A Luz das Nossas Mentes (*****)



Vincent Cheung
Editora Monergismo
124 pg


O anti-intelectualismo prevalece no Cristianismo evangélico moderno. Livros e sermões advogam uma fé mística e irracional, e muitos que alegam ser povo de Deus "gostam dessas coisas" (Jeremias 5.31). A tendência é tão predominante que algumas pessoas associam intimamente o anti-intelectualismo ao Cristianismo, afirmando uma disjunção autoimposta entre a fé e a razão, de forma que seja necessário um "salto de fé" irracional para que alguém abrace a cosmovisão cristã.
Os ensaios neste livro compartilham pelo menos dois temas comuns - a ênfase bíblica sobre a mente e o monopólio da cosmovisão cristã sobre a esfera intelectual. O Cristianismo preserva a racionalidade e fornece a pré-condição da inteligibilidade. Juntos, esses capítulos são como um lembrete para o cristão amar a Deus com toda a sua mente (Mateus 22.37), e, ao mesmo tempo, ilustram uma estratégia eficaz para a apologética cristã.

5 comentários:

Jorge Fernandes Isah disse...

No Cap. 1, Cheung questiona algumas posições do teólogo Alister McGrath para fazer a distinção entre apologética e evangelismo.
Segundo McGrath, a apologética não objetiva ganhar argumentos, mas almas, no que, Cheung, aponta o seu erro ao misturar a argumentação que é a própria essência da apologética (a defesa da fé) com o evangelismo que é a pregação das boas novas de Cristo.
Ao dizer de McGrath o apologeta pode "perder um argumento contra o não-cristão, e, em conexão com a perda do argumento, ainda ganhá-lo para Cristo" (pg 14). Isso é, no mínimo, incoerente e contraditório.
Claramente, McGrath (como muitos cristãos atualmente) confunde a defesa racional e intelectual do Cristianismo como a única religião verdadeira em oposição a todos os demais sistemas religiosos (inclusive o ateísmo), com o evangelismo, no qual o objetivo é tanto o de provar a veracidade da fé cristã através da argumentação como o de ser usado por Deus como instrumento pelo qual o incrédulo se converterá.
Infelizmente, os cristãos têm se tornado tão místicos (no pior sentido da palavra) que desprezam a razão e o intelecto como se ambos fossem obstáculos para a conversão do incrédulo, e, também, para a santificação do eleito. Mas, fica a pergunta: Sem o intelecto e a razão, onde o Espírito Santo atuará no incrédulo? Se a obra de Deus no inconverso é a transformação da sua mente, a fim de que o eleito arrependa-se, converta-se e tenha a mente de Cristo, como é possível a transformação sem que ela passe pelo intelecto? Deus dará o convencimento de que a fé cristã é verdadeira através da capacidade das pessoas de raciocinarem. Isso não quer dizer que tem de se ter uma mente brilhante, ser um gênio ou coisa parecida para reconhecer o senhorio de Cristo. Não é isso. Mas, mesmo na mente mais débil, o Espírito a despertará para que Ele seja reconhecido como único e suficiente salvador.
A questão não é de se ser mais ou menos inteligente, a questão é de que o convencimento se dará pela razão e intelecto, pelo agir do Espírito na mente humana, tanto para a conversão como para a santificação. Portanto, desprezar a obra de Deus na mente é desprezar o próprio padrão divino estabelecido pela Escritura.
O crente não pode refugar ao debate, à defesa da fé cristã, assim como não pode deixar de proclamar o Evangelho de Cristo. Ainda que ambas se pareçam e estejam interligadas, os objetivos são diferentes, mesmo se partindo da apologética para a evangelização, como a maneira de glorificar a Deus e propagar a verdade.
"Portanto, eu lhe exorto pela autoridade da revelação divina: Argumente! Mantenha seu caráter cristão enquanto argumenta, mas argumente com sabedoria e com força; argumente sem transigência e duramente; argumente para destruir cada premissa injustificada e demolir cada pensamento incrédulo; argumente para expor a falência intelectual de toda cosmovisão não cristã. Não deixe que os tolos, covardes e hereges o dissuadam de seu mandato bíblico. Argumente bem, e argumente para vencer" (pg 36).
Duras palavras, mas verdadeiras. Por que nos curvarmos à insanidade, loucura e disposição maligna dos incrédulos? Por que não aplicarmos os métodos bíblicos de defesa da fé e proclamação do Evangelho? Como Pedro disse: Mais importa agradar a Deus do que aos homens. Sejamos então assim!

Jorge Fernandes Isah disse...

