152 páginas
"Propósito ou acaso? Esta é pergunta que não quer calar diante das descobertas mais recentes da ciência na astronomia e na física. Albert Einstein relutou em aceitar que o acaso esteve na base da origem do universo. Ele mesmo declarou: "Deus não joga dados". A partir desta afirmação, surge o questionamento do Dr. John Houghton, cientista e autor deste livro. Deus participa de alguma parte no desenvolvimento do universo? Por que Deus precisa ser lembrado nesta história toda? Nosso quadro não está completo sem ele, pelo menos até onde a natureza está relacionada? Como cientista e líder nestas descobertas recentes, seus relatos vívidos são contribuições bem-vindas à compreensão tanto do mistério em torno da origem do universo quanto da natureza da fé."
8 comentários:
Numa promoção da Hagnos, me peguei diante deste livro. Primeiro, foi o preço baixo (R$ 9,90), depois o tema, e, por fim, a necessidade de ler algo um pouco diferente em termos literários. Colocar a velha, boa e bíblica teologia calvinista um pouco de lado e "mexer" em outra área, talvez, como uma forma de descanso, de distração mesmo.
Se há um adjetivo que me possa aplicar em termos científicos é: ignorante! Não entendo nada de nada. Portanto, de certa forma, me surpreendi comprando o livro do Dr. Houghton.
Para começar, a linguagem é simples, de fácil entendimento. Ele não usa muitos termos técnicos ou uma linguagem inexpugnável, e procura deixar bem claro aquilo que deseja expôr. É um livro que pode seguramente ser destinado a adolescentes e mesmo pré-adolescentes (que certamente sabem mais do que eu sobre ciência).
Bem, o que me saltou aos olhos, entre afirmações e assertivas, é que existe mesmo muita especulação e teorias. A ciência é movida por conjecturas, inferências, observações e hipóteses, o que desfaz a idéia de infalibilidade, quase uma deidade nos dias atuais.
O materialista/naturalista se baseia necessariamente nela para ver "confirmada" suas crenças e filosófias. Como a ciência não é neutra, ela também está contaminada por pressupostos, e tenderá a segui-los. Não há isenção na ciência, como não há isenção em nada neste mundo.
O Dr. John começa tudo pelo Big-Bang, aquela explosão há bilhões de anos que originou o universo, e tornou possível que a vida "evoluisse".
Já li em algum lugar que a teoria do Big-Bang está caindo em deuso(teoria; pois é impossível prová-la, e para a ciência a repetição é fundamental para que um postulado seja elevado ao ponto de lei; o que não impede que cientistas afirmem como lei um postulado, mesmo que ele seja indemonstrável ou haja algum vestígio de ser possível. Vide o darwinismo); que entre os cientistas há sérias implicações de que não tenha ocorrido.
Sinceramente não sei se verdade ou não. Como boa parte dos cientistas, também encontro-me num estágio inconclusivo (rsrs).
Quando um cientista cristão de alguma forma crê na evolução, está posto sob suspeita por mim. É o caso do Francis Collins que em seu livro a "Linguagem de Deus" fez uma defesa descarada do darwinismo, e colocou a fé como algo verdadeiro se provada cientificamente. Até fiz um post sobre esse livro no Kálamos. Bem no início do blog, muito antes de ter a idéia de criar "O que estou lendo...".
Continua...
[Continuação]
Também li em algum lugar (será o livro do Dr. Morris?) que o universo foi criado para que houvesse vida na Terra. De uma forma inexplicável, todo o universo funciona para que seja possível a existência da vida em nosso planeta.
O Dr. John parece confirmar esta hipótese ao dizer: "Podemos demonstrar que, para a existência do homem, é necessário o universo inteiro" (pg. 33).
Esta é uma forte evidência de uma mente poderosa a arquitetar a vida; pois o universo funciona ordenadamente sob as leis da mais alta precisão, e isso não poderia ocorrer aleatoriamente, pelo acaso, de maneira descuidada. Seria um volume monumental de coincidências que levariam à perfeita harmonia entre os milhares de elementos de que o universo é composto. O que em termos de probabilidade vai além do zero, é negativa mesmo.
