A Morte de Ivan Ilitch [***]







Leon Tolstoi
L&PM - Livraria Cultura
112 Páginas

"Esta obra mostra a história de um burocrata medíocre, Ivan Ilitch, um juiz respeitado que depois de conseguir uma oferta para ser juiz em uma outra cidade, compra um apartamento lá, para ele, sua mulher, sua filha e seu filho morarem. Ao ir para o apartamento, antes de todos, para decorá-lo, ele cai e se machuca na região do rim, dando início à uma doença"

2 comentários:

Jorge Fernandes Isah disse...

Mais do que a descrição da morte física [uma descrição tão detalhada e assustadora que até senti as dores de Ivan, o personagem principal, como se minhas fossem], o livro descreve uma destruição progressiva e inevitável da vida pessoal e familiar de Ivan, onde muros eram construídos e aumentados à proporção da solidão, distanciamento e autopiedade na qual se lançava no curso da doença. Uma doença muito mais da alma, do espírito, do que física, culminando nas incertezas e desesperanças em que se via cada vez mais atrelado e mergulhado. E isso refletia diretamente nos seus familiares que sofriam com a sua dor, mas sobretudo com a sua injustiça ao imputar-lhes a causa do seu mal.

De um problema físico, Tolstoi aborda, delineia e expõe as feridas e doenças da alma, em que as relações se tornam em angustiante tristeza e flagelo.

E a morte, tão presente, trazia ao homem confiante e seguro de si mesmo, como o era Ivan, sentimentos de autocomisseração, falta de piedade, desamor e sobretudo medo; ao que destaco alguns trechos:

"Em alguns momentos, depois de um período prolongado de sofrimento, desejava, mais do que outra coisa - envergonhava-se de confessá-lo-, alguém que sentisse pena dele como se tem pena de uma criança doente".

"Chorou por sua solidão, seu desamparo, pela crueldade do ser humano, a crueldade de Deus e ausência de Deus".

E aqui está a resposta para o sofrimento e a desesperança: o abandono do homem em si mesmo, e a procura tresloucada de encontrar as respostas e o alívio em outras pessoas, quando em si mesmo não as há. Somente Deus pode dá-las, e mais do que isso, proporcioná-las, sem o quê não resta o que fazer, a não ser sentir-se amargo e cínico, e culpar a todos e tudo pelo não se foi capaz de alcançar e nunca será.

"Enquanto ela [a esposa] o beijava, ele [Ivan] odiou-a do fundo da sua alma e foi com dificuldade que conseguiu conter-se para não empurrá-la.
- Boa noite. Se Deus quiser, você dormirá bem!".

No final das contas, parece-me que Ivan não queria mesmo se curar [se não no início, durante a enfermidade pareceu agradar-lhe o sofrimento e a angústia e a indiferença e o medo que causava]; e reunindo as forças que lhe restavam sofria e fazia sofrer com empenho. E apenas quando já não podia mais lutar, encontrou o sentimento de piedade pelos da sua casa, o que, de alguma maneira, trouxe-lhe paz e a libertação, ainda que parcial, da morte iminente. Talvez esteja ali uma resposta ou fragmentos de uma resposta, e com a qual teve de lutar até se ver vencido. Da mesma forma que o antigo ditado diz, onde não há pão ninguém tem razão, pode-se dizer que onde não há amor há dor em profusão. E o que pode ser o amor se não um dom divino, no qual Cristo resumiu tudo: amar a Deus e ao próximo como a ti mesmo!

Ainda que tarde, Ivan talvez tenha experimentado uma centelha do amor, onde o corpo aflito poderia guardar uma alma confortada, ainda que enferma e à porta da morte.

Ives disse...

Os Russos não escrevem apenas poesias, mas filosofias que estão cercadas de atrativos, inclusive o romance, não é?

Após a leitura, classificarei os livros assim:
Péssimo [0] Ruim [*] Regular [**] Bom [***] Muito Bom [****] Excelente [*****]