Tudo é exploração no mundo de Bourdieu e não há nada que seja mais marxista do que isso. Qual a diferença então na análise reducionista dele? É a de demonstrar como que, em meio a luta entre a classe dominante e a classe dominada, esta contribui não somente para ser explorada, mas, até mesmo, pratica uma autoexploração, aceitando os papéis sociais e encaixando, adaptando o seu ser a esses papeis de sua existência profissional, transformando-o e identificando-o com sua profissão, por exemplo.
Evidentemente, para trazer algo de “inovador” para sua análise marxista, o autor se vale de três estratégias: 1) a extensão da sua crítica, que se dá desde uma reflexão sobre o papel e o objeto da própria sociologia, passando pelos conceitos de história reificada e história incorporada, a definição do conceito de região e o papel desta na construção da identidade, a gênese da luta de classes e o conceito de espaço social, campo político, Direito, anomia e estética; 2) o questionamento crítico do próprio sociólogo-pesquisador; e 3) uma crítica ao próprio marxismo.
“O poder simbólico é, com efeito, esse poder invisível o qual só pode ser exercido com a cumplicidade daqueles que não querem saber que lhe estão sujeitos ou mesmo que o exercem”. O elemento de inconsciência também é importante na análise dele, pois, com sua análise estruturalista, elimina-se não só a vontade do indivíduo, mas também a vontade da instituição coletiva: tudo é uma questão de onde se está, qual a posição que se assume, o habitus, o campo, a região. As forças que regem o mundo não são humanas. São impessoais. “O poder está por toda parte”, para Bourdieu, é necessário saber descobri-lo onde ele se deixa ver menos. Daí a teoria dos símbolos, para Bourdieu, se dá exatamente porque o símbolo encobre o que, de fato, subjaz.
Duas tradições: de um lado, os sistemas simbólicos (arte, religião, língua) como estruturas estruturantes, subjetivas, que é a tradição neokantiana (seja na Europa, Humboldt-Cassirer (aqui, aqui e aqui), seja nos Estados Unidos, Sapir-Whorf, especificadamente na linguagem), segue nesta mesma linha Panofsky e Durkhein. Este, contudo, transforma as formas simbólicas em formas sociais para fugir tanto do apriorismo e como do empirismo. Durkhein estabelece uma sociologia das formas simbólicas não as classificando como transcendentais (elas perdem o status de universais), mas como sociais (isto é, arbitrárias, pertencentes a um grupo particular e socialmente determinadas). Do outro lado, os sistemas simbólicos como estruturas estruturadas, objetivas, que permitirão o funcionamento da análise estrutural como o instrumento metodológico para se entender a lógica específica de cada uma das formas simbólicas, todavia, não a partir de uma leitura alegórica, que transforma o mito em uma outra coisa, mas a partir de uma leitura tautegórica, que “não refere o mito a algo diferente dele mesmo” (veja que se perde a natureza transcendente do símbolo e faz-se uma leitura meramente imanente). Portanto, a tradição estruturalista (Saussure), ao contrário da neokantiana, que insisti no modus operandi das formas simbólicas, isto é, no seu aspecto positivo de instrumento do conhecimento e construção do mundo dos objetos, privilegia o modus operatum, as estruturas estruturadas, os objetos simbólicos – língua ou cultura, vs discurso ou conduta. Ex: a língua, sistema estruturado, ela é fundamentalmente tratada como condição de inteligibilidade da palavra, como intermediário estruturado que se deve construir para se explicar a relação constante entre o som e o sentido (Panofsky fará a distinção, no campo da obra de arte, entre iconologia e iconografia, que é o equivalente exato entre fonologia e fonética).
Pierre Bourdieu, falecido em 2002, é um dos autores mais requisitados na Academia das Ciências Humanas. Ele consegue analisar tanto de sociedades tribais como os cabila no Norte da África, tratando de sociedades que vivem à margem da modernização, abordando temas como aculturação, organização social e familiar, percepção do tempo e do espaço e sua maneira de ver o mundo, até sociedades modernas, aplicando e renovando os conceitos de antropologia, economia e sociologia, usando seu método homólogo de tratar o semelhante em meio às diferenças.
Apesar de todas as tentativas de renovo em Bourdieu, tentando ora se desvencilhar do neokantismo, ora do estruturalismo, buscando uma síntese entre os dois e o marxismo, mas marcando suas insuficiências também, o autor repete as mesmas velhas críticas ao capitalismo e ao cristianismo ainda que sob uma roupagem nova e uma linguagem simbólica.
Para acessar a resenha completa da obra, clique aqui. O blog "Bibliotheca de Semiótica" pretende ser um banco de resenhas para interessados e missionários que trabalham com outras culturas. Assim, é característica da "Bibliotheca" que, durante os resumos dos livros, eu faça comentários sobre as ideias do autor, concordando ou refutando, para que o leitor possa encontrar uma crítica e auxílio para a formação do seu próprio pensamento. Boa leitura!
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