A idéia de Criador é muito, mas muito mais factível do que a do acaso coordenando incertamente os acontecimentos.
O que me desagrada na idéia do Big-Bang é que ela favorece o deísmo, ou seja, um Deus impessoal que apertou o gatilho, iniciou o processo, e depois o universo passou a funcionar por si mesmo. O que se diz (e muitos cristãos o repetem tolamente) é que Deus deu o "pontapé" inicial para que o universo sugisse, o supriu de todos os mecanismos necessários para que ele evoluísse e funcionasse ordenadamente, e deixou-o de lado.
Esta não é a revelação que a Bíblia nos dá de Deus. Antes, Ele é o Deus pessoal, que sustenta e controla cada fração mínima do corpo mais insignificante e minúsculo do universo, sem o que nada funcionaria adequadamente.
Veremos o que o restante do livro nos aguarda, especialmente quando o autor se referir diretamente a Deus.
O Dr. Houghton diz: "Creio,contudo, que faz mais sentido pensar de Deus não apenas como o grande projetista mas como a fonte daquilo que mantém o universo em existência. Deus é assim o grande sustentador através do qual o movimento contínuo, momento-a-momento da atividade do todo apresenta o universo contínuo.
Estou falando que se nós estamos pensando de Deus abarcando tudo, isto somente faz sentido tendo a maior visão dele... O quadro de Deus como projetista, criador e sustentador do universo é aquele que se harmoniza melhor com o encontrado no pensamento hebreu no Velho Testamento e no início do pensamento cristão no Novo Testamento. Tanto para os hebreus como para os cristãos, aprender sobre o universo (mesmo o universo limitado que conheciam) tem sido o primeiro passo para o aprendizado sobre Deus" (pg 38.39).
O autor, ao menos no trecho acima, não parece se interessar nem advogar a idéia de um deus impessoal, mas a do Deus bíblico, pessoal e Senhor de todas as coisas. Ele acabou por responder mais rapidamente do que eu esperava o meu questionamento, apresentado no comentário anterior.
Ponto para o Dr. John Houghton. Ainda que eu não consiga ver com bons olhos a teoria do Big-Bang ou a "evolução do universo" com a revelação escriturística (especialmente na questão relativa ao Deus pessoal). Mas como o autor parece não ver problemas no aparente conflito entre elas, esperarei para emitir uma opinião mais acurada à frente.
Por hora, o Dr. Houghton me surpreendeu positivamente.
Micro biografia:
Sir John Houghton nasceu em 30/12/1931, na cidade de Dyserth, País de Galês, Reino Unido.
Foi criado como metodista calvinista na Igreja Presbiteriana de Gales (interessante um calvinista metodista criado na I.P.G... interessante) e se manteve um cristão convicto por toda a sua vida. Se tornou uma voz significativa nos círculos cristãos e científicos.
Pertence atualmente à Aberdovey Igreja Presbiteriana.
É físico, e foi diretor geral do Escritório de Meteorologia em Bracknell, e também, professor de Física Atmosférica em Oxford.
Por muitos anos foi coordenador de experiências espaciais da NASA.
Em 2007 recebeu o Prêmio Nobel da Paz, como parte do Painel Intergovernamental da ONU sobre Mudança Climática (IPCC), ao lado do ex-vice-presidente, Al Gore.
Tirando-se a companhia do Al Gore quando da premiação do Nobel, o curriculo do Dr. Houghton é relevante e impressionante.
Ao falar da questão espaço/tempo, o Dr. Houghton disse não haver nada mais rápido do que a luz. E através da luz, é possível se determinar a distância das estrelas e galáxias. Porém, fica a pergunta para qualquer físico me responder (saiba que sou ignorante em física, então é preciso uma linguagem bem rudimentar para que eu entenda):
Se a medida entre as estrelas é feita a partir da velocidade da luz, aquela que nos chega após viajar anos e mais anos pelo espaço, mesmo sendo uma medida exata, como é possível se determinar a distância se não sabemos quando a luz partiu da estrela ou galáxia? Sem se saber quando (o tempo) a luz foi gerada, como é-se capaz de estabelecer o quanto ela percorreu? E como saber se o feixe de luz que chegou partiu antes ou depois de outro feixe luminoso?