No Cap. 2, Cheung fala da necessidade da pregação do Evangelho de Cristo, pois, muitos dizem ser suficiente somente o testemunho cristão. Mas alguém compreenderá o testemunho de um cristão sem saber sê-lo um cristão? E para saber sê-lo um cristão não é necessário a pregação de Cristo crucificado? Portanto, o testemunho sem a pregação pode ser entendido como qualquer coisa, até mesmo boas ações de um homem bom, o que seria uma mentira, visto a Bíblia afirmar que ninguém é bom, somente Deus.
Logo, para que o testemunho não verbal do crente seja efetivo é necessário que primeiro, Aquele a quem o cristão serve, seja proclamado verbalmente como Deus e Senhor da sua vida. Como Paulo disse, se não houver pregação quem crerá?
De uma forma maravilhosa, a pregação da palavra, mesmo sem o testemunho ou exemplo moral, surtirá efeito na alma do eleito. Porque a palavra é autoritativa e eficaz na conversão do eleito. Ela é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê.
A ênfase primeira tem sempre de ser na pregação do Evangelho; o testemunho é importante para corroborar o efeito sobrenatural da palavra pregada pela ação do Espírito Santo, porém, jamais será indispensável para a salvação.
Cito o meu exemplo: Deus converteu-me a Si unicamente pela leitura da Bíblia Sagrada, sem que eu convivesse com nenhum crente (odiava crentes), sem frequentar igrejas, ouvir pregações, ou seja, exclusivamente pelo poder da Sua palavra e do Seu santo Espírito.
Isso não quer dizer que o crente não tem de dar um bom exemplo. São situações diferentes. A disposição à obediência aos princípios bíblicos, a busca pela santidade, e em sermos novas criaturas em Cristo, transformadas pelo seu poder, são frutos da obra que Deus realiza em nossas vidas. Mas nada substituirá o aspecto verbal e intelectual do evangelismo como preeminentes na regeneração e conversão do perdido.
"Devemos ser capazes também de fornecer justificativa para o que cremos, pois, como Pedro diz: 'Estejam sempre preparados para responder a qualquer pessoa que lhes pedir a razão da esperança que há em vocês' (1Pe 3.15). Mas devemos nos comprometer também a um tipo de vida caracterizado por santidade e retidão, de forma que 'os que falam maldosamente contra o bom procedimento de vocês, porque estão em Cristo, fiquem envergonhados de suas calúnias' (v.16)." (pg. 48).

Jorge Fernandes Isah disse...

Depois de ler vários livros do Cheung, cheguei à seguinte conclusão: Graças a Deus pela vida desse irmão, o qual o Senhor tem usado para proclamar o Seu santo Evangelho, e para, longe de se adaptar aos modismos e novidades, manter-se fiel a Palavra e a revelação do bom Deus.
Ainda que a sua linguagem as vezes soe como prepotente, arrogante e deselegante, o que Cheung faz é defender objetivamente o Evangelho, sem se preocupar com as tendências seculares do politicamente correto, da contemporização e do marketing editorial. Se há algo que o distingue no atual cenário editorial é o descompromisso em agradar o leitor com palavra adocicadas e muitas vezes insignificantes, as quais não transmitem nenhum sentido a não ser acomodar o pecador no pecado.
E neste livro, não é diferente. O autor não tem "papas" na língua e mostra-nos a verdade nua e crua do Evangelho, sem floreios, sem fantasias, sem diluí-lo, sem descaracterizá-lo.
É um livro simples, objetivo e que vai no cerne da questão sem firulas e desvios. No decorrer do texto o que se lê é sempre o alerta: o Evangelho de Cristo é a verdade, porque Cristo é a verdade; e, nós, os eleitos, devemos buscá-la na fonte escriturística, defendê-la e propagá-la sem subterfúgios.
Grande pequeno livro este do Cheung. Para ler e reler.

Jorge Fernandes Isah disse...

