Questões Últimas [****]




Vincent Cheung
Editora Monergismo
144 páginas

"As questões últimas incluem metafísica, epistemologia,  teologia, antropologia e ética. O Estudo dessas questões últimas corresponderá a uma introdução à filosofia. Elas são apropriadamente chamadas de questões últimas porque são basilares a qualquer sistema de pensamento, e nossas respostas a elas afetam nossa opinião para todos e qualquer assunto na vida".

7 comentários:

Jorge Fernandes Isah disse...

No capítulo 1 do livro, Cheung aborda algumas questões:

1)Combate a idéia falaciosa de que as evidências refletem a realidade, de tal forma que a realidade somente se pode conhecida se houver evidências que a confirmem.

2)Faltam evidências que confirmem a afirmação de que sem evidências suficientes é impossível ao homem crer em qualquer coisa. Ora, qual a base para se crer nisso, se é possível alguém crer na verdade mesmo sem que haja evidência alguma?

3)O Cristianismo é a cosmovisão superior a todas as demais cosmovisões, as quais falham exatamente em estabelecer o princípio da autoridade. O Cristianismo "é justificado pela autoridade de Deus, e nenhuma autoridade é anterior ou mais alta do que ele" [pg 17]; de tal forma que as proposições infalivelmente dadas pelo Deus onisciente e todo-poderoso formam a epistemologia revelacional da fé cristã.

4)Somente Deus e a realidade são possíveis de se conhecer pela revelação proposicional de Deus, a Escritura.

5)A ciência não pode, por si mesma, descobrir a verdade visto estar permeada por falácias lógicas em todos os seus processos. Mas mesmo diante das pressuposições científicas o cristão argumentará que é mais racional afirmar que o universo foi feito por um criador onipontete e inteligente, e assim, mostrar que o Cristianismo é superior à plausibilidade científica.

6)Deus pode ser percebido através da revelação natural, a Criação, mas jamais compreendido e conhecido a partir dela. Apenas a revelação especial pode levar o homem a conhecer a Deus e a realidade [sugiro a leitura de um texto meu "Revelação: O Deus irredutível - parte 1" onde aborda esta questão. O link é http://kalamo.blogspot.com/2011/02/o-deus-irredutivel.html].

Detalhes desse capitulo ainda serão fornecidos.

Jorge Fernandes Isah disse...

Interessante que, a primeira vez em ouvi o título "Questões últimas" [se não me engano em um livro do Ronald Nash], pensei se tratar da discussão sobre escatologia e a doutrina das "Ultimas Coisas"... hoje, rio-me do que imaginava ser, pois descobri que "Questões últimas" está diretamente ligado à pergunta: quem somos, de onde viemos, o que fazemos, para onde vamos, etc; ou seja, trata-se do debate sobre a teoria do conhecimento [epistemologia]; a essência das coisas, sejam físicas ou espirituais [metafísica]; ética/moral, etc.
Apenas um detalhe de como se pode ser ignorante, e de como eu era ignorante [não que não o seja, mas ao menos sei o que são "Questões últimas", ainda que não as entenda adequada e profundamente].

Jorge Fernandes Isah disse...

Há coisas na apologética que não consegui ainda entender; estou-me esforçando, mas parece ir muito além do que eu mesmo seja capaz de compreender. Uma das questões é o fato de Cheung estabelecer que um incrédulo ou seja, um não-cristão, pode ser demolido em sua cosmovisão, racionalmente, pelo Cristianismo.
Ao meu ver, um não-cristão somente pode ser convencido racionalmente pela verdade, o Cristianismo, se for regenerado. Não consigo imaginar um não-cristão crendo nos princípios cristãos sem o novo-nascimento, sem que os seus pressupostos sejam ordenados pelo Espírito Santo.
Por isso, fiz algumas perguntas a um irmão [cujo nome manterei em sigilo, pois não lhe pedi autorização para transcrever a sua resposta], as quais me respondeu:

Eu: O Cristianismo é superior às outras cosmovisões. Ponto. Agora, um cristão tem de reconhecer isso naturalmente, pelo pressuposto de que a Bíblia é a palavra de Deus.
Ele: Não meramente por crer que a Bíblia é a Palavra de Deus. Isto, por si só, não leva à conclusão lógica que o cristianismo é superior às outras cosmovisões. A Bíblia diz ser a Palavra de Deus, e o cristão defende a superioridade (ou melhor, exclusividade, monopólio da verdade) do cristianismo porque o próprio cristianismo ensina isso: Ef 4.4-6; Is 37.20; 42.8; 43.10-13; 44.6,8,24; 45.5-6,18,20-24; 46.5,9; 1 Ts 1.9-10; 1 Tm 1.17; 2.5; Jr 10.10-13; Dn 3.29; Jd 1.24-25; Jl 2.27; Gn 28.13-14; Ex 34.14 etc.
- 'Há um só Deus e um só mediador entre Deus e os homens: o homem Cristo Jesus' (1 Tm 2.5);
- 'Não há absolutamente ninguém comparável a ti, ó Senhor; tu és grande, e grande é o poder do teu nome' (Jr 10.6);
- 'Há apenas um Legislador e Juiz, aquele que pode salvar e destruir' (Tg 4.12);
- 'Quem entre os deuses é semelhante a ti, Senhor? Quem é semelhante a ti? Majestoso em santidade, terrível em feitos gloriosos, autor de maravilhas?' (Ex 15.11; tbém 34.10)
- Moisés disse a Deus: 'Como se saberá que eu e o teu povo podemos contar com o teu favor, se não nos acompanhares? Que mais poderá distinguir a mim e a teu povo de todos os demais povos da face da terra?' (Ex 33.16)
- 'Não há outro Deus além de mim, um Deus justo e salvador; não há outro além de mim' (Is 45.21)
- 'Todo o que nega o Filho também não tem o Pai; quem confessa publicamente o Filho tem também o Pai' (1 Jo 2.23);
- 'Deus nos deu a vida eterna, e essa vida está em seu Filho [Jesus Cristo]. Quem tem o Filho, tem a vida; quem não tem o Filho de Deus, não tem a vida' (1 Jo 5.11-12; tbém Jd 1.21);
- 'Todo aquele que não permanece no ensino de Cristo, mas vai além dele, não tem Deus; quem permanece no ensino tem o Pai e também o Filho' (2 Jo 1.9);
- 'Ninguém conhece o Filho a não ser o Pai, e ninguém conhece o Pai a não ser o Filho e aqueles a quem o Filho o quiser revelar' (Mt 11.27);
- 'Aquele que não está comigo, está contra mim; e aquele que comigo não ajunta, espalha' (Mt 12.30)
- 'Sabemos também que o Filho de Deus veio e nos deu entendimento, para que conheçamos aquele que é o Verdadeiro. E nós estamos naquele que é o Verdadeiro, em seu Filho Jesus Cristo. Este é o verdadeiro Deus e a vida eterna' (1 Jo 5.20)
- 'Você crê que existe um só Deus? Muito bem! Até mesmo os demônios crêem - e tremem!' (Tg 2.19)

[Continua...]

Jorge Fernandes Isah disse...

[...]

Eu: Mas, e no caso de um incrédulo que não crê nela?
Ele: O cristão deve mostrar:
(1) que o sistema filosófico do incrédulo é irracional, e
(2) que o sistema filosófico do cristão é logicamente sustentável, consistente.
Também, o incrédulo deve entender que as reivindicações da Bíblia não podem ser tomadas isoladamente de tudo o mais que está pressuposto na metafísica cristã (por ex., o fato de a Bíblia ser fidedigna no conteúdo porque é revelação de um Deus soberano). O sistema filosófico cristão, como qualquer cosmovisão, é um esquema conceitual com partes mutuamente dependentes, e assim devemos analisar a cosmovisão de maneira sistemática.
Da mesma forma, tendo demonstrado (1), o cristão terá mostrado ao incrédulo que este não tem qualquer garantia ou critério racional para rejeitar de antemão o cristianismo.

Eu: O ateu, por exemplo, não reconhecerá a Bíblia. Então, pergunto: por que seria mais racional para um incrédulo crer em Deus do que não crer em Deus?
Ele: A menos que o ateu mostre e justifique um critério infalível não-bíblico para reconhecer ou não a autoridade de Deus (cf. a Bíblia), sua rejeição desse Deus será arbitrária. Agora, como ele não tem a opção racional de rejeitar Deus a priori, o cristão só precisará mostrar a consistência interna do sistema cristão (cf. ensino bíblico), sempre lembrando que a mesma Bíblia que nos fala de Deus, também fala que esse Deus (1) revelou a Bíblia para nós e (2) preservou seu conteúdo porque é um Deus soberano.
No fim das contas, o Deus cristão não ficará demonstrado apenas por expor que não há base racional para efetivamente rejeitá-lo. Mas aí é que entram a fé e o testemunho interno do Espírito Santo.
O ateu não pode racionalmente rejeitar o Deus cristão, nem pode rejeitar a racionalidade do sistema cristão. Mas só aceitará a fé cristã por ação sobrenatural de Deus.