Sei que deve haver uma fórmula não inteligível para os leigos, mas até que ponto ela é verdadeira? Infalível? Pode ser repetida? Por que, senão, não há a menor possibilidade de se calcular a distância entre as estrelas, nem mesmo a distância entre a Terra e o Sol.
Novamente reitero que são perguntas de um ignorante em física, que apenas quer entender como se processa. Seria através dos aceleradores de partículas? Teria alguma coisa a ver com a fórmula de Einstein, E=MC2?
Talvez a distância seja calculada pela luminosidade da estrela. Quanto mais brilhante, mais próxima. Mas isso requererá saber também o tamanho dela, pois quanto maior, mais luz ela emitirá. Então, me parece algo estranho que se possa saber com exatidão a distância entre uma estrela e outra, sem se saber quando e em que tempo a luz que viajou no espaço foi formada. Através do brilho da estrela se saber quando ela foi formada, para se saber a distância percorrida, me meio implausível.
De qualquer forma, é uma curiosidade, ao qual o livro chamou-me a atenção.
O autor, a partir da analogia ciência/fé (a aplicação de métodos científicos para explicar o Cristianismo), não tenta fazer apenas um paralelismo entre ambas, mas sobrepor uma a outra.
Como ao explicar as dimensões, e afirmar a possibilidade de Deus estar numa 5a. dimensão, fora do tempo, a gerir e sustentar o universo.
De certa forma, o que vejo são algumas especulações, ainda que bem intencionadas, de posicionar o Cristianismo como evidenciável a partir de parâmetros científicos. É uma boa tentativa; e mesmo considerando o caráter sobrenatural da fé (ao que o dr. Houghton não despreza) parece-me, de certa forma, reducionismo explicar Deus a partir de fórmulas e exemplos físicos, naturais; ainda que toda a natureza reflita a genialidade e poder divinos.
O fato é que, para um iletrado como eu em ciência, todo o esquema do livro se aproxima muito mais da teologia e filosofia do que da própria física. O que não desmerece em nada o livro; visto que a maioria dos cientistas ateus se baseiam exatamente em pressupostos filosóficos para chegar às suas falsas conclusões.
As melhores partes são suas incursões teológicas, especialmente aquelas cujas referências são bíblicas, pois revelam a verdade: Deus é pessoal, Senhor e Criador de todas as coisas; e sua obra primorosa foi a salvação do homem caído, através do sacrifício de Cristo na cruz.
Esta é, resumindo, a fé do Dr. Houghton. É claro que quanto à Criação, há uma espécie de nuvem encobrindo alguns pontos, mas o autor não se aprofunda neles.
O livro, escrito em 1988, ao menos para mim, não me pareceu "datado" do ponto de vista científico; levando-me a refletir não somente na grandiosidade e inexpugnabilidade do universo (ainda que o homem venha conhecendo-o a "conta-gotas"; como se o universo fosse o Atlântico ou o Pacífico, e a ciência um conta-gotas pequeno a tirar a água do oceano), assim, somos reportados pelo Dr. Houghton à ainda mais grandiosa, fascinante, e menos inexpugnável natureza divina (graças à revelação escriturística: a Bíblia Sagrada, a revelação do próprio Deus ao seu povo).
"Deus joga dados?" é um livro simples, acessível, que a partir do natural aventura-se a explicar o sobrenatural, no que, em parte, obtém êxito. Mas o mais interessante é perceber que o conflito entre fé e ciência se dá quando os pressupostos científicos são falsos (a parte filosófica da ciência, na qual está contaminada), especialmente o naturalismo ateísta que tenta excluir Deus do debate. Esta falha compromete o seu entendimento, ao afirmar a dinâmica, onipotência e brilhantismo do acaso como o criador de todas as coisas.
