mesmo (desculpe-me a redundância, mas não resisti).
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O entendimento bíblico do bem e do mal se reflete na vida cristã e no testemunho cristão. Todo crente deve saber discernir objetivamente, à luz da Escritura, o que é bom, a fim de exercitar-se na bondade; e o mal, a fim de rejeitá-lo, odiá-lo, afastando-se dele.
Isso representa dizer que os cristãos estão no caminho correto ao fazê-lo, e os incrédulos no caminho errado ao não fazê-lo.
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O bem sempre vence o mal, exatamente porque o bem procede de Deus, ao contrário do mal.
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A leitura da palavra de Deus e o ensino doutrinário são as armas e o antídoto que combaterão o mal; e pelos seus conhecimentos ser-nos-á revelada a vontade divina de que pratiquemos o bem, tornando-nos aptos a discernir entre o que é bom e o que não é, com olhos espirituais e não contaminados pela falácia e corrupção que a cegueira secular proclama.
Por isso é necessário o ensino das doutrinas bíblicas, dos princípios objetivos da Escritura, nos lares, nas igrejas, e na vida de cada um dos cristãos, e mesmo na dos incrédulos, para que, através delas, Deus possa ser-lhes revelado segundo a Sua vontade.
No cap. 2, Cheung aborda o tema da batalha espiritual. O diabo sempre tentará nos manter distantes da verdade, do Evangelho de Cristo, o qual é sábio para nos guiar em todas as questões da vida, segundo os padrões ordenados por Deus.
Como fez com Eva e Adão no Éden, e tentou fazer com Cristo, satanás desvirtuou a palavra de Deus, a fim de atingir seus objetivos (o que ocorreu com Adão e Eva, e não teve sucesso com o Senhor Jesus). Então, ele sempre apelará para o engano mental, com o nítido propósito de levar o homem a conservar-se no erro, em rebeldia a Deus. Contudo, a palavra de Deus nos alerta sobre a sua natureza, o qual é mentiroso e pai da mentira.
A Escritura é a única, fidedigna e verdadeira revelação de Deus ao homem, e o conhecimento e relacionamento com Deus se baseia exclusivamente em suas doutrinas.
Assim, o diabo se utiliza de várias formas e maneiras para manter o homem afastado do entendimento e da prática cristã, utilizando do subjetivismo da experiência (empirismo) e dos sentidos (em conluio com ciências como a psicologia, a antropologia e sociologia) para "mascarar" a mentira, como se fosse verdade.
Com o raciocínio falso e experiência mal-interpretada, o homem é uma presa fácil para uma compreensão enganosa de Deus, Seus atributos e atuação, bem como da humanidade e do próprio universo.
Por isso, o mundo não aceita a autoridade da Bíblia, como o livro divinamente infalível, inspirado e inerrante, visto que a sua doutrina é proveniente de Deus, e é clara a inimizade que há entre a sabedoria de Deus e a pseudo-sabedoria humana.
Outros pontos são abordados didaticamente por Cheung, e de certa forma, giram em torno da questão da fidelidade bíblica e da supremacia do cristianismo sobre todas as outras cosmovisões.
Interessante que, mesmo partindo-se de esquemas filosóficos para explicar a fé cristã (sua racionalidade, lógica, validade e verdade absoluta), Vincent não usa a Bíblia como uma muleta, a fim de confirmar seus argumentos, porém, ele argumenta sobre e com base na Escritura, partindo-se primeiramente dela, explicando-a pela argumentação lógica.
O autor esclarece neste livro pontos que não foram devidamente clarificados no "Apologética no Diálogo". Portanto, aconselho a leitura desta obra primeiramente, para depois adentrar nas páginas do "Apologética".
No cap. 3, o autor trata de vários conceitos filosóficos, definindo-os, tais como: argumentação, premissa, conclusão, validade; examinando suas formas e avaliando-as do ponto de vista lógico.
É uma iniciação à lógica, explicada de maneira clara e simplificada, com exemplos elucidativos.
Cheung expoe também sobre as falácias, atendo-se as do tipo formais e informais, como um alerta aos cristãos, capacitando-os a perceber e se defender do ataque inconsistente e astuto dos argumentos não-cristãos (proveniente das falácias do diabo).
Sem essa noção e capacitade de detectar os erros grosseiros do argumento das cosmovisões não-cristãs, o crente se verá, muitas vezes, enganado e incapacitado de rebater e entender claramente qual o objetivo do seu opositor.
Portanto, a lógica é uma ferramente essencial para que o crente seja um apologeta com a habilidade de lidar logicamente com argumentos, e concluir se são válidos ou não.
É claro que de nada adianta a lógica sem que o apologeta esteja familiarizado com a Bíblia, aceite-a como a fidedigna palavra de Deus, como a revelação de Deus ao homem, e busque o verdadeiro conhecimento de Deus através delas. Sem isso, sua defesa será vazia e desprovida de significado.
Novamente, nesse ponto, Cheung vai além do que se propôs no "Apologética no Diálogo", de maneira que este livro se torna um complemento àquele.
No cap.4 Cheung demonstra a interligação entre lógica e teologia, no sentido de que "o estudo da lógica nos ajuda a esclarecer e organizar nossos pensamentos... Deus escolheu falar conosco usando a linguagem humana, e o que ele revelou foi registrado na Escritura. As declarações da Bíblia, embora sejam teológicas e espirituais, ainda são declarações da linguagem humana, e, como tal, seguem as regras de gramática e lógica" (pg 123).
Assim, o autor defende que o cristão não pode prescendir da lógica, em nome do anti-intelectualismo, para conhecer a Deus e a Sua palavra. O conhecimento de Deus é intelectual e pela fé; e sustentá-lo apenas como uma experiência ou intuição, as quais, invariavelmente estão sujeitas a erros de interpretação, é engano.
Como Deus é lógico (o fato de sê-lo não quer dizer que Deus está "sujeito" à lógica, visto sê-la uma criação de Deus, portanto, é Ele que a sujeita conforme a Sua vontade), e as leis da lógica procedem de sua mente, "sua natureza não é contraditória, e sua comunicação conosco é lógica e coerente" (pg 124).
Deus é sempre lógico, e Ele nos será revelado pela informação intelectual comunicada na Escritura, e a recusa em aceitá-la, não de estudá-la, é que impedirá o homem de conhecer a Deus, e assim, rejeitando-a, estará impedido de obter a salvação e a vida eterna. Portanto, para todos os que lêem a Bíblia é preciso crer no que se lê, para encontrar a Verdade, Cristo, em suas páginas.
Teologia sem lógica é em si mesma uma afirmação autorrefutável.
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