Filosofia e Fé Cristã (***)



Colin Brown
Editora Vida Nova
280 páginas


"
Neste livro, Colin Brown consegue, com sucesso, alcançar algo praticamente impossível: discutir o pensamento de cerca de 450 filósofos, trazendo-nos um rico panorama dos últimos mil anos da história do pensamento humano.
Porém, o autor não apenas nos apresenta ao pensamento de vários intelectuais, mas também mostra, com admirável precisão, como tudo isso afeta a fé cristã".

6 comentários:

Jorge Fernandes Isah disse...

O autor começa o livro pela filosofia medieval, mostrando as influências absorvidas dos filósofos gregos (Socrates, Platão, Aristóteles), a influência dos grandes pensadores da Igreja Primitiva, os chamados Pais da Igreja, como Justino Mártir, Tertuliano e, especialmente, Agostinho (o qual foi o pai tanto do catolicismo romano [através da doutrina dos sacramentos, por exemplo] como dos protestantes [através da doutrina da graça, expiação, redenção, etc].
Outro ponto abordado pelo autor é a confusão que se fazia à época entre filosofia e cristianismo, onde um era usado para explicar o outro quando, muito, eles podiam auxiliar no conhecimento de cada uma das partes, quanto mais elucidá-las ou defini-las.

Jorge Fernandes Isah disse...

Colin Brown escreveu um livro didático, porém, de leitura prazeirosa. A maneira como aborda as várias correntes filosóficas e seus principais proponentes, não apenas resumindo seus pensamentos mas explicitando-os com simplicidade, fazem de "Filosofia e Fé Cristã" um livro que instruirá o leitor nos rudimentos que interligam filosofia e cristianismo, basicamente.
Interessante que, no intuito de se explicar razoavel e racionalmente a fé, muitos estudiosos partiram para conclusões diletantes, revelando o pouco ou nenhum conhecimento que tinham de Deus. Isso fez com que alguns se afastassem ainda mais da verdade e da realidade, como Hume, um cético ferrenho, cujo trabalho filosófico se resume à pura descrença. Na verdade, ao ridicularizar a fé, ele revelaou a falta de consistência e incoerência.
Por outro lado, mostra-nos a impossibilidade de se conhecer Deus à parte da revelação escriturística que Ele fez de Si mesmo. Da mesma forma, é impossível ao homem conhecer-se sem encontrar-se também na revelação escriturítica que Deus faz de suas criaturas.
Filósofos sinceros como Blaise Pascoal, John Locke e Issac Newton (nos quais percebe-se uma fé cristã segura, ainda que não comprovada) não foram capazes de arquitetar plausivelmente um conceito que explicasse e definisse a natureza de Deus, nem da realidade. Como disse, à margem da Bíblia isso é impossível, a menos que se crie a imagem de uma divindade alheia ao Deus bíblico, mas semelhante ao homem, logo, um semi-deus imperfeito e irreal.
É interessante como mentes tão geniais (a maioria desses filósofos eram matemáticos e/ou físicos prolíficos) tivessem (e têm) tanta dificuldade em compreender que é impossível, não somente improvável, ao homem criar um ser sábio, santo, soberano e perfeito como Deus. Nenhuma mente, por mais privilegiada que for, conseguiria essa proesa.
Os relatos bíblicos são inteligíveis para eles não por serem pouco críveis, mas pela imperfeição de suas próprias mentes, e pela tolice de quererem adequar Deus a elas.
Sem Cristo, qualquer expectativa ou tentativa de se compreender Deus é nula, estéril, loucura.
Assim como muitos O reconhecerão intelectualmente, racionalmente, contudo, jamais sentirão o gozo e alegria em Deus, os quais são frutos do Espírito no homem, e obra única dEle.
A busca pelo entendimento humano, pelo viés específico da descoberta e de uma nova classificação para Deus, somente levará o indivíduo a maior distância da revelação divina, para uma realidade onde o conceito de Deus torna-se a mais vulgar tolice, para não dizer, corrupção e perversão movida pela própria debilidade da natureza humana.

Jorge Fernandes Isah disse...