No Cap. 3, o autor afirma a necessidade e urgência do cristão se apegar à doutrina revelada escrituristicamente, para não ser enganado pelas doutrinas falsificadas que têm a pretensão de serem cristãs, mas são armadilhas do diabo.
A síntese é: a mensagem do Evangelho foi-nos dada para que, através dela, nós, os eleitos, tenhamos a mente iluminada pela doutrina de Deus.
Partindo-se de 2Co 4.4-6,Cheung divide o cap em:
1)A Mensagem Intelectual - da mesma forma que a cegueira espiritual dos incrédulos é intelectual, a luz que invade a mente do eleito convertido por Cristo é também intelectual. Não há como se desprezar a ação do Espírito em nossa mente para compreendermos e entendermos a revelação divina, a fim de vivermos no espírito, não como carnais. Isso se dá na mente: a natureza espiritual dos conceitos e atividades intelectuais, os quais a Escritura se refere sempre como algo "espiritual".
Isso representa que a pregação do Evangelho tem de ser inteligível, convincente, coerente e formulada correta e exatamente. "Quer para evangelização ou para a edificação, a pregação doutrinária genuína nunca pode ser substituída pelas experiências, orações, músicas, confraternizações e rituais" (pg. 57).
2)A Mensagem Cristológica - Deus é a fonte de todo o conhecimento, e a luz que invadirá a mente do convertido é o conhecimento da glória de Deus, por meio de Cristo.
O Evangelho não pode ser falseado, e pregado falsamente, porque assim não é a luz mas as trevas que permanecerão na mente do incrédulo. Logo, o cristão redimido jamais poderá tolerar a falsidade, mas revelá-la, opondo-se a ela através da verdade a fim de ser demolida.
Em outras palavras, Cheung diz: "Encorajamos a violência intelectual contra as ideias e religiões não cristãs, e não a violência física ou militar" (pg 82).
Como apenas o Cristianismo é verdadeiro, porque Cristo é a verdade, todas as demais cosmovisões que não sejam a cristã, ainda que tenham parcelas da verdade, são falsificações baratas e usurpações de parte da verdade para se travestirem de verdade. No fundo, são apropriações indevidas de parte da verdade com o intuíto de iludir e enganar os incautos, fazendo-se passar pela verdade quando são mentiras sutis e malignas.
Portanto, o cristão tem o dever de defender a verdade, pelo Evangelho de Cristo e o poder do Espírito Santo, e assim, a falsidade das demais cosmovisões ficará patente e visível, ainda que o defensor dessa cosmovisão não aceite a revelação divina pela Palavra, pois somente aos eleitos é-lhes dado aceitá-la.
"O Cristianismo será o único que permanecerá de pé quando a poeira se assentar" (pg 83), num debate onde as ideias cristã e não-cristã ocorrer.
3)A Mensagem Revelacional - O fundamento da verdade é Cristo. Ele é a verdade, o caminho e a vida (Jo 14.6). Não há outro. E qualquer outro que se considere a verdade está em flagrante mentira.
Portanto, a Escritura Sagrada é que fornece o ensino do Cristianismo como única base autoritativa e fiel da revelação divina ao homem, da qual Cristo é a plenitude de Deus, e somente Ele pode levar o homem ao Criador; pois só há um mediador entre Deus e o homem, Jesus Cristo homem.
A fiel mensagem e revelação de Deus ao homem se dá exclusivamente pela Bíblia; e nenhum outro profeta e nenhuma outra revelação que contradiga ou queira substituir Cristo é verdadeira.
4)Sumário e Conclusão - "Jesus Cristo é a luz das nossas mentes, e todo aquele que o rejeita permanece em trevas e morte" (pg 92). É preciso falar mais?

Jorge Fernandes Isah disse...

O cap. 4 trata da questão do Mal. Ou seja, os cristãos têm como responder às implicações do Mal no mundo controlado por um Deus bom e misericordioso?
Infelizmente, os cristãos não estão preparados para refutar esse tipo de acusação normalmente formulada pelos céticos. O problema é que eles vêem a questão sentimentalmente, emocionalmente, e não do ponto de vista lógico, o que leva o cristão a se sentir acuado, sem respostas, dando de "banteja" a vitória ao incrédulo. Contudo, se se buscasse a resposta na Bíblia, entendendo-a como a fiel palavra de Deus, e que Ele não se exime ou se desculpa da origem do Mal estar incluída em seu decreto eterno, como obra de Suas mãos, o crente refutaria facilmente o chamado "problema do Mal".
Cheung explica não só a visão bíblica do Mal, como algo que não está além ou aquém da soberania divina, mas completamente inserida nela como fruto da Sua santa vontade, sem a qual o Mal não existiria. Pois é possível haver alguma coisa no universo sem que Deus queira?
Esta questão está muito bem delineada no excelente livro "O Autor do Pecado", cujos comentários podem ser lidos aqui mesmo neste blog.
Isso não quer dizer que Cheung se repita no presente livro. Não é isso. O assunto é o mesmo, mas a abordagem é muito mais apologética, no sentido de se estabelecer uma defesa quanto ao alegado problema, do que a discussão teológico/doutrinária da origem do Mal, ainda que ele o faça não tão detalhadamente aqui.
De qualquer forma, "A Luz das Nossas Mentes" é um livro excelente, em que o leitor será confrontado por conceitos bíblicos que, ao contrário do livre-arbítrio, estão presentes na Escritura, e que muitos teólogos e pastores simplesmente os ignoram ou os distorcem a fim de corroborar suas ideologias humanistas e seculares.
Cheung é bíblico, e prega diligentemente a Bíblia. Só isso já bastaria para ser lido.
Então, mãos-à-obra. Leia Vincent Cheung imediatamente! (Mas se você não ler a Escritura, de nada adiantará os livros do autor).

Após a leitura, classificarei os livros assim:
Péssimo [0] Ruim [*] Regular [**] Bom [***] Muito Bom [****] Excelente [*****]