No frigir dos ovos, pude entender que a Bíblia autentica o Cristianismo e vice-versa [o que ainda me parece um esquema circular para um não-cristão]; e de que somente pelo poder regenerador de Deus o homem se convencerá e reconhecerá a verdade, operada através da revelação especial, a Escritura.
E fico pensando, o que adiantaria convencer um incrédulo da lógica e validade do Cristianismo sem que ele se convertesse? Bem, entendo que ela poderá levá-lo ao entendimento, e o Espírito agindo em conformidade com a Palavra, operará a regeneração, suficiente para transformar-lhe a vida. Do contrário, ele poderá até mesmo entender e validar o Cristianismo como a única verdade, mas o fará segundo outros propósitos de Deus [p.ex., servir de instrumento para a conversão de outros], sem que, contudo, ele se beneficie da verdade além da vida terrena.
Espero que os esclarecimentos daquele irmão sejam de auxílio.

Jorge Fernandes Isah disse...

No cap. 2, Cheung discute a impossibilidade de se conhecer a realidade através do empirismo. Ele cita exemplos interessantes e fáceis de se aperceber que pela observação e pelas sensações é-se impossível conhecer qualquer coisa. A observação somente testificará e reconhecerá o que já é conhecido pela razão. E somente Deus pode conduzir e conceder o conhecimento à mente humana.
Pelo fato do homem ser o imago dei de Deus, a razão para que reconheça e aprenda os vários aspectos da realidade somente podem vir do próprio Deus. A observação, as sensações e o empirismo não possibilitam o conhecimento. Antes, eles o confirmam.
Uma criança somente poderá reconhecer um carro, se souber antes o que é um carro. Ela tem de ter o conhecimento do que venha a ser um carro para depois reconhecê-lo como tal. Se não tiver, será impossível de fazê-lo pelo simples fato de ver um; levando-a a confundi-lo com outro objeto ou mesmo ignorar completamente a sua realidade como carro.
Portanto, o empirismo é contraditório quanto ao conceito epistemológico de levar ao conhecimento, pois absolutamente ele pode levar-nos a ele.

Jorge Fernandes Isah disse...

No decorrer do cap. 2 e 3, Cheung trata da relação epistemológica com a soteriologia [a doutrina da salvação].
A partir do já exposto, ele conclui, entre outras coisas:

1) Deus é soberano e supremo na realização de todas as coisas, e nada se realiza sem que seja da sua vontade
2) A obra de salvação é completamente do Senhor, de tal forma que Deus é quem elege, salva, chama e capacita o homem ao arrependimento, regenera e preserva-lhe no estado de santificação.
3) Não há qualquer chance do homem salvar a si mesmo, muito menos querer ou desejar a salvação. Nossos olhos e mente antes mortos pelo pecado, são abertos e regenerados pelo Espírito para reconhecer Cristo como Senhor e Salvador. Porém, isso é impossível se Deus não operar no homem, dando-lhe o novo-nascimento.
4) Não há conflito entre Soberania de Deus e responsabilidade humana. Portanto, não há paradoxo nem contradição entre elas. Claramente são asseveradas na Escritura, de tal forma que Deus é completamente soberano, por sua autoridade máxima como ser perfeito, santo e justo, enquanto o homem deve satisfação de seus atos a Deus, quer queira ou não.
5) A responsabilidade do homem somente pode ser considerada a partir da autoridade divina, e jamais por uma suposta liberdade ou livre-arbítrio.

6) Já que o homem não é livre de Deus, nem mesmo em seus pensamentos e vontade, a responsabilidade de seus atos reside no supremo juízo de Deus, que absolvirá os justos [pelo sacrifício salvífico de Cristo] e condenará os injustos [que não foram expiados na cruz por Cristo].
[...]

Jorge Fernandes Isah disse...

Trecho muito interessante é o que consta no início do cap 3, tratando da eleição. O título é "eleitos", em que a defesa da eleição como uma prerrogativa divina e não humana [no sentido de que o homem elege a si mesmo aceitando a Cristo, e por essa decisão, Deus validaria a sua eleição] é realizada de maneira irrefutável através da Escritura.

Sempre as voltas com a defesa da fé intelectual e racional e contra o antiintelectualismo, mesmo de cristãos eruditos, Cheung defende que o conhecimento de Deus e sua vontade passa necessariamente pela compreensão racional da revelação especial pela ação regenerativa do Espirito Santo em transformar nossas mentes na mente de Cristo.

Concordo com praticamente todos os pontos apontados no livro, exceção à dúvida que deixei no início destes comentários, e à uma possível defesa de Cheung do não-cessacionismo dos dons apostólicos.

Livro recomendadíssimo!

Após a leitura, classificarei os livros assim:
Péssimo [0] Ruim [*] Regular [**] Bom [***] Muito Bom [****] Excelente [*****]