Em meio à divinização do homem, ou seja, a primazia dos conceitos antropocêntricos em detrimento do teocentrismo, esses intelectuais racionalistas, iluministas e céticos, constroem suas idéias em verdadeiros "campos minados", onde, com o argumento de que primam a razão, levam-nas a explodir em inúmeros fragmentos, os quais são incapazes de construir a verdade, antes, levam-os a uma realidade amorfa, intocável, onde a pretensa autonomia e autoridade do homem revela uma mente aguçada pela fragilidade de uma natureza rebelde e destituída de moralidade (no sentido não de uma moral hipócrita, mas da Lei Moral divina).
Alguns, ao basearem-se em sensações e experimentações como explicação da realidade, tornam-na numa abstração impossível.
Quando o homem afasta-se da revelação escriturística, exatamente por considerá-la "fantasiosa" por demais, fora dos padrões exigidos pela comprovação racional, criam um mundo ainda mais irreal e imaginário do que postulam ser a realidade com Deus.
Estranhamente, o homem foge de si mesmo, da responsabilidade, em busca de um lugar onde não haja autoridade a não ser ele próprio. Por isso, a necessidade de se excluir Deus desse mundo, obrigatoriamente. E o que acabam por criar é uma tolice com ares de sabedoria e sofisticação.
"Um conceito tão otimista de natureza humana que chega a ser quase ingênuo, e uma falta de disposição em levar a sério Cristo e a revelação cristã" (pg 71).
No fundo, o cético é um "rebelde sem causa"; e engana-se no otimismo de que o homem, um dia, se salvará a si mesmo, resgatando-se da imperfeição, ou, esconde-se na idéia de que a maldade e a imperfeição culminará em sua própria destruição. Para o cético, em qualquer dessas opções, a humanidade sempre se sobreporá à divindade: não há lugar para a perfeição, a santidade, e a pureza moral. A ética é pessoal e não serve a ninguém mais do que a si mesmo.
Em seus defeitos e desvios, ainda assim, o homem é o seu deus, pois, ao rejeitarem o pressuposto da sobrenaturalidade, o cético transforma o homem natural e limitado em sobrenatural, ao tentar, obstinadamente, substituir o Criador pela criatura.
Isso os faz levianos, e capazes de manipular o que não conhecem mas dizem conhecer, que ao final tornam-se em conjecturas evasivas a lançarem-nos por completo no desconhecido.
Onde tudo é permitido, por mais tolo, absurdo e temerário que seja, desde que se evite a todo custo levar Cristo a sério, não somente o personagem histórico, mas o Deus encarnado e sua obra sobrenatural de redenção.
Assim o cético afasta-se da verdade e cria uma realidade ilusória, onde suas premissas infundadas sempre o levarão à inverdade, onde o preconceito e o medo guiaram-no à imersão na fraqueza, à filosofia que dizendo-se libertadora, o aprisionará, tornando-o o objeto do seu próprio conceito.
No fim, não importa a existência, nem pessoas, a história ou fatos, apenas a declaração pura e simples de que o conceito é a realidade. Ainda que inexplicável.
"Quando algúem tem uma teoria que não se encaixa em todos os fatos, tem somente duas opções: modificar (ou até mesmo de abandonar) a teoria, ou ignorar os fatos. Ao lidar com a religião, Kant (como tantos outros filósofos dos séculos XVII e XVIII) fez esta última opção. Sua filosofia não leva em conta as experiências cristãs de Deus e o testemunho histórico da Bíblia. O que seu método fazia era algo como escrever um livro acerca das montanhas do Himalaia com a inteção deliberada de ignorar o monte Everest. Kant não foi o primeiro a agir assim. E embora houvesse outros no século XIX, tais como Schleiermacher e Kierkegaard, que levantaram suas vozes em protesto, ele não foi o último, de modo algum" (pg 86).

Jorge Fernandes Isah disse...

