Ray Bradbury
Ed. Globo
"Fahrenheit 451, editado em 1953, pinta um futuro sombrio para a história, quando todos os livros foram proibidos e eram queimados. Atualíssimo e premonitório de nossa época, denuncia como os meios de comunicação, em especial a TV, podem manipular o pensamento e os sentimentos dos telespectadores, criar fatos e gerar guerras" (Sinopse da 4a. Capa).
5 comentários:
O livro é uma antevisão da sociedade atual, imaginada há mais de 50 anos por Bradbury; onde as pessoas são guiadas pela ditadura da mídia, e o próprio Estado encarrega-se de dominá-las intelectualmente, esvaziando-as, e assim, tornando-as felizes e produtivas.
É uma crítica ao controle social por meio da comunicação de massa, em especial a tv, que se encarrega de diluir as emoções e a humanidade das pessoas.
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Ficção científica soft na qual qualquer material literário que não seja produzido pelo Estado (as chamadas "cartilhas" tão em moda no Brasil pelo governo esquerdista de Lula; e que no livro são igualmente imperativas e pouco elucidativas) são considerados proibidos, e destinados à incineração. Fahrenheit 451 é a temperatura na qual o papel entra em combustão.
Ironicamente, os bombeiros são encarregados de "pôr fogo" e incendiar os livros apreendidos ilegalmente. Revela-se a distorção provocada por ideologias totalitárias, as quais recriam e controlam fatos e idéias ao sabor dos seus interesses dominadores.
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O homem está isolado, abandonado, acomodado, esquecido em meio à burocracia, e acaba por perder-se moralmente, está-se deslocado em meio ao caos e a desordem que o Estado meticulosamente arquitetou; e a pergunta é: Pode-se crer no homem? É possível revivê-lo num mundo em que ele é dominado completamente pelo ascetismo intelectual?
Ray quase assemelha o homem a um animal doente, ferido, agonizante em sua (anti)humanidade.
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Montag é um bombeiro. E o mundo começa a se desvendar diante dos seus olhos a partir do momento em que conhece Clarisse no metrô. Para uma sociedade ideologicamente estruturada na ausência de opinião, tê-la e ser crítico é uma postura anti-social, uma ameaça (como ler livros é crime, ter opinião também, especialmente se ela for conflitante com o padrão estabelecido pelo Estado: a ignorância como elemento de paz social - ainda que não se respeitem e a paz seja uma ilusão); Clarisse surge como extravagante e perturbadora para Montag, que se desnorteia com os seus pensamentos "fora do padrão".
Ele se surpreende com o olhar indiscreto com que ela vê o mundo.
Ray acena para Clarisse como o antídoto para aquele mundo caótico e amoral.
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O livro foi escrito com tintas "Noir" ao estilo de Dashiel Hamett, David Goodis e Raymond Chandler, ainda que os tons negros não sejam tão intensos.
Fahrenheit 451 é um romance distópico semelhante a 1984, Admirável Mundo Novo e Laranja Mecânica.
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O olhar indiscreto de Clarisse para com o mundo, é o olhar arrojado, escrutinador, o qual nos leva a observar, deliciar e admirar a obra de Deus; e, sobretudo, para reverenciá-lO por sua estupenda Criação.
No mundo de Fahrenheit 451 os livros são, ainda que parcialmente, a causa do mal social. O homem, portanto, para ser feliz precisa subverter o antigo patrão, abster-se das ideias, da moral, contentando-se em ser feliz à maneira imposta pelo Estado. Como Roma fazia com os seus súditos, o Estado dá ao homem a impressão de felicidade através do extravazar os sentidos; por exemplo: dirigir em alta velocidade, atropelando coelhos, cães e pessoas, é uma forma de extrapolar os sentidos e substituir a consciência pelos impulsos; a tv é chamada de "família", e na impessoalidade das "relações" é que são travados os "conhecimentos", os parentescos, suprimindo as relações humanas tradicionais; tudo com o discurso de que assim é melhor para "todos".
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Montag começa a se questionar e a avaliar a sua vida. E ele busca uma "causa" para viver. Já não lhe basta mais ser como sempre foi, sem contestar mas também sem responder.
Quer o apoio da mulher, mas encontra apenas medo, preconceito e frieza moral.
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Não há como não comparar muito do que Bradbury criou com o que vivenciamos. Há uma censura institucional, formalizada gradativamente por leis que coibem e restringem cada vez mais a liberdade do cidadão, da família e da igreja, não visando protegê-los, mas proteger os interesses ideológicos do Estado e de grupos minoritários.
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Deus está sendo alijado do debate, onde a sanha destruidora marxista se encarregará de trazer,como em Fahrenheit 451, tempos em que o pensamento e a opinião serão crimes punidos severamente. A exemplo do que ocorre em países comunistas, o homem não servirá nem mesmo como estatística.
No livro, as citações sobre Deus são expressões vazias, como velhos ditados que ninguém mais sabe o significado. Como todos os livros, a Bíblia foi expurgada, sobrando os manuais estatais.
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Bradbury descreve um mundo improvável em sua compleitude, não por causa do homem, mas porque Deus, em Sua soberania, jamais o permitirá.
Montag e o dilema: continuar a trabalhar como bombeiro? Entregar todos os livros que amealhou e escondeu por anos? Deixar que se queime o último exemplar da Bíblia?
Enquanto isso, Mildred, sua esposa, clama pelo seu amor para que destrua a biblioteca, e em seus delírios virtuais não tem resposta para a pergunta: o "palhaço branco" e a "família" (os personagens de tv) a amam?
No mundo de Fahrenheit 451 não há lugar para a culpa, para o pecado. Se ele existe, o incinerador ou o incêndio se encarregam dele. A moralidade não tem espaço, e se há um senso moral/ético, ele deve ser destruído. Há apenas a consciência estatal. E Montag sentiu-a na pele, quando ele e os bombeiros, uma noite, pararam com a "salamandra" diante da sua casa.
A justiça do Estado tem de ser imediata, não há tempo para julgamento e burocracia. O "mal" tem de ser extirpado imediatamente para o bem e a sobrevivência do Estado/deus.
Os bombeiros são os investigadores, os juízes, os verdugos, bastando que haja uma denúncia, podendo vir de dentro da própria casa.
A responsabilidade existe com as diretrizes estatais, e Mildred como uma espiã, expõe Montag como um traidor diante da traição consumada por ela, diante da traição dos amigos, diante da traição dos vizinhos; não há compaixão, somente indiferença e um dever a cumprir; e o pecado, evidenciado publicamente, não pode ser soterrado entre as cinzas.
Para o bem do leitor, evitarei comentar mais sobre Fahrenheit 451; creio que as minhas conclusões já são suficientes. Porém, se julgar necessário, farei nova(s) incursões aos comentários, evitando ao máximo expor a narrativa do livro.
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