E, nesse ponto, ele se torna em um deus, e o naturalista/ateísta, a despeito de sua soberba em afirmar não ter fé, explica tudo a partir de uma fé irracional, ilógica, e não científica no deus impessoal.
Por isso, estou com o Dr. John Houghton: "O homem, o homem caído, ainda continua a agir da mesma maneira. Em nenhum lugar isto está mais claro do que em sua teimosa busca de poder e controle através da tecnologia. No lugar de reconhecer sua dependência no universo e sua submissão ao criador, o homem tenta erguer-se a si mesmo como um ser transcendente do qual tudo flui. Em termos da nossa analogia dimensional o homem vê a si mesmo com elevada dimensionalidade, como controlador e operador da dimensão espiritual" (pg.135).
E esse será sempre o problema do homem: seu estado de constante rebeldia contra Deus, tentando fazer-se deus.
Um capítulo interessante é o que trata do "Natural e Sobrenatural" [cap. 10] em que o autor aborda o ceticismo do meio acadêmico, e entre a maioria dos cientistas, que tendem, de maneira reducionista, a explicar certos fenômenos e até mesmo milagres com uma visão de que tudo pode ser explicado ou poderá sê-lo pela razão, a partir das descrições de eventos pelas leis científicas. Logo a intervenção de Deus no mundo "natural" é desnecessária e supérflua, já que tudo pode ser explicado pelo homem [voltamos ao ponto em que o homem se considera autosuficiente, autoexistente, e autodeifica-se].
Em seu lugar entraria o "acaso", o fatalismo que tem em seu escopo todas as causas e efeitos de todas as coisas.
As analogias de Houghton para que entendamos fatos como a soberania de Deus, o mal, aliberdade de escolha humana, a ressurreição do corpo, são eficientes e, mesmo como analogias, demonstram o grande conhecimento bíblico e teológico do autor.
Sua perspectiva é o que se pode chamar de compatibilista, ainda que a descrição que deu na relação soberania de Deus x responsabilidade humana está muito próxima do relato bíblico.
A sua analogia quanto ao grande enxadrista a disputar uma partida com um jogador comum, para explicar a relação Deus x homem, também é eficiente, ainda que ele apele para o paradoxo, o que não considero escriturístico.
"Os teólogos tentam chegar a um acordo para esse problema definindo diferentes espécies de "vontade de Deus" - por um lado, bons eventos que resultam da sua atividade direta, e por outro, eventos do mal que Deus permite mas pelos quais ele não é diretamente responsável. Apesar de apresentar uma terminologia proveitosa que nos previne de conectar Deus diretamente com o mal e o sofrimento, a distinção tende a aparentar algo tramado. É interessante notar que a mensagem principal de um antigo tratado sobre a questão, o livro de Jó no Velho Testamento é o reconhecimento de que Deus é soberano e que ele está no controle até mesmo com os eventos associados com o sofrimento de Jó. No final do livro quando Jó reconhece que sua visão de Deus tem sido muito pequena, ele responde: "Sei que podes todas as coisas; nenhum dos teus planos pode ser frustrado [Jó 42.2]" [pg 115-120].
Quanto ao cap. 10, não posso deixar de dizer que os assuntos tratados por J. Houghton não é exaustivo nem conclusivo, em virtude de sua complexidade e do tratamento para tão poucas páginas.
A soberania de Deus e a responsabilidade humana já demandaram livros e mais livros; portanto, o seu intuito foi o de deixar clara a crença na soberania divina e na responsabilidade humana, ainda que com uma "pontinha" de paradoxo, de mistério. Mas, talvez, essa não seja a visão real do autor.
De qualquer forma, o livro trata de vários assuntos numa perspectiva bíblica, demonstrando a superioridade de Deus sobre a ciência (o que é natural para qualquer pessoa que tenha os pressupostos verdadeiros) ainda que algumas de suas argumentações e conclusões possam ser questionadas, sem jamais serem desprezadas.
Postar um comentário