Depois de quase 300 pg, Colin Brown passeou por todos os movimentos filosóficos dos últimos 500 anos (ao menos, os mais expressivos), muitos, dentro do próprio cristianismo.
Ao que me parece, desde o início, o autor propõe uma separação entre filosofia e cristianismo, mostrando que a união dos dois inevitavelmente enfraquecerá e desfigurará o cristianismo, sem explicá-lo ou acrescentar algo a ele, pelo contrário, o estreitamento entre a fé cristã e qualquer sistema filosófico implicará em sérios riscos para aquela.
"O processo funciona de duas maneiras diferentes. De um lado, há alguns que, diante das idéias mais em voga no momento, se sentem obrigados a organizar e a reinterpretar o cristianismo de acordo com elas. Por outro lado, há também aqueles que sentem que este ou aquele sistema é a resposata por excelência às necessidades da época" (pg. 230). O que acontece é que o filósofo se vê obrigado a desmontar e reconstruir o cristianismo nos moldes exigidos por seu padrão teórico; o que leva a fé cristã a se encaixar no sistema escolhido pela manipulação, descaracterizando-a. De outra forma, se o sistema é falho em algum ponto, tem-se a impressão de que o cristianismo entrou em colapso exatamente por cauda do sistema falho a ela vinculado.
Contudo, isso não quer dizer que a filosofia não possa servir à causa cristã, muito frequentemente na construção de argumentos que a defendam. "A moral de tudo isto é que nem devemos nos precipitar, como fazem ingenuamente alguns intelectuais sofisticados, a dotar a última moda filosófica, nem fugir em pânico, com alguns pietistas menos sofisticados. Pelo contrário, devemos ponderar com calma e intensamente acerca de cada nova tendência, e avaliá-la à luz da nossa experiência e fé" (pg 232).
Concordo com sua posição de não haver uma interrelação entre fé e filosofia, ao ponto em que aquela seja subjugada a esta. Porém, como disse acima, a filosofia é fundamental para entendermos os "meandros" da fé, a defini-la e organizá-la como um conjunto de idéias e ideais racionalmente.
Do ponto de vista apologético a filosofia pode ser uma ferramenta que nos auxiliará a evitar os erros em sua defesa, e a combater os ataques a ela, revelando igualmente os erros proposicionais dos anticristãos.
Porém, sempre deve-se ter em mente que a fé bíblica vai além do entendimento racional (ainda que ela seja entendida racionalmente e dentro dos padrões racionais de inteligibilidade), ela é fruto da ação sobrenatural do Espírito Santo em nossa mente, regenerando-a e trazendo-a cativa a Cristo.
Como o Senhor exortou-nos quanto a necessidade de sermos "prudentes como as serpentes e inofensivos como as pombas" (Mt 10.16), assim deve ser o nosso proceder em todos os aspectos da vida cristã, e em sua relação com o secularismo.

Jorge Fernandes Isah disse...

Ainda que tenha resumidamente discorrido sobre a filosofia e a teologia reformada, foi importante a análise do pensamento de Cornelius Van Til e Francis Schaeffer, talvez os dois grande proponentes do "pressuposicionalismo", que nada mais é do que a afirmação de "que o universo em geral e a vida humana em particular têm verdadeiro sentido somente segundo os pressupostos cristãos". Ou seja, o cristianismo bíblico é a única verdade, pois Cristo, o Seu criador, é a Verdade. Todas as demais religiões, incluindo-se o secularismo e o ateísmo antireligiosos são falsos, ainda que contenham alguns aspectos da verdade.
Ao lado de Gordon Clark e Vincent Cheung, Van Til e Schaeffer, simbolizam e resumem o verdadeiro pensamento e espírito cristãos do último século (a exceção de Cheung, os demais faleceram).
Colin Brown, creio, atingiu o objetivo ao escrever o livro sobre a história da filosofia que é "descobrir a quantidade de idéias com ares de modernas que já foram testadas (e respondidas) há muitas gerações" (pg 14).
O alerta está dado; não o negligenciemos.

Jorge Fernandes Isah disse...

Há de se ressaltar a resumida exposição das idéias de Karl Barth, Van Til e Schaeffer, em detrimento das de heréticos contumazes como Tillich e Bultmann.
Faltou-lhe também o reconhecimento claro do "pressuposicionalismo" como um sistema não derivado da Escritura, mas como um sistema bíblico de pensamento.
Por isso, dou-lhe *** ao invés das **** que pretendia originalmente.
Achei-o, de certa forma, superior ao do Mcgrath e sua "Teologia Sistemática, Histórica e Filosófica". Ao menos, Colin Brown não teme emitir sua opinião, e não se esconde atrás de "suas preferências".

Após a leitura, classificarei os livros assim:
Péssimo [0] Ruim [*] Regular [**] Bom [***] Muito Bom [****] Excelente [*****]